O suprassumo do Estado Democrático de Direito

1996.

FHC estava em seu 2o ano de mandato, Covas era o governador de São Paulo e Maluf era o prefeito da cidade.

Os primeiros telefones celulares, do tamanho de um tijolo, começavam a circular por aqui, enquanto a Internet era ainda coisa de universidade.

Assistíamos filmes em fitas VHS. Não lembro se havia CDs de música, mas certamente não havia MP4 e muito menos streaming.

Rede Social era aquela que ficava na varanda de casa e onde todo mundo podia tirar um cochilo.1996. Ano em que os proprietários do Fiat Tipo (sim, havia um carro com esse nome) entraram com um processo contra a Fiat.23 anos depois, a Justiça Brasileira chegou ao fim do processo. 23 anos.

E ainda querem nos convencer que chicana jurídica é o supra-sumo do Estado Democrático de Direito.

Crony capitalism em estado puro

O Rota 2030 é aquele programa que dá incentivos fiscais para a indústria automobilística. Está para ser aprovado no Congresso, mas surgiu uma treta de última hora.

O caso é o seguinte: a Fiat produz em Pernambuco, enquanto a Ford produz na Bahia. O senador Armando Monteiro, de Pernambuco, propôs uma emenda que prorroga um determinado benefício ao setor. Mas, segundo a Ford, essa prorrogação beneficia mais a Fiat do que a Ford. Por isso, os parlamentares da Bahia estão contra.

Então, ficamos assim: os parlamentares em Brasília estão decidindo não só quanto vão tungar dos brasileiros para beneficiar os fabricantes de carros, como também qual montadora sai em vantagem. Não consigo pensar em nada mais “crony capitalism” do que isso.

Segundo a reportagem, os incentivos fiscais à indústria automobilística chegarão a US$ 7,2 bilhões em 2019. Isso é cerca de um quarto do que se gasta com Bolsa Família.

Proponho perguntar aos nordestinos se preferem ter um aumento de 25% em seus benefícios ou continuar dando dinheiro para a suposta geração de alguns milhares de empregos em meia dúzia de cidades da região.