Será que é assim tão fácil?

Eu fico me perguntando: se era assim tão fácil, por que não foi feito antes? A resposta a essa pergunta normalmente é: é porque não é assim tão fácil.

Com uma canetada, Lula “resolveu” o problema do Galeão: vai restringir os voos do Santos Dumont a aqueles com origem/destino em Congonhas e Brasília. Para mim, que uso Congonhas, tudo certo. Para os políticos de Brasília, também. Para vocês do resto do Brasil, que lutem.

Jabuti não sobe em árvore. Se há excesso de voos no Santos Dumont e falta no Galeão, algum motivo tem. Normalmente, citam a dificuldade de acesso e a segurança. O fato é que, deixado ao natural, a demanda é pelo Santos Dumont, daí seguindo a oferta. Reduzir a oferta na canetada pode ter uma consequência não intencional: a desistência das pessoas de virem ao Rio. Diante da escolha “Galeão ou nada”, a escolha pode ser “nada”. Isso só saberemos quando a medida for implementada.

Enfim, e voltando ao início, se fosse assim tão fácil alguém já teria feito. Vamos ver as cenas dos próximos capítulos.

O que está acontecendo com o Galeão?

O grande tema do momento no Rio é a perda de passageiros do Galeão. De 4o aeroporto mais movimentado do país em 2019, o aeroporto da Ilha do Governador despencou para a 10a posição em 2022. O que aconteceu?

Li de tudo. Desde “falta de agressividade comercial do concessionário” até a “perda de dinamismo da economia fluminense”. Eduardo Paes, com sua conhecida retórica populista, já prometeu: “não vamos deixar o Galeão morrer!!!”. Como se o Galeão fosse uma necessidade da natureza.

Não sou especialista em aeroportos e malhas aéreas. Apenas analiso números. Tabulei um pouco melhor os dados publicados na matéria dO Globo.

Podemos observar alguns fatos interessantes:

1) Em 2022, o número total de passageiros no Brasil ainda ficou 17,7% abaixo do nível de 2019, pré-pandemia.

2) Guarulhos e Congonhas perderam mais do que a média brasileira nesse período. Isso se explica por…

3) Campinas, que ganhou quase 14% de passageiros entre 2019 e 2022. Portanto, Campinas “canibalizou” Guarulhos e Congonhas. Campinas ganhou proporcionalmente mais passageiros do que o Santos Dumont nesse período.

4) Separando por cidades, e considerando Campinas como parte de São Paulo, temos que o Rio de Janeiro foi, de longe, a cidade que perdeu mais passageiros nesse período: mais de 30%, contra uma média nacional de 17,7%. O restante das cidades ficou ligeiramente melhor ou ligeiramente pior do que a média, com exceção de Recife, que praticamente já recuperou o nível de 2019.

Observando esses números, talvez possamos concluir que não seja um problema somente do Galeão, mas da cidade do Rio de Janeiro. O que aconteceu nesse período? Com a palavra, os cariocas.