Caos no aeroporto

Ontem foi minha vez de enfrentar o caos de Congonhas. O prefeito Bruno Covas conseguiu piorar algo que já era muito ruim.

Mas o culpado último pelo caos deve ser buscado lá atrás, bem mais lá atrás.

Congonhas é um aeroporto acanhado, que está longe de poder suportar o 2o maior tráfego aéreo do Brasil, perdendo somente para Cumbica. Simplesmente não há espaço para todos os passageiros que embarcam e desembarcam todos os dias. Somente um transporte de massas bem estruturado poderia resolver o problema.

Chegamos então no culpado-mor pelo caos, um outro tucano de alta plumagem, que prometeu o monotrilho da linha ouro para a Copa do Mundo. Não de 2018, a de 2014. Este monotrilho um dia ligará Congonhas ao sistema de metrô. Um dia.

Se o autointitulado “gestor” tivesse atrasado a obra em “somente” 4 anos, hoje não estaríamos imprecando contra seu filhote político. Prefeito Bruno Covas, quando você perder a próxima eleição, já sabe de quem é parte da culpa.

Salvando o discurso

Alckmin embarca nas críticas populistas à proposta de reforma da Previdência. Claro, porque como diz Aécio, o PSDB precisa salvar o Brasil, mas também precisa salvar seu discurso.

E que discurso é esse? Se for este populista do Alckmin, que iguala o PSDB ao PSOL, mostra que o PSDB não aprendeu nada com a surra que tomou nas últimas eleições.

Enfim, é o PSDB sendo PSDB.

Guedices

O mercado financeiro era “alckmista” nas eleições porque gosta de ganhar os juros da dívida pública na maciota, segundo Paulo Guedes.

Guedes sabe muito bem que o mercado financeiro era alckmista porque avaliava que Alckmin teria mais convicção e habilidade política para aprovar a reforma da Previdência no Congresso, que é o que realmente vai diminuir a dívida pública no longo prazo. Por enquanto, com suas declarações desastradas e sua falta de foco na reforma, Bolsonaro vai dando razão à Faria Lima. Alckmin teria menos convicção para tocar a agenda de privatizações? Bem, o atual governo já disse que Petrobras, Caixa e Banco do Brasil são imexíveis. E mesmo coisas mais simples, como o IPO da asset do BB, esbarram em “problemas”.

Por enquanto, a agenda liberal do “único governo liberal da história do Brasil” se resume à rodada de concessões de aeroportos, privatização da Eletrobrás e leilão do pré-sal. Toda ela herdada do governo Temer.

O governo tem menos de 100 dias, é verdade, está ainda se organizando, é injusto cobrar alguma coisa. Vamos ver o que Bolsonaro e Guedes entregarão em quatro anos. Guedes sabe que a Faria Lima aplaudirá de pé se conseguirem fazer metade do que prometeram. Mas, para isso, é preciso começar a trabalhar mais e falar menos.

O erro de Alckmin

Quem me acompanha já leu isso aí em algum lugar.

De qualquer forma, olhando com a perspectiva privilegiada de saber tudo o que aconteceu, parece-me que um discurso raivosamente anti-PT na boca de Alckmin soaria falso. Por um único motivo: pareceria tática eleitoral e não algo sincero, vital. O povo sente isso.

Quando Doria surpreendeu o mundo político ao citar Lula em seu primeiro discurso como prefeito, estava claro que ali surgia uma potencial candidatura presidencial. Ninguém nunca havia ouvido Alckmin desancar Lula daquele jeito. Um discurso desses às vésperas da eleição soaria tremendamente artificial.

Então, olhando para trás, o erro não foi da campanha de Alckmin. O erro foi do próprio Alckmin e do PSDB, que escolheram o candidato errado. O sentimento era o antipetismo e João Doria era quem mais autenticamente encarnava esse sentimento dentro do partido. Pode ser que não ganhasse a eleição, pois o PSDB seria um peso difícil demais para carregar. Mas não tenho dúvida de que seria um candidato bem mais difícil do que Alckmin.

Um pouco de otimismo

Bolsonaro propõe a independência do BC, enquanto Haddad volta atrás no plano de “mandato dual” e reafirma a autonomia do BC.

Quem diria que, há somente 4 anos, Marina Silva foi pulverizada na TV por propor a independência do BC, que teria como consequência o desaparecimento da comida da mesa do brasileiro.

O mesmo aconteceu com as privatizações. Há 12 anos, Alckmin foi pulverizado por uma campanha anti-privatização do PT, a ponto de ter a brilhante ideia de vestir o “jaleco das estatais”.

Hoje, Paulo Guedes propõe uma “privatização selvagem” e o PT sequer toca no assunto.

Sai otimismo, sai desse corpo que não te pertence!

A vontade do povo

Onde os analistas políticos erraram, e erraram feio? Na crença de que a máquina política era decisiva em uma eleição de um pais-continente, com mais de 100 milhões de eleitores.

Máquina política significa cabos eleitorais trabalhando pelo candidato nos mais longínquos grotões, além de tempo de TV.

A máquina em torno de Geraldo Alckmin era verdadeiramente portentosa. Tão grande, que praticamente dispensaria uma mensagem. Bastaria “jogar parado”, com um discurso de eficiência administrativa e “anti-extremos”, para que a eleição lhe caísse no colo. Assim pensava o candidato, assim pensavam os analistas, eu incluído. Ainda bem que não vivo disso!

O que acabou acontecendo foi o contrário: a mensagem criou a máquina. Bolsonaro incorporou o anti-petismo e o anti-establishment, a busca por segurança e pelos valores conservadores.

A mensagem criou os votos. Os votos criaram a máquina. Máquina que agora trabalha pela candidatura de Bolsonaro. Doria, Witzel, Zema e tantos outros Brasil afora vão trabalhar pela candidatura Bolsonaro, em um processo que se auto-alimenta.

Nunca o adágio “a vontade do povo é soberana” foi tão verdadeiro.