O jornalismo em que a pauta faz os fatos

Da página de Marcelo Rocha Monteiro

A apresentadora da GloboNews (e renomada jurista!) Aline não sei das quantas (de amarelo na imagem abaixo) “explica” que houve “irregularidades cometidas pelo Judiciário e pelo MP” na prisão de uma moça de nome Jessica, em São Paulo.

Jessica – que estava grávida e pouco tempo depois entrou em trabalho de parto – foi presa em flagrante de tráfico de drogas, juntamente com seu marido. Além das 90 gramas de maconha encontradas com Jessica, a polícia apreendeu mais drogas com o marido da moça – que também foi preso em flagrante – bem como duas espingardas e munição, tudo na casa do simpático casal (fato que a reportagem, curiosamente, omite, mas outros órgãos da imprensa noticiaram)

A indignada Aline destaca que “inclusive uma promotora mulher (sic) que estava grávida foi a favor da prisão de Jessica”. O juiz e a promotora erraram – prossegue a bonita especialista em Direito Processual Penal – porque “por lei (😳) Jessica não poderia ficar na prisão pois preenche todos os requisitos para prisão domiciliar: foi presa com pequena quantidade de drogas, é primária e não integra nenhuma organização criminosa” (talvez apenas uma microempresa familiar armada, mas isso é detalhe…).

A repórter-jurista não teve a gentileza de informar que lei é essa, lei que ela certamente deve ter descoberto num verdadeiro furo de reportagem, já que até professores de Direito que lecionam Processo Penal há décadas (eu, por exemplo) desconhecem sua existência. Obrigado, Aline!

Na sequência, a mesma reportagem informa que “há instalações próprias no sistema prisional de São Paulo para mulheres na situação de Jessica”.

Não ocorreu a nenhum dos brilhantes profissionais envolvidos na confecção da matéria jornalística que há aí uma evidente contradição: se “por lei” mulheres na situação de Jessica não podem ser presas, como então podem existir NO SISTEMA PRISIONAL de São Paulo “instalações próprias para mulheres na situação de Jessica? Seriam prisões clandestinas, onde ficam mulheres que “por lei não poderiam ser presas”?

A GloboNews descobriu “os porões do Alckmin”! 😳😂

Para arrematar o festival de asneiras, não poderia evidentemente faltar a obrigatória entrevista com a “pesquisadora-especialista-ongueira-progressista”, que visivelmente em tom de reclamação comenta que “o crime de tráfico de drogas tem sido muito vigiado”, e como muitas mulheres se dedicam a esse tipo de “relação comercial” (sic), “acabam sendo presas”. Mas que país é esse em que mulheres que praticam crimes acabam sendo presas, meu Deus? Verdadeiramente um absurdo, não acham?

“A Jessica não tinha nenhuma necessidade de ser presa”, prossegue a valente pesquisadora. “Temos que prestar atenção a como funciona a cabeça desses operadores de Justiça – juízes e promotores; a promotora grávida não teve a sensibilidade de perceber aqui que a prisão foi equivocada.”

A prisão em flagrante de uma traficante que tinha drogas, armas e munição na casa em que morava foi “equivocada”.

Precisamos prestar atenção a como funciona a cabeça desses “pesquisadores” e jornalistas.

(matricule-se você também na Faculdade GloboNews de Ciências Jurídicas)🙄😒

Em tempo: como nota positiva, e por uma questão de justiça, quero observar que a apresentadora Aline conjugou corretamente o verbo HAVER quando disse que “HOUVE irregularidades na prisão de Jessica”; o verbo HAVER, no sentido de EXISTIR, não tem plural. Um progresso, portanto, já que cinco minutos antes, comentando as chuvas no Rio, a simpática jornalista dissera que, “apesar de HAVEREM dois mil funcionários da Prefeitura nas ruas, não vejo nenhum deles” nos bairros alagados.

“A gente criticamos”, mas “a gente elogiamos” também… 😉

Triste fim do jornalismo brasileiro.

Empresas muito importantes para o país

Debate na Globo News sobre o afastamento dos vice-presidentes da Caixa.

Indignação de todos.

Um dos jornalistas aponta que isso não pode acontecer com uma empresa tão importante para a economia brasileira. Acenos positivos com a cabeça dos outros participantes do programa.

Assim como eles, a avassaladora maioria dos brasileiros, de todas as idades e níveis de renda, pensa o mesmo: a Caixa é uma empresa muito importante para o Brasil.

O ideal, portanto, seria que as estatais fossem tocadas por técnicos de reputação ilibada, mas que continuassem a implementar a “política social” do governo.

Não percebem a contradição em termos: a “política social” é o que quebra as estatais ao longo do tempo. A roubalheira é apenas um efeito colateral, com alcance limitado. Enquanto a roubalheira desvia milhões, a “política social” faz a estatal sangrar em bilhões. Foi o que aconteceu com a Petrobras e o que está acontecendo com a Caixa agora.

Políticos ladrões ganham as manchetes e inflamam os debates, mas o que acaba com o Brasil mesmo é essa crença de que as estatais são “empresas muito importantes para o país”.

O mito do desencarceramento

Quando vi algumas cenas dessa “reportagem” hoje à tarde, sem som, deduzi que se tratava de mais um capítulo da militância descarada da Globo News em favor dos manos.

Bingo!

Este post trás dados bem interessantes. Vale a leitura!


Da página de Marcelo Rocha Monteiro

Mais um relatório Infopen (relatório de informações sobre o sistema penitenciário) divulgado hoje pelo Ministério da Justiça.

Mais uma enxurrada de inverdades nos comentários das ONGs que fazem campanha pelo desencarceramento de criminosos (ou, como elas gostam de dizer, contra o “encarceramento em massa”); sempre, é claro, contando com os bons préstimos da militância ideológica de setores da mídia.

“O Brasil tem a terceira maior população carcerária do mundo”, diz a apresentadora em tom de alarme.

O Brasil tem a quinta maior população do mundo; não é óbvio que tenhamos mais presos do que Portugal ou Bélgica (10 milhões de habitantes cada), por exemplo?

O único índice que faz sentido é o de número de presos por 100 mil habitantes; estamos abaixo da 30a. posição no ranking mundial.

Outra coisa espantosa em matéria de desinformação é apresentar um gráfico comparando número de presos no Brasil, EUA e Índia sem em momento algum mencionar que, nos EUA, são cometidos anualmente 5 homicídios por 100 mil habitantes; na Índia, são menos de 4. No Brasil são 30 – isso mesmo, TRINTA homicídios por 100 mil habitantes, num total que chegou a 61 mil mortos só em 2016, um índice considerado próprio de países em guerra. Isso para não falar do roubo de cargas, saidinhas de banco, roubo de automóveis etc.

Mas talvez o número de crimes cometidos em um determinado país não seja um dado relevante quando se discute o número de criminosos presos nesse mesmo país, não é verdade?🤔🤔

Seguindo firme na tarefa de desinformar o telespectador, o em geral bom repórter Marcelo Cosme, em momento de rara infelicidade, afirma que “fala-se muito em penas alternativas”, mas elas nunca são aplicadas…😳

As penas alternativas (multa, prestação de serviços à comunidade, etc.) já são aplicadas em mais de 90% dos procedimentos dos juizados especiais criminais; com relação aos presos, de acordo com o próprio Ministério da Justiça, 25% dos internos em nosso sistema carcerário foram presos por roubo (quase sempre à mão armada), 28% por tráfico de drogas (quase todos integrantes de facções criminosas violentíssimas), 10% por homicídio, 3% por latrocínio (roubo com morte), 13% por furto (quase todos reincidentes, pois no furto simples o réu primário tem direito à suspensão do processo), 3% por receptação, 2% por formação de quadrilha…

Quais desses exatamente o repórter acha que mereciam pena alternativa?

A desinformação prossegue com o fingido tom de alarme com que se anuncia que “40% são presos provisórios”, omitindo-se do telespectador que:

1) esse é o mesmo índice de países como Holanda e Itália (sabidamente ditaduras terceiro-mundistas…); na Bélgica o índice é ainda maior;

2) diferentemente de outros países do mundo, onde são classificados como “provisórios” apenas os réus que ainda aguardam julgamento, no Brasil a classificação é estendida para milhares de presos que JÁ foram julgados (e condenados) em primeira instância, mas cujas defesas recorreram da condenação, e portanto aguardam o julgamento do recurso (e depois, do recurso do recurso do recurso etc.).

Mas a medalha de ouro do dia vai para o dirigente de uma tal de “CONECTAS Direitos Humanos”, uma das várias ONGs que combatem o “encarceramento em massa” e defendem os direitos… dos manos. Perguntado pelo repórter se a solução para o problema da superlotação carcerária (problema que inegavelmente existe) seria a construção de novas penitenciárias, o cidadão (morador do país no qual em 92% dos homicídios o assassino não é sequer identificado, que dirá capturado) responde, do alto de sua sabedoria de “especialista”: “Não! A solução é prender MENOS!”

Ano que vem o relatório vai ser divulgado em 1º de abril?

Atualização: sobre o tema, não deixem de assistir ao vídeo do Roberto Motta (link abaixo) 👇https://www.facebook.com/m.rochamonteiro/posts/2411898709035874