Método

Era óbvio que os áudios Bolsonaro-Bebianno iriam aparecer. Não se humilha uma pessoa em praça pública sem troco, se essa pessoa puder dar o troco.

Pode até ter havido quebra de confiança, e os áudios indicam que potencialmente houve sim, com ou sem culpa de Bebianno, pouco importa.

Isso é uma coisa.

Outra coisa é a forma ginasiana como o assunto foi tratado. Qualquer neófito em política sabe como se demite um ministro: primeiro diz que está prestigiado, depois chama o dito-cujo, diz que ele está demitido e combina com o demitido a melhor forma de sair.

Chamar o demissionário de mentiroso em rede social é jogar gasolina na fritura. Uma falta de habilidade política espantosa.

A não ser que…

A não ser que seja método. Um aviso de que todo auxiliar que quebrar a confiança do presidente será pendurado pelado de cabeça para baixo em praça pública.

Bebianno é um personagem absolutamente irrelevante. A República não vai cair com ele. A vida continua. Mas o episódio serviu para mostrar que ou falta a Bolsonaro habilidade política ou o presidente tem um método de tratar auxiliares que pode se voltar contra ele ao longo do tempo. O vazamento dos áudios foi somente uma amostra.

Assim é se assim lhe parece

A última versão do pastelão que se tornou esse affair Bebianno é que Bolsonaro seria absolutamente irredutível quando se trata da lisura de seus auxiliares. Bebianno teria perdido a confiança do presidente por conta do laranjal de candidatos no diretório de Pernambuco.

Assim é se assim lhe parece.

Em primeiro lugar, seria a primeira vez que Bolsonaro estaria dando ouvidos à Folha de São Paulo. Vamos lembrar que a “denúncia” foi da Folha, até ontem uma fábrica de fake news. Deixou de ser?

Em segundo lugar, Ricardo Salles, ministro do meio-ambiente, foi CONDENADO por improbidade administrativa. Está recorrendo, provavelmente vai ser absolvido em 2a instância porque a acusação é fraca, mas vamos combinar que é algo muito mais grave do que uma reportagem da Folha (da Folha!). Salles continua merecendo a confiança do presidente.

Então, quem quiser acreditar que Bolsonaro demitiu Bebianno por “não tolerar corrupção”, que continue acreditando. A mim, me parece mais plausível a versão de que Bebianno ousou desafiar um dos filhos do presidente e se deu mal.

O último apaga a luz

O presidente chamou publicamente de mentiroso um de seus ministros (ok, apenas retuitou, dá no mesmo). O ministro está demitido. Pode até continuar no governo, mas será um morto-vivo.

Mas não foi um ministro qualquer. Foi o seu ministro mais fiel, aquele que certamente daria sua vida pelo presidente.

Os outros auxiliares do presidente devem estar acompanhando o que acontece com alguém que atravessa o caminho de algum dos filhos do presidente.

Vamos ver quantos sobrarão até o fim do mandato.