Reportagem sobre a inadimplência dos 60+. A matéria inicia afirmando que “inflação, juros altos e crescimento econômico fraco” têm obrigado os mais velhos a se endividarem para ajudar os mais jovens. Daí, para ilustrar, a repórter pega o exemplo de um idoso que se endividou porque resolveu construir um imóvel!
Mas, tirando a inadequação do exemplo pretendido, a história está longe de ser incomum: o cidadão toma uma decisão de gasto sem o devido planejamento, e depois culpa “a inflação, os juros altos e o crescimento fraco” pelas suas desventuras. Isso vale para os idosos e para os jovens que os idosos ajudam.
O curioso é que, em determinado ponto da reportagem, o idoso cita o 13o do INSS como a “tábua de salvação” para dar um alívio nas suas dívidas, mas não menciona a possibilidade de vender o terreno que a esposa herdou. Isso é muito comum, as pessoas resistem a se desfazer de patrimônio, enquanto se afundam nos juros do cartão de crédito. Não percebem que adiar a solução do problema só faz piorá-lo. Ficam à espera do “13o salvador”, e não tomam a decisão difícil, mas que resolverá o problema de maneira definitiva.
A inadimplência só muito raramente tem origem em um “acidente de percurso”. E, menos ainda, das condições macroeconômicas do país. Essas condições somente trazem à tona mais rapidamente uma situação, em si, insustentável. Ou é normal a pessoa pegar R$ 50 mil de empréstimos tendo renda de R$ 3 mil? Claro que não é sustentável, independentemente das condições macroeconômicas. Mas é mais fácil culpar a inflação e os juros altos.