A “neoinduatrialização” do governo Lula vai mostrando que não passa do bom e velho protecionismo. Atendendo demanda da ANFAVEA, que candidamente admitiu que, sem alíquotas de importação, seria mais vantajoso continuar importando, o governo irá sobretaxar a importação de veículos elétricos.
Para aqueles preocupados com o meio-ambiente, o ministro da Indústria e vice-presidente Geraldo Alckmin, nos tranquilizou a todos. Afinal, o objetivo é “acelerar a descarbonização da frota no País”. Bem, realmente fica difícil entender como sobretaxar veículos elétricos ajudaria a alcançar esse objetivo.
Aliás, Alckmin acionou o seu gerador aleatório de discursos, e se saiu com essa: “É chegada a hora de o Brasil avançar, ampliando a eficiência energética da frota, aumentando nossa competitividade internacional e impactando positivamente o meio-ambiente e a saúde da população”. Palavras grandiloquentes, apontando um futuro de glória e esplendor. A não ser por um pequeno detalhe: o resultado da taxação aponta para o justo inverso.
O que podemos esperar é que 1) o Brasil vai continuar parado, 2) a eficiência energética da frota vai aumentar em ritmo mais lento, 3) a nossa competitividade internacional continuará estagnada, fruto do protecionismo, 4) os impactos no meio-ambiente e na saúde da população serão negativos.
Enfim, esse é o governo do “mais do mesmo”, insistindo no que não deu certo nas últimas décadas. E, para desgosto dos ambientalistas, um governo que não dá a mínima para o meio-ambiente quando se trata de negócios. Só resta esse discurso mumbo-jumbo do vice-presidente, que só os deslumbrados compram a valor de face.
O tamanho do programa do “carro popular” ficou em R$ 500 milhões para automóveis e R$ 1 bilhão para ônibus e caminhões. O que isso significa?
No caso dos automóveis, considerando um bônus médio de R$ 5 mil, estamos falando de 100 mil carros comprados através do programa. O total de automóveis vendidos em 2022 foi de aproximadamente 2 milhões. Tudo o mais constante, o programa representaria um aumento de 5% nas vendas em relação ao ano passado. No entanto, é preciso separar o que é efeito do programa do que é tendência natural do mercado. Até maio, haviam sido vendidos 750 mil automóveis, 10% a mais do que no mesmo período de 2022. Ou seja, o mercado já estava crescendo 10%. Se chegarmos ao fim do ano com crescimento abaixo de 15% (10% do crescimento natural e 5% do programa) dará para desconfiar da eficácia dos descontos.
A pergunta é: 5% de desconto (R$ 5 mil sobre um preço médio de R$ 100 mil) será suficiente para deslocar a curva de demanda de maneira permanente? Ou, de outra forma, não teremos apenas a antecipação do consumo, assim como tivemos seu atraso à espera do bônus? Um desconto de 5% será o suficiente para atrair o novo comprador, aquele que não estava pensando em trocar de carro any time soon? No meu caso, por exemplo, que estava planejando trocar de carro somente daqui a um ano, a conta é a seguinte: é melhor gastar R$ 95 mil hoje ou deixar esse dinheiro rendendo a, digamos, 10% ao ano, para trocar o carro com R$ 104.500 daqui a um ano? Se o carro aumentar menos de 4,5% em 12 meses, terá sido melhor esperar. De qualquer forma, trata-se de uma antecipação de consumo, não da atração de novos consumidores. Para isso, seria necessário que ocorresse um deslocamento permanente da curva de demanda, fruto, por exemplo, de um aumento de renda da população. Se eu comprar meu carro este ano, estarei subtraindo consumo de 2024, a soma será zero.
Já o programa para ônibus e caminhões tem uma pegada ESG: os beneficiários precisarão sucatear seus veículos usados. Pergunto: quem, com um ônibus ou caminhão em estado de sucateamento, tem dinheiro para comprar um veículo 0km, mesmo com algum desconto? Não conheço esse mercado, mas parece um pouco puxado.
O mais curioso é que quem vai custear esse programa serão os próprios donos de veículos a diesel, que terão o desconto do imposto cancelado antecipadamente. Tira de um bolso e coloca no outro. A não ser, claro, que a Petrobras dê uma mãozinha, e segure o aumento do combustível no peito. Assim, o desconto será pago pela minha, pela sua, pela nossa Petrobras. Enquanto isso, continuam faltando R$ 150 bilhões para que o governo consiga atingir sua meta de resultado primário.
Por fim, esse programa vai em linha com o estilo circo de pulgas desse governo: programas minúsculos anunciados como o maior espetáculo da Terra.
Geraldo Alckmin, o discreto, voltou a aparecer ontem, discursando em um Fórum de Desenvolvimento. Mereceu reportagem de meia página, um recorde nesse mandato.
Alckmin, o silencioso, aproveitou seus 15 minutos de fama para anunciar o anúncio de medidas inéditas e criativas para tirar a indústria brasileira da lama. A principal, ao que parece, serão incentivos à indústria automobilística, ressuscitando o “carro popular”. Agora vai!
Mas é na sua leitura da conjuntura econômica que Alckmin, o guerreiro calado do povo brasileiro, mostra todo o seu brilho, fazendo-nos recordar Romário, que afirmou que Pelé calado era um poeta. Em poucas frases, Alckmin nos faz ter vontade de chamar o rei Juan Carlos, para que dê a bronca que deu em Chavez. Vejamos.
Alckmin, o moderado, começa dizendo que o câmbio a R$ 5 “é um câmbio bom, é competitivo”. Que raios significa isso? O que é um câmbio “competitivo”? Competitivo para quem? Para a Shein? Os exportadores estão contentes? Os importadores? Com esse câmbio a indústria consegue competir nos mercados externos? O que Alckmin quis dizer com isso? A cereja do bolo foi dizer que “não pode ter grandes oscilações”. Como se isso dependesse do governo ou do Banco Central. Enfim, uma frase non-sense do início ao fim.
Em seguida, Alckmin, o comedido, afirma que está otimista de que haverá queda dos juros porque não há “inflação de demanda”. Qual a evidência? “Não há fila para comprar carros ou caminhões”. Para Alckmin, o ponderado, a cesta de consumo da família brasileira é formada 100% por carros e caminhões. Como ninguém está comprando carros e caminhões, então a demanda é zero. Gênio.
Por fim, Alckmin, o reservado, afirma que com “câmbio bom” (o que quer que isso signifique), “juros caindo” (vai esperando), “reforma tributária” (com essa base no Congresso?) e “agenda de competitividade” (sim, com o desmonte do saneamento, reestatização da Eletrobrás, nova política de preços da Petro), o Brasil vai decolar. Gostaria de viver no país de Alckmin, o sensato.
Alckmin, o chuchu, hoje, é menos relevante para os destinos da nação do que Janja. Nos poucos momentos em que aparece, ele nos lembra o por quê.
Itamar Franco fez que fez, que conseguiu a volta da produção do fusca, que era a sua ideia de “carro popular”. Lula quer repetir Itamar, e patrocinar a volta do “carro popular”, um carro mais barato e acessível ao grande público. Só tem um probleminha: assim como o fusca, ninguém quer o “carro popular”.
Hoje o carro de 1.000 cilindradas já conta com benefícios fiscais. E, no entanto, custa os olhos da cara. Algumas ideias passam por reduzir itens de segurança (?!?) ou de proteção ao meio ambiente (?!?). Reduzir ainda mais os impostos nem pensar, dadas as necessidades pantagruélicas de gastos do Estado. Resta o “culpado de sempre”: os juros, que estariam impedindo o financiamento a prazos mais longos.
Só tem um problema com essa ”solução”: baixar a taxa de juros só vai aumentar a demanda sem aumentar a oferta de maneira proporcional. Resultado: aumento de preços. Atingiremos um novo equilíbrio com quase a mesma quantidade vendida e preços mais altos.
Tenho uma solução melhor: derrubar as barreiras para importação, reduzindo os impostos de importação e os subsídios para as montadoras nacionais dentro do programa Rota 2030. Em pouco tempo a oferta iria aumentar e os preços iriam despencar. Resta saber se Lula topa trocar os empregos de seus companheiros metalúrgicos por carros mais baratos para a população. É nessas horas que se vê quais são as verdadeiras prioridades.
Os governos petistas são imbatíveis em termos de propaganda. Fazem do limão uma limonada, é preciso reconhecer. Para isso, contam com a pronta ajuda da preguiçosa imprensa tupiniquim, sempre disposta a servir de assessoria de imprensa para o governo. Já vimos acontecer no caso da “ofensiva diplomática na Ucrânia”. Agora, trata-se da “reabertura da fábrica da Ford em Camaçari”.
Tudo começou com um tuíte do ministro do trabalho, Luís Marinho, sobre quem apostei que seria uma dos mais folclóricos da esplanada de Lula. Acho que vou ganhar a aposta. Seu tuíte diz o seguinte: “Governo @lulaoficial negocia a retomada da FORD na Bahia, com isto, reaquecendo importantes polos industriais do Nordeste”, seguido de um link para uma matéria da Veja. O tuíte teve respostas entusiasmadas, inclusive de um tuiteiro pedindo a volta da fabricação do Ka e do Ecosport.
A matéria da Veja, no entanto, fala de uma “negociação com chineses” para a compra da fábrica. Convenhamos, MUITO diferente de uma “retomada da FORD na Bahia”, como tuitado.
Alguns veículos de imprensa, no entanto, nem se deram ao trabalho de clicar no link.
O Antagonista, por exemplo, repercute a fala de Luiz Marinho: “O ministro do trabalho, Luiz Marinho, afirmou nas redes sociais que o governo Lula negocia a retomada das atividades da fábrica da Ford na Bahia”. Ilustrando a nota, um grande símbolo da Ford.
O UOL, idem: “Ministro diz que governo negocia retomada da fábrica da Ford na Bahia”. Há uma “errata” na matéria, que corrige a chamada, afirmando que se trata da montadora chinesa BYD, em negociação com o governo da Bahia.
Mas a coisa não para por aí. Na verdade, essa montadora chinesa, BYD, já estava em negociação com o governo da Bahia desde, pelo menos, outubro do ano passado, como atesta matéria de um site especializado em veículos elétricos, InsideEVs: “BYD prepara instalação de fábrica de carros elétricos e baterias na Bahia”.
Em novembro, matéria do Estadão confirma: “BYD, marca chinesa de veículos elétricos e baterias, vai produzir no Brasil”.
Ou seja, toda essa festa do ministro é notícia amanhecida.
Você acha que a coisa para por aí? Não!
Em janeiro de 2022, uma outra montadora chinesa de veículos elétricos, a GWM, anunciou a aquisição da planta da Mercedes na cidade paulista de Iracemápolis, segundo matéria do Poder360.
A Infomoney informa, agora em fevereiro, que a fábrica deve lançar o primeiro carro no mercado brasileiro, ainda importado, em março.
Pois bem. Matéria da TV Cultura informa que a GWM “chega” ao Brasil agora em fevereiro de 2023! E liga a notícia com a viagem de Lula à China!
Não foi preciso muito para que tuiteiros petistas repercutissem a matéria, como se a fábrica da GWM (que nem está produzindo nada ainda, vai começar a produzir só em 2024) fosse uma grande conquista do governo Lula.
Dei uma googlada para ver se alguém do governo Bolsonaro, ou o próprio, havia feito alguma festa com o anúncio da compra da fábrica da Mercedes pela GWM, em janeiro do ano passado. Não encontrei nada. Bolsonaro era bem ruim de marketing, como sabemos.
Então, ficamos assim: uma montadora chinesa que já havia comprado uma fábrica no Brasil no ano passado, e outra fábrica chinesa que já estava em tratativas com o governo da Bahia também no ano passado, ambas são conquistas do governo Lula. Assim é se assim lhe parece.
Fiquei espantado com uma reportagem do Valor Econômico de hoje, ao constatar que dos 10 modelos de carros mais vendidos no Brasil no 1o trimestre deste ano, 5 têm valor acima de R$ 100 mil. Modelos como T-Cross e Compass estão entre os 5 mais vendidos, em um ranking que não há muito tempo era dominado pelos modelos básicos.
Fui dar uma olhada nos emplacamentos de veículos zero, estatística mantida pela Fenabrave. Em 2022 foram emplacados 300 mil veículos no 1o trimestre. Em 2021 foram 400 mil e em 2019, nada menos do que 500 mil no mesmo período (pulei 2020 por ser o ano da pandemia). No 1o tri de 2013, pico da série histórica, foram emplacados 660 mil veículos. O fato é um só: o comprador de menor poder aquisitivo foi expulso desse mercado.
O Brasil está fazendo a sua parte para conter os gases de efeito estufa.
O Rota 2030 é aquele programa que dá incentivos fiscais para a indústria automobilística. Está para ser aprovado no Congresso, mas surgiu uma treta de última hora.
O caso é o seguinte: a Fiat produz em Pernambuco, enquanto a Ford produz na Bahia. O senador Armando Monteiro, de Pernambuco, propôs uma emenda que prorroga um determinado benefício ao setor. Mas, segundo a Ford, essa prorrogação beneficia mais a Fiat do que a Ford. Por isso, os parlamentares da Bahia estão contra.
Então, ficamos assim: os parlamentares em Brasília estão decidindo não só quanto vão tungar dos brasileiros para beneficiar os fabricantes de carros, como também qual montadora sai em vantagem. Não consigo pensar em nada mais “crony capitalism” do que isso.
Segundo a reportagem, os incentivos fiscais à indústria automobilística chegarão a US$ 7,2 bilhões em 2019. Isso é cerca de um quarto do que se gasta com Bolsa Família.
Proponho perguntar aos nordestinos se preferem ter um aumento de 25% em seus benefícios ou continuar dando dinheiro para a suposta geração de alguns milhares de empregos em meia dúzia de cidades da região.