Gaia é aqui

Manaus não conta com uma estrada asfaltada sequer que a ligue ao restante do país.

O problema de Manaus é ter sido involuntariamente expulsa do Brasil. Manaus, hoje, está localizada em um país chamado Gaia.

Gaia é um país pitoresco. Tem índios que vivem na idade da pedra, mas contam com antibióticos importados do Brasil. Tem florestas preservadas por ONGs cujos sedes ficam em países que não preservaram suas próprias florestas. E conta com o exército de seu pior inimigo, o Brasil, para cuidar de suas fronteiras.

Exagero?

Um país se organiza em um território, onde os seus habitantes convivem sob um governo comum. No momento em que este governo precisa pedir a anuência dos verdadeiros donos da terra, índios e ONGs, para realizar obras, a soberania foi há muito perdida.

Manaus deu azar. Ficou ilhada no meio de Gaia, o país dos índios e das ONGs.

Mais claro, impossível

Nesta bela matéria, Vinicius Carrasco, professor de economia na PUC-Rio e ex-diretor do BNDES, elenca os motivos pelos quais o investimento em infra-estrutura está muito aquém do necessário em um país com notório déficit nesse quesito. Em resumo:

1) O país está quebrado e não tem dinheiro sequer para Parcerias Público-Privadas.

2) Sobra então o investimento privado. O investidor privado corre riscos (inclusive o risco de ver o seu contrato não cumprido) e a remuneração desses riscos envolve ou subsídios por parte do governo ou tarifas mais elevadas.

3) Os subsídios não são possíveis nem justificáveis. Como o Estado está quebrado, não há espaço para subsídios. E, mesmo que houvesse, alocar recursos públicos para aumentar a remuneração de agentes privados ou para diminuir tarifas dos usuários somente se justificaria se houvesse externalidades positivas. Ou seja, se houvesse benefícios para outros atores que não os investidores ou os usuários. No BNDES, ele ouvia falar muito de “externalidades positivas” mas nunca viu um estudo sequer a respeito.

4) Restam tarifas mais elevadas e, em alguns casos, dolarizadas, pois o investidor é estrangeiro. A greve dos caminhoneiros mostrou que os usuários não estão dispostos a pagar pelo uso da infra-estrutura.

5) Como quem quer pagar (o governo) não pode, e quem pode pagar (o usuário) não quer, o investimento em infra-estrutura tende a ser insuficiente.

Mais claro, impossível.