Popularidade de Lula em queda

O Globo repercute pesquisa IPEC de popularidade de Lula. A manchete compara com o início do mandato de Bolsonaro e com o início dos mandatos anteriores do próprio Lula. A única coisa que não faz é comparar com o número anterior do próprio Lula, de janeiro. E essa é a única comparação que importa.

Em janeiro, o próprio IPEC divulgou pesquisa em que dava 55% de ótimo/bom e 21% de ruim/péssimo para Lula. Aprovação líquida: +34 pontos percentuais. Hoje, o mesmo instituto dá 41% de ótimo/bom e 24% de ruim/péssimo. Aprovação líquida: +17 pontos percentuais, queda de 17 pontos percentuais em dois meses.

É normal que haja queda de aprovação no início do governo. Uma coisa são as expectativas, outra bem diferente é o dia a dia do governo. No início do governo Bolsonaro, pesquisa da XP/Ipespe indicou queda de +20 para +13 pontos percentuais entre janeiro e março de 2019. No entanto, queda de 17 pontos percentuais, como é o caso agora, parece ser acima do normal.

Vamos aguardar as próximas pesquisas de popularidade. Se indicarem quedas adicionais, vamos conhecer o que é populismo de verdade.

A popularidade inicial do governo Lula

Compilei as primeiras pesquisas de popularidade do novo governo. Até onde consegui identificar, foram três pesquisas até o momento: Atlas/Intel, PoderData e IPEC. Os resultados dos dois primeiros são muito diferentes do terceiro, o que não chega a surpreender. A Atlas indica uma popularidade líquida de +3 pontos, o PoderData de +8 e o IPEC de +24. As duas primeiras parecem fazer mais sentido, dada a ainda intensa polarização do país. Mas, para manter a coerência intertemporal da metodologia, calculei, como sempre, a média aritmética das 3 pesquisas, o que acaba por dar mais peso para as duas primeiras, que são mais próximas entre si. O resultado está no gráfico abaixo, com Lula estreando com 15 pontos de popularidade líquida.

Esse nível de popularidade inicial é a menor da série, com exceção de Temer. Bolsonaro começou com 18 pontos, que era a menor popularidade da série à época. O problema, para Lula, é que a coisa é daí para baixo. Com exceção do início do governo Dilma, todos os presidentes, inclusive Lula, tiveram quedas relevantes em sua popularidade nos primeiros meses de mandato, uma vez finda a lua-de-mel. Para piorar a coisa, o mundo tende a ser um lugar inóspito, a economia vai desacelerar, o espaço fiscal é exíguo para grandes pirotecnias.

Estamos ainda nos primeiros minutos do jogo, ainda é muito cedo para fazer prognósticos. Mas uma coisa é certa: Lula tem baixíssima margem de manobra, e ele sabe disso. Não por outro motivo, já começou a procurar bodes expiatórios para colocar a culpa.

Um erro constante também é um acerto

Eu tenho uma esteira ergométrica com defeito. Ela funciona normalmente, mas o visor não marca a velocidade corretamente. Geralmente, eu caminho a 6 km/h, mas o visor marca 4,5 km/h quando eu ando em minha velocidade de cruzeiro. Vou jogar fora a esteira por causa disso? Claro que não. O visor não deixa de ser útil, mesmo marcando errado. Basta saber que há um erro e adotar um “coeficiente de correção”. Assim, quando a velocidade está em 4,5, sei que cheguei a 6,0 km/h. E vida que segue.

Um medidor é bom quando acerta, mas também é bom quando erra de maneira não aleatória. Um medidor que sempre erra para cima ou para baixo de maneira constante é tão bom quanto um medidor que acerta, pois sabemos, uma vez conhecido o erro, quanto devemos corrigir a leitura para chegar na medida correta.

Nesse sentido, as pesquisas do IPEC são úteis. Dado que os seus erros não foram aleatórios na maioria das vezes, basta corrigir o seu resultado para chegar em uma medida mais próxima da realidade. Por exemplo, na véspera do 1o turno, o instituto indicava 14 pontos de diferença entre Lula e Bolsonaro. Como sabemos, a diferença foi de 5 pontos.

Assim, usando uma regrinha de três simples, se a diferença medida pelo mesmo instituto está agora em 9 pontos, podemos estimar a real diferença como algo em torno de 3 a 4 pontos. Aliás, é essa diferença que vem sendo apontada por outros institutos que se aproximaram melhor do resultado final do que o IPEC.

Por fim, há jornalistas, como Maria Cristina Fernandes, do Valor, para quem o erro do IPEC não existiu. Continua analisando os números como se nada tivesse acontecido. O IPEC, assim como o DataFolha, são o “padrão ouro” das pesquisas, e se a medição não bate com a realidade, dane-se a realidade. Seria cômico se não fosse ridículo.