O estilo de Lula

Em regimes fechados, os passos do líder são seguidos de perto em busca de sinais sobre o seu sucessor. Era assim na ditadura militar brasileira, era assim nas ditaduras comunistas do passado e é assim nas ditaduras atuais, como Cuba e Coreia do Norte (vide acima).

A escolha do ministro da Fazenda do governo Lula me faz lembrar essa dinâmica. Em 2014 e 2018, Aécio e Bolsonaro indicaram seus ministros (Armínio Fraga e Paulo Guedes, respectivamente) já durante a campanha, em uma sinalização de que tipo de política econômica se poderia esperar durante os seus mandatos.

Lula, com a sua política “la garantia soy yo”, preferiu não indicar ninguém até o momento. O resultado é uma ”leitura de sinais”, a la Kim Jong Un, por parte dos mercados. Ainda durante a campanha, Mantega escreveu um artigo em nome de Lula, fazendo crescer as especulações em torno de seu nome. Gabriel Galípolo foi outro nome que circulou em função de sua proximidade com o presidente eleito. Haddad foi enviado por Lula a um almoço da Febraban, aumentando suas chances de ser “o escolhido”. E assim vai.

Alguém pode argumentar que esse é o estilo de Lula, e que o ministro da Fazenda será indicado a seu tempo. Ok. Mas essa sensação de estar vivendo em um regime fechado não é nada agradável.

Jogo ganha-ganha

Tenho lido de analistas ainda confusos com o que aconteceu em Cingapura que o grande vencedor do encontro foi o gordinho coreano.

Kim Jong-Un teria sido alçado por Trump a estadista mundial. Trump, por outro lado, estaria desesperado por um acordo (qualquer acordo) que compensasse seus supostos fracassos na arena global, o último deles na cúpula do G7.

O que me faz espécie nesse tipo de análise é a premissa subliminar de que, em uma negociação, um lado sempre sai perdendo. Ou, por outra, que a vantagem de um dos lados sempre se dá às custas da derrota do outro. Ora, como Kim foi o grande vitorioso, então Trump saiu diminuído do encontro.

Essa premissa é bem característica de quem vê no comércio algo vil, sujo. Para essas pessoas, o comércio é sinônimo de expropriação: um lado está sempre levando vantagem sobre o outro. Não se trata de uma troca entre homens livres em busca de seus próprios interesses. Alguém sempre estará sendo enganado.Nessa linha, a privatização vira “entrega” das empresas estatais e empresários viram exploradores da mais-valia.Trump e Kim Jong-Un têm seus próprios interesses e ambos foram vitoriosos à sua maneira. São comerciantes, que viram a oportunidade de uma relação ganha-ganha. Qual exatamente o problema com isso?