Preso ao passado

Eugênio Bucci está desesperado. Já vê despontar no horizonte um regime fascista, que cancelará, entre outras coisas, seu direito a escrever bobagens periodicamente.

Ele chama as “lideranças democráticas” para nos salvar. E quem seriam essas tais “lideranças democráticas”?

FHC, Lula e Ciro.

Ok, pode parar de rir e continuar a ler a minha análise.

Fico me perguntando que tipo de cegueira ou desespero faz uma pessoa inteligente e experiente como Bucci a achar que FHC, Lula e Ciro vão levantar multidões contra o “fascismo”. FHC já não deve liderar nem reunião do condomínio onde mora e Ciro, só se for para liderar um batalhão de retroescavadeiras. Sobra Lula, o único que tem ainda algum apelo popular. Pena que esteja enrolado em outras esferas que não a política.

A propósito, Bucci chama de controversa e açodada as condenações de Lula. Ou seja, ao mesmo tempo que vê o fantasma do fascismo ameaçando as instituições democráticas tupiniquins, coloca em suspeição sentenças emanadas da justiça do país em nada menos que três instâncias diferentes. A justiça é um dos pilares de qualquer Estado democrático, mas Bucci não se incomoda em passar por cima para defender a “democracia”.

Eugênio Bucci, assim como grande parte dos intelectuais de esquerda, está preso ao passado. Desse jeito, Bolsonaro vai continuar no poder por muitos anos.

A benção do Papa

O papa é o representante de Cristo na Terra, o chefe da Igreja Católica, o líder dos católicos. Como tal, deve receber todos os que o buscam. Todos.

Isso é em tese. Como qualquer ser humano, o Papa tem uma agenda limitada. Mesmo que quisesse receber a todos, por razões práticas não conseguiria. Portanto, deve haver uma seleção de quem será recebido.

A agenda pessoal do papa é problema dele. Ele recebe quem quiser. E resolveu receber Lula, em uma “agenda privada”. Ou seja, não como representante de um Estado ou da Igreja. Até aí, tudo bem, o papa tem total discricionariedade sobre os visitantes que recebe.

Isso é uma coisa. Outra coisa é posar para fotos diante do fotógrafo oficial de Lula, Ricardo Stuckert, levado a tiracolo para a audiência papal. Lula foi ao Vaticano em mais um capítulo de sua operação “lava-reputação”. E, sem fotos, teria sido o mesmo que não ter ido. E não foram fotos quaisquer. Ricardo Stuckert é um craque.

Sim, o papa tira fotos ao lado de chefes de Estado quando os recebe. Faz parte do protocolo. Trata-se de um registro oficial. Mas o papa não é (ou pelo menos não deveria ser) ingênuo a ponto de desconhecer o objetivo dessa foto. Não se trata de uma foto protocolar. Ao tomar parte de uma pantomima partidária, o papa assume o risco de afastar da Igreja quem não comunga das mesmas ideias.

Novamente: o papa pode e deve receber quem quiser no Vaticano. Mas tirar uma foto que tem uma inegável conotação política e partidária rebaixa o papel do representante de Cristo.

As prerrogativas do PT

O PT continua em sua busca por um candidato que carregue o peso da sigla na disputa pela prefeitura de São Paulo. Na falta de Haddad, Lula defende uma “novidade”. Hoje, reportagem do Estadão traz a lista de potenciais nomes novos.

Ao lado de figurinhas carimbadas, como Juca Kfouri e Mário Sérgio Cortella, chama a atenção o nome do advogado Marco Aurélio de Carvalho, ninguém mais, ninguém menos, que o coordenador do grupo Prerrogativas. Sim, aquele grupo de WhatsApp que defende as prerrogativas dos corruptos de terem um julgamento ad aeternum, chamando isso de Estado Democrático de Direito. Por que não estou surpreso?

Democracia em vertigem

Mais uma denúncia de propina para o PT. Até aí, nenhuma novidade. O que chama a atenção é a nota do partido, invocando a indicação do “Democracia em Vertigem” para o Oscar na categoria “documentário de ficção”.

Segundo a narrativa, o “golpe” teria sido dado por um conjunto de forças da elite, contrariadas em seus interesses. A classe média, que não estaria aguentando mais pobre viajando de avião e entrando na faculdade, saiu às ruas vestindo uniformes da CBF para pedir a cabeça da presidenta que estava dando continuidade a um projeto popular e progressista. Os políticos, sentindo o cheiro de sangue, não demoraram a se organizar para tomar o poder à força. O povo, este não foi consultado.

Bem, essa narrativa foi colocada à prova em 2018. Através de um salto duplo mortal carpado constitucional, a dupla Lewandovsky/Calheiros não retirou os direitos políticos de Dilma. O PT teve, portanto, a oportunidade de indicar Dilma como sua candidata à presidência. Não o fez. Por que? Se o povo estava ao lado da presidenta, nada mais natural do que indicá-la para disputar o cargo do qual foi injustamente deposta. Não, o PT preferiu indicá-la para o Senado por MG. Chegou em 4o lugar, no mesmo Estado em que havia derrotado Aécio Neves 4 anos antes. O povo falou pelas urnas.

Ainda não acabou. O PT disputou as eleições de 2018. Apesar de não poder votar em sua bem-amada presidenta, o povo ainda assim podia votar no partido que sofreu o “golpe” e, assim, retomar o projeto “popular e progressista”. No entanto, o PT perdeu para um obscuro e tosco deputado do baixo clero, que fez uma campanha caseira, sem nenhum apoio político relevante, e depois de dois anos de um governo anti-popular, que tirou os “direitos” do povo.“

Ah, mas se fosse Lula o candidato, a história teria sido diferente. A prisão do Lula faz parte do golpe”

Eu particularmente acho que Bolsonaro venceria Lula também, mas isso é só um achismo. O que importa aqui é que a narrativa do golpe não para em pé. Quer dizer então que Dilma foi apeada do poder contra a vontade do povo, mas o tal projeto “popular e progressista” só é reconhecido pelo povo quando é Lula o candidato? Que raio de projeto é esse, ao qual o povo supostamente beneficiado dá as costas? O raciocínio não fecha.

O que Petra Costa não acaba de entender é que, em uma democracia representativa, o povo é representado pelos deputados e senadores, que têm o poder de depor o presidente através de um processo chamado impeachment. Que é um processo político, não jurídico. Petra, assim como seus colegas do PT, convive mal com essa ideia. Democracia, para eles, é a comunicação direta do Partido popular com o povo, como se dá em Cuba e, agora, na Venezuela. Não à toa, Lula e o PT resolveram comprar o Congresso ao invés de negociar.

Se tem algum culpado pela eleição de Bolsonaro é essa elite representada por Petra Costa, que fechou e continua fechando os olhos ao atentado à democracia que representou o PT no poder. Ninguém mais do que o PT trabalhou para desmoralizar a classe política, que é coluna vertebral de qualquer democracia. Bolsonaro foi apenas a resposta óbvia a esse estado de coisas. Democracia em vertigem foi uma construção do PT.

Caetano é para poucos

Dá pra assistir a um show do Caetano Veloso?

Não, não dá.

Faço questão de assistir a um show do Caetano Veloso?

Não, não faço.

Se alguém me pagasse 100 milhões de dólares para assistir a um show do Caetano Veloso, eu assistiria?

A pobreza é uma virtude.

Um pote assim de mágoas

Palavras de Ciro Gomes, um pote até aqui de mágoas.

Palavras que descrevem Lula melhor do que qualquer discurso de seus adversários tradicionais.

Palavras que devem ser guardadas e lembradas quando Ciro Gomes enfiar o rabo entre as pernas e aceitar fazer aliança com Lula novamente.