Parabéns, Lula!

“Tenho consciência de que fizemos o melhor para o Brasil e para o nosso povo, mas sei que isso contrariou interesses poderosos dentro e fora do País. Por isso tentam destruir nossa imagem, reescrever a história, apagar a memória do povo. Mas não vão conseguir.”

Dizem que esta carta, divulgada ontem, é do Lula. Duvido. Deve ter sido fabricada pela campanha do Bolsonaro, só pode ser.

A 5 dias das eleições, quando Haddad já conseguia começar a convencer de que ele era um “novo PT”, mudando trechos relevantes do programa de governo e ensaiando um incipiente mea culpa, vem essa carta lembrando o que Lula e o PT são: um conjunto de mistificações e uma eterna luta entre “nós e eles”. Hoje é o fascista Bolsonaro, ontem era o neoliberal PSDB, todos inimigos do povo.

Não tem nada melhor que Bolsonaro pudesse ter feito para inflamar a sua militância e afastar a possibilidade de uma “frente democrática”. Parabéns, Lula!

O verdadeiro mal

Vou correr o risco de atrair a ira dos bolsonaristas mais fanáticos com este post. Mas acreditem, é para o seu próprio bem.

Bolsonaro é um nada. Trata-se de um oportunista que soube surfar na onda, esta sim relevante, do anti-petismo.

Colocar Bolsonaro no mesmo patamar de Lula é um artifício que só interessa ao PT. Lula é o político brasileiro mais importante desde Getúlio Vargas. Raros políticos na história brasileira moldaram o país como Lula o fez nos últimos 30 anos. Bolsonaro não passa de um obscuro deputado do baixo clero que, repito, soube surfar a onda da insatisfação popular com tudo o que o lulopetismo representa.

Por que estou dizendo isso? Porque acho ridícula toda essa campanha sobre “democracia”, “ameaça às liberdades” e coisas semelhantes, que colocam Bolsonaro como o líder de um movimento consistente da política brasileira, o exato contraponto de Lula. No máximo, podemos dizer que Bolsonaro nos remete a acontecimentos de 50 anos atrás, por mera semelhança de discurso. E só. As circunstâncias são completamente outras, o mundo é completamente outro. A única força política que realmente molda a realidade atual chama-se lulopetismo.

Bolsonaro é um espantalho útil. Amedronta as almas mais sensíveis com histórias de bicho-papão, quando o verdadeiro bicho-papão, aquele que transformou a vida do brasileiro em um inferno de violência, desemprego, corrupção, aparelhamento do Estado, incompetência e arroubos autoritários chama-se lulopetismo.

Os principais representantes da esquerda não caíram nessa. Ciro foi viajar. FHC mandou o PT para o inferno. Marina demorou duas semanas para, mesmo assim, declarar seu “apoio crítico”. Pode até ser que Ciro e FHC declarem finalmente o seu “apoio crítico” ao petista nesta última semana da campanha. Se isso acontecer, será apenas protocolar, sem o real desejo de se engajar na campanha. Eles sabem com quem estão lidando.

Empate no Z4

“Um cabo e um soldado fecham o STF” – Bolsonaro, Eduardo

“Tem que fechar o STF” – Damous, Wadih

“Um grande acordo, com STF, com tudo” – Jucá, Romero

“Nós temos um STF acovardado” – Lula da Silva, Luís Inácio

No campeonato de desrespeito às instituições, tá dando empate no Z4.

Lula está na cadeia, babaca!

Lula está na cadeia, babaca!

Lula is in the jail, asshole!

¡Lula está en la cárcel, estúpido!

Lula est en prison, connard!

Lula è in prigione, stronzo!

Lula ist im gefängnis, arschloch!

Lula är i fängelse, rumpa!

Lula zit in de gevangenis, klootzak!

Lula hapiste, pislik!

Lula er i fængsel, røvhul!

Lula jest w więzieniu, dupku!

Aiaʻo Lula i loko o ka hale paʻahao!

Lula vincula est, culus!

Лула в тюрьме, мудак!

Ο Λούλα βρίσκεται στη φυλακή, μαλάκα!

ルーラは刑務所にいます、お尻!

卢拉在监狱里,混蛋!

לולה בכלא, אידיוט

!لولا في السجن ، الأحمق!

Bolsonaro é fruto da esquerda

Da página de Gustavo Bertoche.

De onde surgiu o Bolsonaro?

Desculpem os amigos, mas não é de um “machismo”, de uma “homofobia” ou de um “racismo” do brasileiro. A imensa maioria dos eleitores do candidato do PSL não é machista, racista, homofóbica nem defende a tortura. A maioria deles nem mesmo é bolsonarista.

O Bolsonaro surgiu daqui mesmo, do campo das esquerdas. Surgiu da nossa incapacidade de fazer a necessária autocrítica. Surgiu da recusa em conversar com o outro lado. Surgiu da insistência na ação estratégica em detrimento da ação comunicativa, o que nos levou a demonizar, sem tentar compreender, os que pensam e sentem de modo diferente.

É, inclusive, o que estamos fazendo agora. O meu Facebook e o meu WhatsApp estão cheios de ataques aos “fascistas”, àqueles que têm “mãos cheias de sangue”, que são “machistas”, “homofóbicos”, “racistas”. Só que o eleitor médio do Bolsonaro não é nada disso nem se identifica com essas pechas. As mulheres votaram mais no Bolsonaro do que no Haddad. Os negros votaram mais no Bolsonaro do que no Haddad. Uma quantidade enorme de gays votou no Bolsonaro.

Amigos, estamos errando o alvo. O problema não é o eleitor do Bolsonaro. Somos nós, do grande campo das esquerdas.O eleitor não votou no Bolsonaro PORQUE ele disse coisas detestáveis. Ele votou no Bolsonaro APESAR disso.

O voto no Bolsonaro, não nos iludamos, não foi o voto na direita: foi o voto anti-esquerda, foi o voto anti-sistema, foi o voto anti-corrupção. Na cabeça de muita gente (aqui e nos EUA, nas últimas eleições), o sistema, a corrupção e a esquerda estão ligados. O voto deles aqui foi o mesmo voto que elegeu o Trump lá. E os pecados da esquerda de lá são os pecados da esquerda daqui.

O Bolsonaro teve os votos que teve porque nós evitamos, a todo custo, olhar para os nossos erros e mudar a forma de fazer política. Ficamos presos a nomes intocáveis, mesmo quando demonstraram sua falibilidade. Adotamos o método mais podre de conquistar maioria no congresso e nas assembleias legislativas, por termos preferido o poder à virtude. Corrompemos os veículos de mídia com anúncios de empresas estatais até o ponto em que eles passaram a depender do Estado. E expulsamos, ou levamos ao ostracismo, todas as vozes críticas dentro da esquerda.

O que fizemos com o Cristóvão Buarque?

O que fizemos com o Gabeira?

O que fizemos com a Marina?

O que fizemos com o Hélio Bicudo?

O que fizemos com tantos outros menores do que eles?

Os que não concordavam com a nossa vaca sagrada, os que criticavam os métodos das cúpulas partidárias, foram calados ou tiveram que abandonar a esquerda para continuar tendo voz.

Enquanto isso, enganávamo-nos com os sucessos eleitorais, e nos tornamos um movimento da elite política. Perdemos a capacidade de nos comunicar com o povo, com as classes médias, com o cidadão que trabalha 10h por dia, e passamos a nos iludir com a crença na ideia de que toda mobilização popular deve ser estruturada de cima para baixo.

A própria decisão de lançar o Lula e o Haddad como candidatos mostra que não aprendemos nada com nossos erros – ou, o que é pior, que nem percebemos que estamos errando, e colocamos a culpa nos outros. Onde estão as convenções partidárias lindas dos anos 80? Onde estão as correntes e tendências lançando contra-pré-candidatos? Onde estão os debates internos? Quando foi que o partido passou a ter um dono?

Em suma: as esquerdas envelheceram, enriqueceram e se esqueceram de suas origens.

O que nos restou foi a criação de slogans que repetimos e repetimos até que passamos a acreditar neles. Só que esses slogans não pegam no povo, porque não correspondem ao que o povo vivencia. Não adianta chamar o eleitor do Bolsonaro de racista, quando esse eleitor é negro e decidiu que não vota nunca mais no PT. Não adianta falar que mulher não vota no Bolsonaro para a mulher que decidiu não votar no PT de jeito nenhum.

Não, amigos, o Brasil não tem 47% de machistas, homofóbicos e racistas. Nós chamarmos os eleitores do Bolsonaro disso tudo não vai resolver nada, porque o xingamento não vai pegar. O eleitor médio do cara não é nada disso. Ele só não quer mais que o país seja governado por um partido que tem um dono.

E não, não está havendo uma disputa entre barbárie e civilização. O bárbaro não disputa eleições. (Ah, o Hitler disputou etc. Você já leu o Mein Kampf? Eu já. Está tudo lá, já em 1925. Desculpe, amigo, mas piadas e frases imbecis NÃO SÃO o Mein Kampf. Onde está a sua capacidade hermenêutica?).

Está havendo uma onda Bolsonaro, mas poderia ser uma onda de qualquer outro candidato anti-PT. Eu suspeito que o Bolsonaro só surfa nessa onda sozinho porque é o mais antipetista de todos.

E a culpa dessa onda ter surgido é nossa, exclusivamente nossa. Não somente é nossa, como continuará sendo até que consigamos fazer uma verdadeira autocrítica e trazer de volta para nosso campo (e para os nossos partidos) uma prática verdadeiramente democrática, que é algo que perdemos há mais de vinte anos. Falamos tanto na defesa da democracia, mas não praticamos a democracia em nossa própria casa. Será que nós esquecemos o seu significado e transformamos também a democracia em um mero slogan político, em que o que é nosso é automaticamente democrático e o que é do outro é automaticamente fascista?

É hora de utilizar menos as vísceras e mais o cérebro, amigos. E slogans falam à bile, não à razão.

Um eterno déjà vu

Estes são trechos de um jornal 8 dias depois do 1o turno das eleições de 1989.

Leonel Brizola havia sugerido que Lula desistisse da vaga no 2o turno em favor de Covas, pois seria o único capaz de vencer Collor.

O deputado César Maia defendia a formação de uma “frente democrática” de partidos progressistas para vencer Collor.

Brizola lembrava que Collor era o herdeiro do golpe de 64 e, portanto, não podia chegar ao poder.

A política brasileira é um eterno déjà vu.

Boa sorte Lula!

Haddad foi Lula para conquistar aquela parte dos brasileiros que acha que o presidiário de Curitiba está sendo injustiçado ou para aquela outra parte para quem tanto faz, todos roubam, mas pelo menos esse faz bolsa família.

Agora, Haddad precisa convencer o restante dos brasileiros (a maioria), que não acham normal ter um presidiário como eminência parda da República, de que ele não é Lula, é Haddad.

Boa sorte Lula! Quer dizer, Haddad!

Alea jacta est

Da página de Eduardo Affonso

Amanhã vou tirar um sábado sabático e não falar nem pensar em política.

A menos que vaze a delação do Marcos Valério, o Haddad adquira vida própria ou o Mourão dê mais um tiro no pé, nada haverá a dizer, e tudo já terá sido dito por quem entende melhor de pesquisas e tendências ou tem trânsito nos bastidores (o FB comprovou que deixamos de ser 200 milhões de técnicos de futebol para nos tornar 200 milhões de analistas políticos).

Mas lembra quando a professora mandava, ao término da leitura de um livro, fazer o “fichamento”? Vamulá.

1.

“Nem quem ganhar nem quem perder vai ganhar nem perder.” Sábias palavras. O grande vencedor desta eleição, mesmo perdendo, será o Lula.

Trancafiado na carceragem da Polícia Federal, ele fez (impunemente) propaganda irregular no rádio e na televisão, campanha no New York Times, comício no Le Monde, e só não ligou o megafone na Folha de São Paulo porque o Fux puxou o fio da tomada.

Cravou dois postes, um no PT e outro no PSOL; furou o olho do ex-atual-futuro aliado do PDT; escolheu (e conseguiu, com o PSL) o adversário dos seus sonhos para levar ao (possível) segundo turno.

Se seu avatar vencer, Lula vai obsedar a política brasileira pelos próximos quatro – ou quarenta – anos, cravar uma estaca no coração da Lava-Jato e terminar o serviço do petrolão. Se perder, seu partido voltará a ser a baliza ética na nação, o bastião da moralidade pública, o bote salva-vidas dos valores mais puros – além da vanguarda na luta contra o “fascismo”.

2.

Bolsonaro corre o risco de ser eleito não pela direita, mas pelo avesso. Mais que pelo voto útil ou ideológico, pelo voto vingança.

É o sujeito errado, na hora errada, com as concepções de mundo erradas, mas o universo parece conspirar a seu favor.

Se parar de defender torturador e de bater boca com as minorias, pode ser que tenhamos a chance de ver que o conservadorismo não é nenhum bicho papão, e, sim, um contraponto necessário. E que (clichê dos clichês) a alternância no poder é saudável à democracia.

3.

O grande derrotado (além do bom senso) é o PSDB. Alckmin tinha todo o tempo do mundo no horário eleitoral e o maior arco de alianças. De bônus, a melhor vice disponível no mercado. Faltou combinar com os russos.

4.

Ciro foi o bronco de sempre.

E ainda vai se prestar ao papel da noiva abandonada no altar que engole o choro e topa ser a amante.

5.

O Troféu Abacaxi vai para Marina, que largou bem e depois foi ladeira abaixo.

Pena.

Teria sido (sem trocadilho) uma alternativa.

6. O melhor desempenho foi o do João Amoêdo. Num partido novo (com trocadilho), sem verba pública e sem poder participar dos debates na televisão, conseguiu superar Meirelles (MDB) e Álvaro Dias (Podemos), e encostar em Marina (Rede).

Em 2022 (toc toc toc), tudo vai ser diferente.

7.

Cabo Daciolo foi a revelação (divina), e a nação repreendida sentirá falta do alívio cômico que ele proporcionou nesta novela de suspenses, traições, facadas e notícias falsas.#gloriaadeuxxx

8.

Por fim, esta foi uma eleição que ignorou (à exceção de um) todos os ex-presidentes vivos (ou mortos-vivos).

Ninguém deu a menor pelota para Sarney, Collor, FHC, Dilma ou Temer (que já é ex-presidente há algum tempo, e não sabe).

Se isso é bom ou ruim, não faço ideia. Só é um consolo imaginar que daqui a quatro anos talvez olhemos para trás e vejamos que este apocalipse de domingo que vem não foi o fim do mundo.

Bom fim de semana, boa eleição e “alea jacta est” (“agora Inês é morta”, em latim).

O Brasil no panteão dos países civilizados

Estava agora assistindo a uma entrevista na Bloomberg. O assunto eram as eleições no Brasil.

A entrevistadora fazia perguntas a dois analistas, um brasileiro (dava para perceber pelo sotaque) e o outro gringo.

A certa altura, o brasileiro (que era o mais otimista sobre oportunidades de investimento no Brasil), citou o avanço do combate à corrupção como um ponto positivo, sendo que o símbolo seria o fato de termos um ex-presidente preso.

Quando o entrevistado citou o presidiário de Curitiba, a entrevistadora (a loira da foto) fez um sim com a cabeça que quase a fez cair da cadeira, daqueles que não deixam margem a qualquer dúvida. Como se não pudesse haver argumento mais forte para provar o sucesso no combate à corrupção.

Quando eu ouço de gente boa que “não havia provas” para condenar Lula, me pergunto se estivéssemos nos EUA, um presidente que ganha duas cozinhas Kitchen no valor de R$150 mil de uma empreiteira com interesses em obras públicas estaria solto por aí.

“Ah, mas não dá pra ligar uma coisa à outra”. Sério? Sério mesmo? Sérgio Moro se esforçou para fazer essa ligação em uma sentença de mais de 200 páginas. Os três desembargadores do TRF4 acham que ele teve sucesso na empreitada. Eu li e analisei a sentença nessa página. Se aquilo não era suficiente para condenar o molusco, então o crime de corrupção da alta administração da República é inimputável, por ser impossível de ser provado.

É óbvio que nos EUA Lula já estaria em cana comum. Por isso, o gringo (no caso, a gringa) concordou enfaticamente com a “prova” de que no Brasil se combate à corrupção.

O Brasil é devedor de Sérgio Moro pela única evidência que nos coloca entre os países civilizados do mundo.