Erguendo o poste

A pesquisa de ontem do Ibope indicava que 28% dos eleitores de Lula votariam com certeza em um candidato indicado por Lula.

Na pesquisa de hoje do DataFolha, este número é de 31%.

Como Lula está com 37%-39% nas duas pesquisas, o potencial inicial de Haddad é de 10,4% a 12,1%, o que não seria suficiente para colocá-lo no 2o turno.

Já os que “talvez votem no candidato indicado por Lula” totalizam 22% no Ibope e 18% no DataFolha. Digamos que a propaganda do PT consiga converter metade desse contingente. Isso dá de 3,3% a 4,3% adicionais.

Ou seja, fazendo uma conta de padaria, Haddad sai com um potencial de 13,7% a 16,4%. Marina está com 16% no DataFolha e 12% no Ibope.

A questão que se coloca é: a propaganda do PT será eficiente para aumentar esse potencial? O PT tem dois desafios: fazer Haddad (ou o Andrade) conhecido e ligá-lo a Lula. Isso em menos de um mês.

O mercado ontem piorou por que já considera que o PT está no 2o turno. Eu continuo achando que os asseclas de Lula vão ter muito trabalho pra erguer esse poste.

Transferência de votos muito difícil

Uma das grandes incógnitas desta eleição é o poder de transferência de votos de Lula para o seu poste.

Lula conseguiu fazer isto em 2010. Dilma, uma completa desconhecida até um ano antes das eleições, foi ungida e levada à vitória por seu padrinho. Convém relembrar como foi esse processo.

– Em junho/2005 (portanto, mais de 5 anos antes da eleição de 2010), Dilma assume a cadeira de ministra da Casa Civil, que pertencia a José Dirceu. A partir de então, começa a ganhar visibilidade no mundo político.

– Em março/2008 (2 anos e meio antes das eleições), Lula lança Dilma como a “mãe do PAC”, o mote que usará na campanha.

– Em setembro/2008, mais de dois anos antes das eleições, em pesquisa CNT/Sensus, Dilma já aparece com 8% das intenções de voto, contra 38% de Serra.

– Em maio/2010, 5 meses antes das eleições, Dilma empata com Serra nas intenções de voto.

– Em outubro/2010, Dilma vence as eleições no 2o turno, contra Serra, por 56% a 44%.

Então, vejamos:

– Dilma foi preparada como o “poste” de Lula durante mais de 5 anos, em uma construção lapidada dia a dia.

– o governo Lula chegou, no final de 2010, a 89% de aprovação, recorde mundial de popularidade de todos os tempos- a economia crescia a 7,5%- e, last but not least, Lula tinha a caneta na mão.

Hoje, temos um quadro um pouco diferente:

– Faltando pouco mais de um mês para as eleições, Haddad ainda não foi lançado candidato.

– Na pesquisa mais recente, Haddad aparece com 4% das intenções de voto.

– O último cargo público de Haddad, que lhe deu alguma visibilidade, foi o de prefeito de São Paulo, há pouco menos de 2 anos. Vale lembrar que perdeu a reeleição ainda no 1o turno.

– Haddad foi ministro da educação de Lula há longínquos 8 anos. A única coisa de que consigo lembrar foram as lambanças no ENEM (convenhamos, menos glamouroso que o PAC).

– o PT não tem a máquina federal na mão.

– o PT conta com 256 prefeituras. Em 2010, eram 558 prefeituras.

– o vice de Dilma era Michel Temer, com toda a máquina do PMDB. O vice de Haddad é Manuela D’Ávila.

– Em 2010, Lula era presidente do Brasil. Hoje, Lula está preso e incomunicável.

Claro, tudo sempre pode acontecer. Mas vamos convir que essa transferência de votos parece muito, mas muito mais complicada agora. O fantasma do Lula todo-poderoso, aquela entidade que domina a política brasileira com sua popularidade à prova de bala, parece turvar o discernimento dos analistas. Fala-se de transferência de votos como uma varinha mágica, em que Lula-Midas transforma em ouro até um monte de josta.

Lula gastou muita sola de sapato, planejou muito bem cada passo, para transformar seu poste em presidenta da república. Claramente não é o caso de Haddad, um tapa-buraco de última hora, apenas para marcar a posição do partido. Repito: tudo pode acontecer. Mas uma eventual ida de Haddad ao 2o turno seria uma grande surpresa, inclusive para Lula.

Direito dos Manos

Sempre achei que um candidato presidiário fosse uma jabuticaba brasileira. Ou, no máximo, coisa de país com democracia subdesenvolvida.

Mas não é que a ONU resolveu endossar a candidatura penitenciária? A ONU não, o Comitê de Direitos Humanos da ONU.

Concluo que Direito dos Manos é igual no mundo inteiro, só muda de endereço.

Os brasileiros merecem o Brasil

Pesquisa da XP acaba de ser publicada.

– Haddad apoiado por Lula está no 2o turno com Bolsonaro

– 40% dos entrevistados acham que Lula vai concorrer e 28% acham que ele ganha as eleições.

– 44% dos pesquisados acham que Lula deveria concorrer.

Os brasileiros merecem o Brasil.

O STF que elege Bolsonaro

Ontem, a trinca Gilmar, Toffoli e Lewandovsky fatiou mais um pouco as delações da Odebrecht contra Lula, tirando de Moro as menções, por exemplo, ao “departamento de operações estruturadas” da empreiteira. A coisa foi tão descarada, que fez renascer a esperança do advogado do presidiário de Curitiba.

Depois não sabem porque Bolsonaro não derrete nas pesquisas.