Um estranho conceito de democracia

Maria Cristina Fernandes é a pena do PT no Valor Econômico. Hoje, por exemplo, defende a injunção que o governo Lula fez junto ao STF para ganhar os votos que perdeu no Conselho da Eletrobrás durante o processo de privatização.

Para quem não se recorda, a capitalização da Eletrobrás no ano passado só foi possível porque se limitou a 10% o poder de voto de qualquer acionista no Conselho. Como o governo ainda tem 40% das ações, o governo Lula pretende recuperar o poder de voto proporcional a esses 40%. Na prática, isso significa uma reestatização da empresa.

A operação só foi possível porque houve essa limitação. Se não houvesse, a empresa não estaria hoje capitalizada e pronta para investir. Se essa tentativa do governo prosperar, isso significará uma quebra de contrato, pois os investidores somente toparam capitalizar uma empresa que não tivesse a influência do governo, ainda mais de um governo do PT. Em linguagem popular, baterão a carteira dos investidores: o governo retomará uma empresa capitalizada, que não estaria capitalizada se os investidores soubessem de antemão que seriam sócios minoritários do governo.

Mas, pior do que a mão grande, são as justificativas desfiladas pela jornalista. Em primeiro lugar, afirma que, se houver problemas, a empresa vai pedir penico para o governo. Digamos que seja verdade, o que está longe de ser provável. E daí? Se for o caso, o governo determinará as condições para qualquer ajuda. Inclusive, reestatizar, se for o caso. Agora, vamos reestatizar hoje porque, no futuro, a empresa pode pedir ajuda ao governo. Tenha santa paciência.

Depois, a jornalista faz um paralelo estapafúrdio entre a Eletrobrás e o caso Americanas. O STF estaria sendo chamado a evitar que aconteça algo semelhante com a Eletrobrás. Oi? O que tem a ver o c com as calças? Quer dizer que a Eletrobrás, nas mãos do governo (do PT!) não vai ter nenhuma fraude? Faça-me o favor.

Mas é o terceiro ponto que mais nos interessa aqui, nesses tempos estranhos. A jornalista afirma que a privatização da Eletrobrás se deu “no período em que mais se afrontou a democracia, e não ficou imune a isso”. Ou seja, Maria Cristina Fernandes parece estar sugerindo que decisões do Congresso durante o governo Bolsonaro carecem de legitimidade, pois foram feitas durante um período, digamos, de déficit democrático. Nesse sentido, podemos revisar todas as leis aprovadas durante o governo Bolsonaro, pois não vivíamos em uma democracia legítima. Esse é o tipo de entendimento sobre democracia que nossos democratas defendem. Faz sentido, dentro do contexto. Afinal, democracia só existe de verdade quando minhas ideias prevalecem.

Um erro constante também é um acerto

Eu tenho uma esteira ergométrica com defeito. Ela funciona normalmente, mas o visor não marca a velocidade corretamente. Geralmente, eu caminho a 6 km/h, mas o visor marca 4,5 km/h quando eu ando em minha velocidade de cruzeiro. Vou jogar fora a esteira por causa disso? Claro que não. O visor não deixa de ser útil, mesmo marcando errado. Basta saber que há um erro e adotar um “coeficiente de correção”. Assim, quando a velocidade está em 4,5, sei que cheguei a 6,0 km/h. E vida que segue.

Um medidor é bom quando acerta, mas também é bom quando erra de maneira não aleatória. Um medidor que sempre erra para cima ou para baixo de maneira constante é tão bom quanto um medidor que acerta, pois sabemos, uma vez conhecido o erro, quanto devemos corrigir a leitura para chegar na medida correta.

Nesse sentido, as pesquisas do IPEC são úteis. Dado que os seus erros não foram aleatórios na maioria das vezes, basta corrigir o seu resultado para chegar em uma medida mais próxima da realidade. Por exemplo, na véspera do 1o turno, o instituto indicava 14 pontos de diferença entre Lula e Bolsonaro. Como sabemos, a diferença foi de 5 pontos.

Assim, usando uma regrinha de três simples, se a diferença medida pelo mesmo instituto está agora em 9 pontos, podemos estimar a real diferença como algo em torno de 3 a 4 pontos. Aliás, é essa diferença que vem sendo apontada por outros institutos que se aproximaram melhor do resultado final do que o IPEC.

Por fim, há jornalistas, como Maria Cristina Fernandes, do Valor, para quem o erro do IPEC não existiu. Continua analisando os números como se nada tivesse acontecido. O IPEC, assim como o DataFolha, são o “padrão ouro” das pesquisas, e se a medição não bate com a realidade, dane-se a realidade. Seria cômico se não fosse ridículo.

Artigo de republiqueta

Maria Cristina Fernandes escreve hoje um artigo no Valor que, a pretexto de defender Bolsonaro daqueles que começam a namorar a ideia de um impeachment do presidente, na verdade quer mesmo voltar a dizer que o impeachment de Dilma Rousseff foi um golpe. Um golpe de republiqueta.

A tese é a mesma de sempre: não há provas. Não há “um crime de responsabilidade que tenha convencido toda a nação”, diz a colunista.

Imagine um jogo de futebol em que cada lance decidido pelo juiz tenha que convencer todos os torcedores. Não haveria jogo, por óbvio. O que Maria Cristina defende é isso: deveria haver provas que “convencessem a nação inteira”. Como se a nação fosse formada, toda ela, por juízes neutros e que pudessem concordar sem sombra de dúvida sobre a justeza das provas. Mas se nem com o VAR os torcedores chegam a um acordo, imagine em casos como o impeachment.

Não é assim que a coisa funciona. Por isso existe a figura do juiz constitucionalmente constituído. É sobre ele que recai a responsabilidade de examinar as provas e condenar ou absolver o réu. No caso de Lula, por exemplo, os seus seguidores podem gritar e esgoelar que “não há provas”. Os juízes que o julgaram (e, por enquanto, foram 9), avaliaram unanimemente que há provas sim. Não é necessário que as provas “convençam toda a nação”. Basta que convençam os juízes.

No caso do impeachment, cansei de escrever aqui, os juízes são os congressistas. São eles que definem se as provas são suficientes ou não para decretar o impeachment. Pouco importa o que a “nação” (no caso de Maria Cristina, nação é outro nome para os petistas) pensa ou não. E, por óbvio também, trata-se de um julgamento político, onde os congressistas-juízes avaliam também o conjunto da obra, além do aspecto especificamente técnico.

O interessante é que a desqualificação do instituto do impeachment por parte de certa imprensa é recente. Não se ouvia nada sobre isso quando se fez o impeachment de Collor.

O impeachment é sim uma saída democrática para um impasse político sob um regime presidencialista. Compará-lo a um golpe de republiqueta por interesse partidário é um desserviço à democracia. Bolsonaro não precisa dessa ajuda “desinteressada” dos intelectuais petistas.

Merchã do Haddad

Maria Cristina Fernandes, na CBN. Depois de uma longa análise sobre a carta de FHC e outras pedindo a união dos candidatos de centro, responde a uma última pergunta.

Âncora: Dizem que Bolsonaro e Haddad são duas faces da mesma moeda. Você concorda?

Maria Cristina: não. Bolsonaro é o candidato do ódio. Haddad, apesar de setores do PT adotarem uma postura mais radical, tem procurado se mostrar muito mais conciliador.

O que de fato elas quiseram dizer:

Âncora: Maria Cristina, estamos no fim da entrevista, faz aí um merchã do Haddad.

Maria Cristina: pois não, querida. Gente, o verdadeiro candidato de centro é o Haddad, ok?

Fale com a ex-presidente Dilma

Da coluna de Maria Cristina Fernandes, hoje, no Valor:

“[…] resposta de um integrante do Centrão à indagação sobre como fariam para lidar com um Haddad presidente: ‘Vamos dar para ele um cartão com o telefone da ex-presidente Dilma’”.

O mesmo vale para Bolsonaro e Marina.

Militante petista travestido de jornalista

Este é um trecho de um artigo de Maria Cristina Fernandes, hoje, no Valor.

Coloca no mesmo balaio Lula (condenado em 2a instância), Dirceu (condenado em 2a instância mas solto pelo seu ex-advogado no STF), Aécio e Jucá (ambos protegidos pelo foro privilegiado).

Somente uma militante petista travestida de jornalista poderia ver similitude entre esses casos. E as redações estão coalhadas de “jornalistas” desse tipo.