Análise da pesquisa Ibope

Pesquisa Ibope basicamente repetindo a única tendência digna de nota, ainda que com menos intensidade: migração de votos de Marina para Haddad. Vamos ver se essa tendência se mantém nas próximas pesquisas.

Secundariamente, o Ibope aponta um fortalecimento ligeiramente maior de Bolsonaro após o atentado, em relação ao DataFolha. Mas os grandes números são basicamente os mesmos.

Fale com a ex-presidente Dilma

Da coluna de Maria Cristina Fernandes, hoje, no Valor:

“[…] resposta de um integrante do Centrão à indagação sobre como fariam para lidar com um Haddad presidente: ‘Vamos dar para ele um cartão com o telefone da ex-presidente Dilma’”.

O mesmo vale para Bolsonaro e Marina.

A alternativa Marina Silva

Começo a ouvir, aqui e ali, nos meus variados círculos de influência, que o voto em Marina seria uma alternativa.

Gente que, em outras épocas, votaria em Alckmin de olhos fechados e que, ao mesmo tempo, não consegue engolir o capitão.

Para esse pessoal, o esquerdismo não é um problema fundamental. Na verdade, é até desejável uma certa “preocupação social”. É o perfil de FHC, que, a esta altura, deve estar torcendo secretamente por Marina, depois que seu projeto Luciano Huck fez água.

Marina parece ter, eleitoralmente falando, o defeito de Bolsonaro sem ter a sua virtude. Seu defeito é não ter apoios e tempo de TV. A virtude que lhe falta é o carisma, que sobra ao capitão.

Marina, no entanto, compartilha com Bolsonaro uma virtude comum, que é, ao mesmo tempo, um defeito: está longe do establishment. Virtude pelo óbvio que é não fazer parceria com bandido. Defeito (e acredito ser este o único motivo que segura os votos de Alckmin) pela também óbvia dificuldade em governar. Aqueles que votam em Bolsonaro e Marina acreditam que a governabilidade vem com o voto. Aqueles que votam em Alckmin, não acreditam nisso. Estes últimos têm Collor e Dilma para corroborar sua tese.

Marina torna-se, assim, uma alternativa anti-establishment da centro-esquerda. Aquilo que o PSDB gostaria de ser, se fosse possível governar sem o Centrão.

Como eu disse, começo a ouvir, aqui e ali, pessoas dizendo que Marina poderia ser uma alternativa. Pessoas que votariam em Alckmin, mas não acreditam que o apoio do Centrão será suficiente para fazê-lo decolar nas pesquisas. Ou pior: acreditam que o apoio do Centrão pode ser a pá de cal na sua candidatura.

Marina aparece em 2o lugar em todas as pesquisas. Leio e ouço muitos analistas políticos, e uma das poucas unanimidades entre eles é que Marina vai desidratar ao longo da campanha, com seus votos migrando para Alckmin ou para o candidato do PT. Também pensava assim. Começo a ficar com a pulga atrás da orelha.

Esta eleição está longe de ser óbvia. Ninguém está fora do páreo. Ninguém.

O símbolo do Brasil

Trecho da entrevista de André Lara Rezende, principal formulador econômico da campanha de Marina Silva, hoje, no Estadão.

Concordo com ele. A Petrobras é um símbolo. Símbolo de um país atrasado, preso a mitos do passado. Sujamos nossas mãos de óleo enquanto a Apple ultrapassa um trilhão de dólares em valor de mercado. E o pior é que Marina e André Lara não estão sozinhos. Com exceção do Amoêdo (Paulo Guedes não conta, o candidato é o Bolsonaro), todos os outros candidatos pensam da mesma maneira.

A Petrobras é um símbolo. Enquanto a Petrobras não for privatizada, não conseguirei acreditar em nenhum discurso de modernização e eficiência do país.

As estratégias dos candidatos

Reportagem hoje no Estadão traça o perfil dos “irmãos Weintraub”, Arthur e Abraham, assessores de Bolsonaro há mais de um ano.

Professores universitários, os irmãos Weintraub têm larga experiência na iniciativa privada e na academia, e são especialistas em Previdência.

Mas o que me chamou a atenção foi a migração de suas preferências políticas. Em 2014 apoiaram Marina Silva, contra “o roubo epidérmico, o patrulhamento ideológico, o narcotráfico, a ameaça do totalitarismo bolivariano”.

Ora, a migração de Marina para Bolsonaro não se encaixa em uma clivagem “esquerda x direita”. Nada indica que, em 2014, Marina fosse uma alternativa melhor ao “patrulhamento ideológico” ou ao “totalitarismo bolivariano” do que Aécio. Aparentemente, tínhamos uma clivagem “establishment x anti-establishment”, que se acentuou muito nos últimos 4 anos. Somente isso justifica a migração Marina —> Bolsonaro, opostos no campo ideológico.

Se a posição dos irmãos Weintraub indicar uma tendência importante, está clara a estratégia dos candidatos para chegar ao 2o turno:

– Alckmin, estando praticamente sozinho no campo do establishment, deve investir na clivagem “esquerda x direita”, procurando tirar votos da direita que iriam para Bolsonaro. Ana Amélia se encaixa nessa tática, assim como o discurso liberal e de segurança pública.

– Bolsonaro não está sozinho no campo anti-establishment, mas está praticamente sozinho no campo “direita”. Então, deve investir sobre outros candidatos “anti-establishment”, como Marina, atraindo votos como os dos irmãos Weintraub.

– Ciro e o candidato do PT estão no campo congestionado da esquerda, onde também estão Marina e, para os bolsonaristas, Alckmin. Portanto, devem procurar unificar os votos da “esquerda” em torno dos seus respectivos nomes. Ciro especificamente não conseguirá tirar a bandeira de “anti-establishment” de Bolsonaro ou Marina. O candidato do PT, por sua vez, é establishment e, portanto, só lhe resta apostar na clivagem “esquerda x direita”.

Se tem rabo, focinho e pé de porco…

Assim como Alckmin, Marina esconjura o termo “imposto sindical”.

É a síndrome Voldemort. O nome do arqui-inimigo de Harry Potter não podia nem ser mencionado, como se sua não menção o fizesse não existir.

Ora, podem dar o nome que quiserem. Se os contribuintes forem obrigados a, direta ou indiretamente, financiar os sindicatos, isso será um imposto sindical, por mais que não receba esse nome. Querem enganar a quem?

O antes e o depois

Eduardo Giannetti é uma mistura de filósofo e economista. Muito badalado, suas posições são ouvidas e respeitadas.

Pois bem, no Valor de ontem, defendeu o fim do teto de gastos. Posição diametralmente oposta ao que falava dois anos atrás.

O que mudou? Está na campanha de Marina Silva.

Debaixo da capa respeitável, vive um oportunista como todos os outros.