Marx para crianças

Que fofo! Mais uma contribuição (como se faltasse) para que nossas crianças aprendam como os empresários são maus e perversos, como o capitalismo é injusto, e como o comunismo é o regime da justiça social.

Que o digam os venezuelanos!

A verdadeira “mais-valia”

Passeando pela livraria, deparo-me com a nova edição de O Capital, de Karl Marx. Confesso, nunca tinha lido uma única página. Conheço a teoria marxista apenas pelos seus resultados, que não são lá muito animadores.

Curioso, fui para o capítulo onde se define a mais-valia. Lê-se lá: “Sabemos que o valor de qualquer mercadoria é determinado pela quantidade de trabalho materializado em seu valor de uso, pelo tempo de trabalho socialmente necessário à sua produção.”

Pronto. Não precisa ler mais nada. Tudo o que se construir a partir dessa premissa terá o valor de uma nota de 3 reais. O valor de uma mercadoria é dado pelo quanto alguém está disposto a pagar por ela, pouco importando os insumos, incluindo o trabalho, empregados.

Digamos, por hipótese, que alguém faça um buraco e o tampe. Terá gasto um “tempo de trabalho”. Segundo Marx, este buraco tampado tem o valor do trabalho empregado em fazê-lo. Segundo qualquer pessoa de bom senso, não vale nada. O marxismo carece de bom senso.

Agora, por hipótese, suponhamos uma sociedade construída segundo a premissa marxista. Haverá muitos “buracos tampados” que devem ser remunerados. Como ninguém está disposto, individualmente, a pagar, resta ao Estado fazê-lo. No limite, todos os meios de produção pertencem ao Estado, que remunera “o trabalho socialmente necessário à produção”. No fim, todos se matam de trabalhar e não se produz nada de valor. Resultado: o muro cai.

Mas, dirá alguém, mesmo o mais obtuso marxista sabe que um buraco tampado não tem valor. A sociedade organizada com base na premissa marxista ainda assim saberá produzir coisas de valor, com a vantagem de não precisar remunerar o capitalista.

É justamente aí que está o busílis do capitalismo: o capitalista, o empreendedor, é o sujeito que ganha a mais-valia justamente por criar valor. Ou, para ser mais exato, por identificar corretamente o que será valorizado pelo consumidor da sua mercadoria. Nenhuma organização estatal consegue substituir o empreendedor na criação de valor. Desde um Steve Jobs até o dono da padaria da esquina, todos eles vivem de criar valor, não de “tempo de trabalho”. Nenhum burocrata estatal cria valor. Por isso, as sociedades fundadas no marxismo são invariavelmente pobres.

Observação final: você, jovem, que não tolera a mais-valia do capitalismo e não quer ser explorado, você tem uma saída: empreenda! Seja seu próprio patrão! E tente criar valor para os seus clientes. Das duas uma: ou você terá sucesso e ganhará muito dinheiro, ou, no caso de fracasso, passará a dar valor àqueles que conseguem criar valor de verdade para a sociedade.

Para quem quer entender o Brasil

Acabo de ler “O ópio dos intelectuais”, do filósofo francês Raymond Aron, presente de aniversário de meu querido irmão Marcos Guterman.

Top 10 do universo. O cara escreve na França da década de 50, e parece estar descrevendo o Gregório Duvivier ou a teologia da libertação.

Em algumas passagens o livro fica chato, porque Aron entra nas minúcias dos debates intelectuais de seu tempo e lugar. Mas vale perseverar na leitura, para encontrar pensamentos como os seguintes:

“É sempre espantoso ver um pensador parecer indulgente com um universo que não o toleraria e implacável com aquele que o honra.”

“O marxismo é uma filosofia de intelectuais que seduziu uma parte do proletariado, e o comunismo se serve dessa pseudociência para chegar ao seu objetivo específico, a tomada do poder. Os operários não acreditam espontaneamente que foram eleitos para a salvação da humanidade. Muito mais forte neles é o desejo de uma ascensão à burguesia.”

“Os alunos da École Normale Supérieure (aqui seria a FFLCH-USP ou qualquer outra faculdade pública da área de humanas) pensam os problemas políticos, em 1954, em termos de filosofia marxista ou existencialista. Hostis ao capitalismo como tal, ansiosos para ‘libertar’ os proletários, pouco conhecem do capitalismo e da condição operária. (…) guardadas as devidas proporções, aos professores também se aplicam as mesmas observações.”

Esta é uma pequena amostra. Recomendo para quem quer entender o Brasil deste início do século XXI.

Tudo acaba em triplex no Guarujá

Eliane Cantanhêde informa hoje que parlamentares de partidos de esquerda estão articulando a formação de um novo (mais um!) grande partido de esquerda, sucessor do PT, cujo ciclo teria acabado. Seria a hora de “resgatar as teses da esquerda que afundam junto com a era petista”.

Me faz lembrar o que dizem sobre o fim da URSS: que o socialismo verdadeiro não foi realmente implementado na URSS, com suas classes dirigentes tendo desvirtuado os ideais socialistas.

Não conseguem ver que o ideal socialista traz em si o germe totalitário, e com ele, a corrupção absoluta. O Manifesto Comunista, de Marx e Engels, já dizia: “O proletariado usará sua supremacia política para arrancar, gradualmente, todo o capital da burguesia, para centralizar todos os instrumentos de produção nas mãos do estado, isto é, do proletariado organizado como classe dominante; e para aumentar as forças produtivas tão rapidamente quanto possível. Claro que, no início, isto não pode ser obtido exceto por meio de intervenções despóticas nos direitos de propriedade, e nas condições de produção burguesas”.

A utopia está em que, ainda segundo o Manifesto Comunista, “quando, no curso do desenvolvimento, as distinções de classe tiverem desaparecido, e toda produção estiver concentrada nas mãos de uma vasta associação de toda a nação, o poder público perderá o seu caráter político. […] No lugar da velha sociedade burguesa, com suas classes e seus antagonismos de classes, deveremos ter uma associação, na qual o desenvolvimento livre de cada um é a condição para o desenvolvimento livre de todos.”

Fica difícil entender como conjugar “intervenção despótica” com “desenvolvimento livre” no mesmo texto, e é justamente essa contradição insolúvel que torna o socialismo uma utopia: os “homens livres” em uma “sociedade livre” sempre ficam para depois, porque agora precisamos continuar “intervindo despoticamente” nas instituições burguesas.

O poder corrompe, e o poder absoluto corrompe absolutamente. O socialismo fracassou onde quer que tenha se tentado implementar seriamente porque precisa de homens incorruptíveis para a sua implantação. Homens utópicos, não reais. O estado é um ente abstrato, que é operado através de um governo, que é formado por homens. A concentração de poder no estado significa a concentração de poder na mão de poucos. E os revolucionários tornam-se a nova burguesia, a nova classe dominante, como magistralmente retratado na Revolução dos Bichos, de Orwell.

A criação de um novo partido de esquerda, para manter acesa a chama dos ideais socialistas, é só o reinício do ciclo: a busca da utopia, que acaba em um triplex com elevador no Guarujá.