Tudo está no seu lugar, graças a Deus

Democracia Inabalada.

Este é o mote das celebrações que terão lugar amanhã em Brasília. Achei bastante adequado.

A nossa democracia seguiu inabalada quando nada aconteceu ao partido que pagava mensalidade para os deputados votarem as pautas do governo, além de pagar fornecedores com dinheiro de offshore.

A nossa democracia seguiu inabalada quando todos os responsáveis pelo maior caso de corrupção do Brasil foram soltos, enquanto o juiz do caso é o único que corre o risco de ser preso.

A nossa democracia seguiu inabalada quando os direitos políticos de um presidente foram mantidos, mesmo depois de impichado.

A nossa democracia seguiu inabalada quando o nosso Supremo instaurou um inquérito sem fim, em que é, ao mesmo tempo, vítima, acusador e juiz, para manter a nossa democracia inabalada sem os inconvenientes limites da lei.

A nossa democracia seguiu inabalada quando ministro do Supremo e presidente recém diplomado foram a festa patrocinada por advogado com causas gordas em Brasília.

A nossa democracia seguiu inabalada quando o nosso Supremo reviu a jurisprudência da prisão após condenação em 2a instância, alegou problemas de CEP que nenhuma outra instância viu e acusou suspeição do juiz com base em provas obtidas ilegalmente, tudo isso para libertar o homem, a lenda, o mito, que iria deixar nossa democracia ainda mais inabalada.

Sim, amanhã é dia de comemorar a Democracia Inabalada. Mas penso que a resistência ao quebra-quebra dos zé manés em 08/01 empalidece quando comparada aos outros atos de resistência citados acima, que foram muito mais importantes para manter em pé as Instituições do Estado Democrático de Direito brasileiro, e que deveriam ser igualmente lembrados.

Para encerrar, um sambinha de Benito Di Paula para alegrar o seu domingo:

🎶Tudo está no seu lugar

Graças a Deus, graças a Deus

Não devemos esquecer de dizer

Graças a Deus, graças a Deus 🎶

O PSDB perdeu o bonde da história

O Estadão traz uma reportagem sobre a filiação recorde no PSL, o partido de Bolsonaro. A declaração abaixo é de um dos recém-filiados.

Lula ganhou as eleições de 2002 com folga. Sem bolsa-família e sem a máquina do governo. Ganhou no país inteiro, e não apenas no Nordeste, onde ainda estava longe de ser um mito. Dizem que ganhou, entre outras coisas, porque era o candidato “in pectore” de FHC, que teria feito corpo-mole na campanha do candidato de seu próprio partido. Mas isso pode ser apenas uma lenda.

Em 2006, apenas um ano depois do mensalão, Lula se reelegeu. Saiu do quase-impeachment para uma vitória eleitoral consagradora. Aí entra o trecho destacado acima.

O PSDB, com raríssimas exceções, não soube capitalizar o sentimento anti-petista surgido com o mensalão. Digo “surgido” não porque não existisse antes, mas era um fenômeno muito mais restrito. O mensalão mostrou a verdadeira cara desse partido, mas um não sei que de cumplicidade ideológica misturada com o receio de parecer troglodita aos olhos da inteligentzia nacional, fez com que o PSDB colocasse panos quentes sobre o mensalão, sovando o que seriam mais 10 anos de governos petistas.

Hoje, o discurso do PSDB não é muito diferente. “A lei é para todos” é um mote que está longe de satisfazer o anti-petismo. Levar um saco de lixo com a estrela do PT como fez Bolsonaro é o mínimo que se esperava. Não fizeram em 2005, não estão fazendo hoje. Aliás, hoje seria tarde demais. O PSDB perdeu o bonde da história.

O que vai ser história

São milhares de notícias todos os dias. É virtualmente impossível distinguir aquelas que são irrelavantes daquelas que mudarão os rumos do país.

No já longínquo 18/03/2014, o Estadão publicava em um canto da primeira página o resultado da 1a fase da operação Lava-Jato.

O destaque fica para um obscuro condenado do Mensalão, Enivaldo Quadrado. Na reportagem interna é citado o doleiro Alberto Youssef, mas não o juíz Sérgio Moro. Todos foram presos na hoje famosa carceragem da PF do Paraná.

A manchete deste dia é “Procuradoria se une à PF e vai investigar a Petrobrás”, referindo-se aos negócios com a holandesa SBM Offshore. Neste dia, Dilma dava posse a 6 ministros, com direito à frase “povo percebe quem está do lado dele”.

Uma nova página da história do Brasil começava a ser escrita neste dia. Mas ninguém percebeu.