“O problema aqui é convencer os mercados a aceitar essa visão de longo prazo”

Mais um artigo reverberando o abaixo-assinado de CEOs decretando que o lucro não é tão importante quanto o impacto social das empresas (‘Mr. Friedman, we have a problem’: Vem aí o capitalismo 3.0)

Se eu fosse CEO faria o mesmo. Quer coisa melhor do que não ser cobrado pelo lucro? “Olha, a empresa não gera lucro, mas trata muito bem os empregados e ajuda a plantar árvores na Amazônia”. Ok.

Como profissional do mercado financeiro, canso de ouvir perguntas de amigos e parentes sobre “quais são as melhores opções de investimentos”, que “rendam mais que a poupança”. Ninguém me pergunta: “qual a opção de investimento em empresas que tratam bem os empregados?” Ou “onde posso investir para melhorar o ar do planeta?”. Nada disso. A pergunta é sempre “onde rende mais?”

Esse é o tal de “mercado” citado no trecho do artigo que dá o título a este post. O “mercado” somos todos nós, que, afinal, estamos sempre atrás de um bom retorno.

“Ah, mas as empresas socialmente responsáveis rendem mais no longo prazo”. Bem, se isso for realmente verdade, os critérios sociais se imporão naturalmente. Afinal, todos estamos atrás de bons retornos, não é mesmo? A necessidade de um “abaixo-assinado” de CEOs parece ser a evidência de que, afinal, critérios sociais não devem ser tão lucrativos assim.

O artigo diz que Milton Friedman deve estar se virando no túmulo. Acho que, na verdade, ele deve estar é rolando de rir no túmulo. A frase “só falta convencer o mercado” é exatamente o que ele diria.

Alugueis congelados

A assembleia democrata de Nova York reformou uma lei de inquilinato para torná-la ainda mais inclinada a proteger os inquilinos (ver matéria aqui). Muito justo.

No entanto, como acontece com toda lei bem intencionada, há consequências não intencionais. No caso, protege os atuais inquilinos, mas deixa na chuva os inquilinos do futuro. É o mesmo que ocorre com as leis trabalhistas: protegem quem têm carteira assinada, mas fazem este grupo ser cada vez menor, pois os empresários têm cada vez menos condições de contratar dentro das leis.

A consequência de uma lei que protege os inquilinos é até fácil de antecipar: o número de unidades para locação deve diminuir, e os preços iniciais vão aumentar, pois os proprietários vão querer se proteger. É uma mera aplicação da lei da oferta e da demanda, que não pode ser revogada. Por outro lado, os preços dos imóveis podem até cair em um primeiro momento, pois o incentivo para investimento em imóveis para aluguel desaparece, retirando do mercado potenciais compradores. Em um segundo momento, no entanto, o investimento em imóveis cairá também, afetando a economia como um todo.

Por fim, todos os inquilinos agora estão reféns dos imóveis onde moram. Mudar não faz parte das opções, pois enfrentarão um mercado inóspito de aluguel. Esta lei congela o mercado de locação.