O poder é efêmero

Em março do ano passado, estava eu ciceroneando dois investidores japoneses em Brasília, que vêm anualmente para verificar in loco se o país onde eles investiram seu dinheiro ainda existe.

O foco, na época, era a Reforma da Previdência, e todas as conversas com pessoas do Tesouro, do BC e políticos giravam em torno do tema. Estávamos nós fazendo um tour pela Câmara quando notamos uma aglomeração de jornalistas. Perguntei o que era aquilo, e fui informado de que estavam esperando o fim de uma reunião no gabinete da liderança do governo na Casa, em que finalmente seria indicado o presidente da CCJ que iria iniciar a tramitação da reforma da Previdência. De repente o burburinho aumentou, o que indicava fumaça branca. Saem lá de dentro Joice Hasselmann e Onyx Lorenzzoni para dar a notícia: habemus presidente! Uma esfuziante Joice e um compenetrado Onyx anunciavam com pompa e circunstância o nome de Filipe Franceschini para a tarefa. Notava-se que estavam embevecidos pelo papel de destaque na política nacional, com todos aqueles holofotes sobre suas pessoas.

Lembrei-me dessa cena ao saber que Onyx não faz mais parte do primeiro time do governo. Há menos de um ano, ele e Joice davam as cartas. Menos de um ano depois, são uma sombra do que foram.

O poder, em qualquer esfera, é efêmero.

Política com P maiúsculo

Maia é um poço de mágoa com Onyx.

Maia chama Guedes de “o nosso líder na área econômica”

Maia diz que Moro entende que a Previdência é prioridade.

Apesar de Onyx, o governo Bolsonaro teve o juízo de apoiar Maia para a presidência da Câmara, um sujeito absolutamente alinhado com a pauta mais urgente do governo.

Certa vez ouvi Mário Covas dizer que se orgulhava de ser um Político com P maiúsculo. A Política é a nobre arte de conciliar interesses diversos em uma pauta comum. Vivemos em sociedade, onde cada um acha que tem a solução para o mundo. O trabalho do Político é justamente a conciliação dessas milhões de “soluções”. A demonização da Política traz o risco de jogar o bebê fora junto com a água da banheira. No limite, a antipolítica nos leva ao estado ditatorial, onde a busca do consenso é desnecessária.

Quem quiser ter uma aula de Política com P maiúsculo leia essa entrevista.

Time is over

Onyx Lorenzoni vai rapidamente descobrir que não tem 4 anos para fazer a reforma da Previdência. Não tem sequer um ano.

A paciência dos credores já acabou faz tempo e estamos atravessando águas calmas no mercado porque existe a expectativa de que o novo governo vai dar prioridade máxima para o equilíbrio das contas públicas a longo prazo, o que significa patrocinar a reforma da Previdência para ontem.

É bom que Bolsonaro esteja convencido disso o quanto antes. Senão, corre o risco de ver seu governo terminar antes de começar.