Educação e mobilidade social

Meu pai cursou até o colegial (hoje ensino médio), minha mãe, até o ginásio (hoje fundamental 2). O pai de minha esposa cursou até o primário (hoje fundamental 1) e a mãe dela nem isso. Eu e minha esposa temos pós-graduação.

Somos exceção em um país com mobilidade social muito reduzida. Tivemos sorte, eu e minha esposa, de nascermos em lares onde a educação sempre foi valorizada e de termos tido a oportunidade de conviver com pessoas de nível universitário em nossa juventude. Porque a questão da formação superior não se restringe à renda. Há também, e talvez principalmente, o que chamo de “ambição”: para um rapaz ou uma moça que não têm, em seu círculo de convivência, pessoas que cursaram a faculdade, esta parece ser uma meta inatingível, uma espécie de monte Everest. Falta o exemplo de que aquilo não só é possível, mas é para você. Trata-se de um circulo vicioso de difícil superação.

Paulo Tafner foi o apóstolo da reforma da Previdência. Armado de uma montanha de dados e perseverança inabalável, pregou no deserto durante anos, até a sua doutrina tornar-se o pensamento dominante. Reformar a Previdência não é fácil em lugar nenhum do mundo, é necessário mudar o mindset da sociedade, e Paulo Tafner fez grande parte desse trabalho.

Agora, Tafner dedica-se a estudar a mobilidade social no Brasil. A sua entrevista abaixo merece ser lida. Se há um assunto importante no Brasil, é este. Sorte do Brasil ter uma pessoa como Tafner dedicada a isso.

A lacroeconomia de Piketty

Na quinta-feira, o Valor Econômico publicou artigo sobre a reforma da Previdência do famoso Thomas Picketty, autor do best-seller “O Capital do Século XXI”. Por esta obra, Picketty é considerado o patrono da causa das desigualdades causadas pelo capitalismo. Sim, não foi fácil, mas li este livro até o fim.

Quando li o artigo de Picketty e outros autores (incluindo um professor da (surpresa!) Unicamp) tive imediata vontade de escrever um post apontando seus vários erros. A começar pelo título malandro, que insinua que a reforma da Previdência estaria atendendo a interesses escusos. Quando começa assim, difícil chegar a boas conclusões.

Não tive tempo para escrever, pois demandaria muita pesquisa. E também pensei: bom, Pedro Fernando Nery deve também estar lendo este artigo e vai escrever algo muito melhor do que eu seria capaz. Batata!

Abaixo, o artigo de Picketty do dia 11, e a resposta de Nery, publicado hoje no Estadão. Não preciso dizer mais nada.

A reforma dos sonhos

Este é o resumo do projeto de reforma da Previdência proposto por Paulo Tafner e Armínio Fraga, e que foi entregue a Paulo Guedes na 2a feira. Tafner é um dos maiores especialistas em previdência do Brasil e Armínio dispensa apresentações.

Este projeto economizaria R$1,2 trilhão aos cofres públicos em 10 anos e, de quebra, melhoraria o índice de Gini da previdência em 16% (o índice de Gini mede a desigualdade de renda). Para se ter uma ideia, o projeto do Temer, antes de ser aguado no Congresso, economizaria R$800 bi.

Se aprovado, este projeto significaria um choque de tal monta nas expectativas, que a redução dos juros e a apreciação do câmbio decorrentes dariam um impulso incrível ao crescimento econômico.

Sonhar não custa nada.