Passageiros da classe econômica, uni-vos!

A Câmara dos Deputados já se debruçou sobre os principais problemas do país e resolveu-os todos. Assim, sobrou um tempo para que uma deputada do PCdoB, partido sempre cioso dos problemas que afligem os mais pobres, propusesse uma lei que interfere no livre contrato privado entre empresas e consumidores de classe média, e fosse acompanhada pela maioria de seus companheiros, preocupados com a “falta de lanche” nos voos e pelo “enriquecimento” das companhias aéreas.

No intuito de ajudar os nobres deputados em sua missão de introduzir um “capitalismo justo”, proponho uma lei que obrigue as companhias aéreas a oferecerem experiência de 1a classe a todos os seus passageiros. Essa discriminação odiosa entre “classes” de voo precisa acabar. O tratamento desumano aos passageiros da chamada classe econômica é uma afronta aos direitos fundamentais do ser humano. Enquanto negam um mínimo de conforto para seus clientes nessa “economia de palitinhos”, as empresas aéreas nadam em dinheiro.

Passageiros da classe econômica do mundo, uni-vos!

O fim do PCdoB

A cláusula de barreira vai acabar com o PCdoB. Na verdade, a culpada pelo fim do PCdoB não é a cláusula de barreira. O verdadeiro culpado é o povo, esse ignorante, que insiste em votar em partido burguês ao invés de votar nos verdadeiros representantes dos proletários.

A cláusula de barreira foi estabelecida para acabar com os chamados “partidos de aluguel”, aqueles que não representam ninguém, a não ser os seus próprios donos, que alugam a legenda pelo melhor preço. Foi o que aconteceu com o PSL de Bivar, que alugou o partido para Bolsonaro e sua turma em 2018.

Mas, como efeito colateral, vai acabar também com os chamados “partidos ideológicos”, que existem para “expressar ideias”. Como é difícil estabelecer normas objetivas para distinguir partidos ideológicos de partidos de aluguel, o critério passou a ser “número de votos”.

Pensando bem, é o melhor critério. Uma cabeça, um voto. A ideia de proteger os chamados “partidos ideológicos” tem como premissa oculta dar mais peso ao “voto” dos intelectuais. Os intelectuais gostariam de manter vivo o PCdoB (e seus primos menos glamurosos, PSTU, PCO e o recente UP) por razões sentimentais. Afinal, representam a utopia de um mundo melhor possível. Assim, o seu “voto” valeria mais do que o do “pobre de direita”, que, como dissemos, insiste em votar em partido de burguês.

O futuro, sem esses partidos que só representam seus próprios filiados, é termos cinco ou seis partidos-ônibus, em que fica mais difícil soluções de extremos. Pode não ser o sonho de quem vê a revolução como única solução para os problemas nacionais. Mas é como funcionam as grandes democracias ocidentais que são minimamente estáveis. Algum mérito esse sistema deve ter.

O que é democracia?

Quando a Alemanha estava dividida em duas, a antiga Alemanha Ocidental adotou, como nome oficial, República Federal da Alemanha. Sabe qual era o nome oficial da Alemanha Oriental, aquela que vivia sob o jugo da ditadura comunista? República Democrática Alemã.

Quando já estavam claros os arroubos autoritários de Hugo Chávez, Lula rebateu: “há democracia até demais na Venezuela”.

Certa vez, a filha de um amigo, que estava cursando o colegial em uma escola técnica estadual, explicou-me porque em Cuba havia mais democracia que nos EUA. Em Cuba, apesar de haver um só partido, o povo tem influência, o partido escuta o povo. Já nos EUA, apesar de ter eleições e vários partidos, isso é tudo uma enganação para manter o poder nas mãos dos donos do capital, que são os que realmente mandam no país. Foi o que ela aprendeu.

Democracia (o poder do povo) tornou-se palavra santa, que lava a reputação de quem a pronuncia. Todos defendem a Democracia. Resta saber o que se entende por Democracia.

Quando o Partido Comunista se declara defensor da Democracia, é que a palavra perdeu qualquer sentido prático. De modo que, dizer que Bolsonaro representa uma ameaça à Democracia pode ser tomado até como um elogio, a depender de quem acusa. Parece ser o caso.