A Petrobras não está aumentando o preço do diesel em função da valorização do dólar. A greve dos caminhoneiros no ano passado deixou lições.
O único problema é que essa defasagem pesa no balanço da empresa, que ainda está muito endividada, e inviabiliza a venda das suas refinarias. Mas para um governo que tabelou juros, tabelar combustíveis é brincadeira de criança.
O leilão da cessão onerosa deu água. Somente a Petrobras ofereceu lance em duas áreas, com uma participação de 10% dos chineses, que não costumam ter, digamos, disciplina de capital. As outras duas áreas sequer tiveram lances.
O que aconteceu?
Quando uma empresa analisa um investimento, ela faz uma avaliação do retorno potencial vis a vis o risco do empreendimento. O que aconteceu foi que, na visão das empresas que não participaram do leilão, o retorno não compensava o risco. E isso em uma área com petróleo já provado, sem risco de prospecção.
Somente a Petrobras deu lance. Das duas uma: ou a Petro tinha informações que foram sonegadas aos outros players, ou decidiu assumir mais riscos no empreendimento. Inclusive, colocando em dúvida sua trajetória de redução de dívida.
O fato é que o leilão foi mal precificado pelo governo. O lance mínimo mostrou-se muito alto, dados os riscos percebidos pelos potenciais compradores. Gastaram muito tempo discutindo a divisão de recursos que, ao fim e ao cabo, não existiam. O dinheiro que entrará é menor do que o imaginado e sairá do “outro bolso” do governo: o balanço da Petrobras.
E fica sempre a pergunta no ar: fosse a Petrobras uma empresa privada, faria os lances que fez?
Hoje a Petrobras anunciou a produção média de petróleo no terceiro trimestre: 2,2 milhões de barris/dia, a maior produção da história da empresa.
Lembrei de um gráfico que vi em 2013 no site da Petrobras, que previa a duplicação da produção de petróleo até 2020. Procurei nos meus arquivos e encontrei (tenho por hábito guardar essas “previsões” para depois conferir). Era o tempo da “Petrobrás Grande”, em que o pré-sal era o nosso passaporte para o futuro e a Petrobras carregaria o Brasil nas costas.
Bem, o resto é história.
No gráfico abaixo comparo a previsão com a realidade. Hoje produzimos apenas 10% a mais de petróleo do que em 2013. Muito, mas muito distante da promessa de 4,2 milhões de barris. O pré-sal já representa 60% da produção, o que significa que os outros poços deixaram de produzir. Ficamos patinando por anos em 2 milhões de barris, e só recentemente a produção parece querer mudar de patamar.
A Petrobras foi vítima de rapina e de políticas equivocadas, como o congelamento dos preços dos combustíveis, a exigência de conteúdo nacional de seus fornecedores, a obrigação de participar de todos os leilões com, no mínimo, 30% do investimento e a construção de refinarias superfaturadas. O resultado foi o de alcançar, orgulhosamente, o posto de empresa mais endividada do mundo, sem a mínima capacidade de investimento.
A previsão de produção de 4 milhões de barris/dia foi uma de tantas previsões que naufragaram na incompetência e em visões pré-históricas de como funciona a economia e os negócios. Por isso, fico possesso quando leio “economistas do outro lado” pontificando sobre as “saídas” para a crise. Uma crise criada pelas suas belas teorias aplicadas ao dia-a-dia dos coitados dos brasileiros.
Sempre que você ouvir algum economista defendendo o Estado como “indutor” do crescimento, lembre-se do gráfico abaixo. E não se deixe enganar pelo embusteiro.
E o STF vai melar a venda da TAG! Que surpresa, que plot twist nesse roteiro!
Tem que ter autorização legislativa, dizem Lewandovsky e Fachin. Pergunto: o legislativo autorizou a Petrobras a construir a TAG? Por que então cargas d’água precisa de autorização pra vender?
Mas o STF tá certo. É preciso esfregar na cara dos brasileiros que, ou privatizamos de vez esse elefante branco, ou devemos nos conformar em carregar esse encosto por toda a eternidade.
O governo anunciou ontem uma série de medidas que, em tese, atendem às reivindicações dos caminhoneiros. Hoje, matéria do Estadão descreve a reação dos caminhoneiros. Se eu pudesse resumir em uma frase, seria “o governo só pode estar de brincadeira”.
Em determinado momento, algum sindicalista diz: “há um excesso de 300 mil caminhões. O que o pessoal quer é frete”. Aqui está o ponto central do imbróglio.
O Brasil tem 12 milhões de desempregados. O caminhoneiro com seu caminhão não se considera um desempregado. Mas deveria. É o mesmo fenômeno: não há trabalho.
Pra que serve financiamento, tabela de frete, área de descanso etc, se não há frete?
Os caminhoneiros entenderam a série de medidas como uma cortina de fumaça para disfarçar a impotência do governo. Assim como o mercado financeiro entendeu como uma cortina de fumaça as declarações de “independência” da Petrobras, mas voltar o reajuste que é bom, nada.
Churchill, quando anunciou a guerra, não dourou a pílula nem lançou mão de cortinas de fumaça. Prometeu apenas “sangue, suor e lágrimas”.
Será que quebrar a Petrobras e baixar as calças para os caminhoneiros para salvar a Previdência encaixa-se na definição de “pseudo-realismo maquiavélico” e “falsa esperteza pragmática”?