Governo de esquerda com ideias de direita

Interessante levantamento sobre parcerias público-privadas é repercutido hoje no Estadão. Trata-se de uma espécie de censo do avanço desse tipo de parceria no país.

Lembrei da grande repercussão negativa que causou o pedido, por parte do governo federal, de um estudo a respeito de possíveis parcerias no âmbito do SUS. Lembro da histeria que tomou conta da bancada da Globo News, que gastou horas debatendo a “privatização” do SUS. “Debatendo” é modo de dizer, porque em um debate há ideias diversas sendo discutidas. No caso, havia uma unanimidade: o SUS jamais deveria ser “privatizado”. Claro que todos os jornalistas ali presentes nunca devem ter colocado os pés em um hospital público.

A reportagem cita o exemplo de um hospital de Salvador, sob responsabilidade do governo do PT, e que firmou parceria de administração com a iniciativa privada. Um escândalo, que não teve a devida repercussão na Globo News e na imprensa em geral. Afinal, “privatizaram” um hospital público. Onde estão os defensores do SUS?

Cada vez me convenço mais de que o ideal para o Brasil seria um governo de esquerda, que acalma a consciência da inteligentzia tupiniquim, com ideias de direita, que são as que funcionam. Se existisse tal bicho, claro.

Mais claro, impossível

Nesta bela matéria, Vinicius Carrasco, professor de economia na PUC-Rio e ex-diretor do BNDES, elenca os motivos pelos quais o investimento em infra-estrutura está muito aquém do necessário em um país com notório déficit nesse quesito. Em resumo:

1) O país está quebrado e não tem dinheiro sequer para Parcerias Público-Privadas.

2) Sobra então o investimento privado. O investidor privado corre riscos (inclusive o risco de ver o seu contrato não cumprido) e a remuneração desses riscos envolve ou subsídios por parte do governo ou tarifas mais elevadas.

3) Os subsídios não são possíveis nem justificáveis. Como o Estado está quebrado, não há espaço para subsídios. E, mesmo que houvesse, alocar recursos públicos para aumentar a remuneração de agentes privados ou para diminuir tarifas dos usuários somente se justificaria se houvesse externalidades positivas. Ou seja, se houvesse benefícios para outros atores que não os investidores ou os usuários. No BNDES, ele ouvia falar muito de “externalidades positivas” mas nunca viu um estudo sequer a respeito.

4) Restam tarifas mais elevadas e, em alguns casos, dolarizadas, pois o investidor é estrangeiro. A greve dos caminhoneiros mostrou que os usuários não estão dispostos a pagar pelo uso da infra-estrutura.

5) Como quem quer pagar (o governo) não pode, e quem pode pagar (o usuário) não quer, o investimento em infra-estrutura tende a ser insuficiente.

Mais claro, impossível.