Aposta de risco

Do calendário de manifestações recém divulgado pelo PT, o evento mais importante ocorrerá no dia 25/01: a confirmação da candidatura Lula, independentemente do resultado do julgamento.

Pelo visto, o PT já tomou a decisão estratégica que vai moldar o partido nos próximos anos: trocará um candidato nanico com chances nulas de ser eleito por uma lenda que, qual um El Cid tupiniquim, será levado morto sobre seu cavalo para lutar uma batalha perdida.

Não se trata de uma decisão fácil nem óbvia. Não contar com um candidato a presidente nem participar de coligações significa quase certamente uma bancada no Congresso muito menor que a atual. O PT opta, assim, por plantar uma narrativa de longo prazo, em troca de perdas eleitorais de curto prazo.

Claro, todo esse raciocínio parte do pressuposto de que a Lei da Ficha Limpa não será rasgada, como o foi, por exemplo, a lei do impeachment quando da manutenção dos direitos políticos da presidenta cassada. Talvez o PT esteja apostando nisso, o que não seria uma surpresa, dado o desprezo que o partido dedica às instituições.

De qualquer forma, trata-se de uma aposta de risco, mas talvez a única que tenha restado ao outrora maior partido de esquerda deste planetinha.

O juiz é soberano

Um juiz pode errar.

Um conjunto de juízes também pode errar.

Errar é da natureza humana.

No início, no futebol, só havia um juiz. Os erros de arbitragem eram mais frequentes.

Depois, tiveram a ideia de escalar juízes auxiliares, os bandeirinhas. A frequência dos erros diminuiu, mas não foi a zero.

Agora, acrescentaram juízes de linha e, daqui a pouco, o vídeo tape. A frequência de erros diminuirá ainda mais. Mas erros, ainda que raros, continuarão ocorrendo.

Isso é uma coisa.

Outra coisa é os jogadores e dirigentes peitarem os juízes por conta de um eventual erro. O juiz é autoridade máxima do jogo, e sua decisão é soberana. Se assim não fosse, não haveria jogo de futebol. Cada time seguiria a sua própria interpretação dos lances e a anarquia estaria instalada.

O sistema judicial procura diminuir a probabilidade de erro ao estabelecer uma corte revisora colegiada. A probabilidade de ocorrerem erros diminui, mas não desaparece.

Isso é uma coisa.

Outra coisa é peitar os juízes, dizendo que somente uma decisão favorável a um dos lados é legítima. E, pior, chamando os juízes de ladrões, acusação grave que somente é socialmente aceita no anonimato garantido pelos estádios.

É o que temos visto por parte de Lula e dos petistas em relação a Sérgio Moro e, agora, aos desembargadores do TRF4.

O PT chegou a defender, em resolução do partido, a “desobediência civil”. Ou seja, a anarquia. É esse o conceito de democracia desse partido.

O juiz é soberano, mesmo estando errado. Senão, não há jogo democrático possível.

O El Cid do PT

El Cid (Rodrigo Díaz de Vivar) foi um nobre e líder militar castelhano na Espanha medieval. Após a sua morte, tornou-se o célebre herói nacional de Castela e o protagonista do mais significativo poema épico medieval, El Cantar de Mio Cid.

El Cid morreu em 1099, no cerco a Valência pelos mouros. Após sua morte, mas ainda durante o cerco de Valência, uma lenda afirma que D. Jimena, esposa do herói, ordenou que o cadáver de El Cid fosse equipado com sua armadura e montado em seu cavalo, para reforçar o moral de suas tropas durante a batalha. Os cavaleiros ganharam, com isso, uma carga imensa de energia contra os assediadores de Valência, em uma batalha catártica de uma guerra perdida.

Lula será o El Cid do PT a partir de 24/01.

PS.: como bem lembrado pelo meu amigo Marco Antônio Silvestre, El Cid é um exemplo de virtude, o exato oposto de Lula. A comparação acima se dá apenas no plano da mistificação, na utilização de um cadáver (e Lula será um cadáver político depois de 24/01) para levantar o moral das tropas do PT.

Incivilização

O Brasil precisa caminhar milhares e milhares de anos-luz em direção ao liberalismo para nos tornarmos algo que lembre uma economia “incivilizadamente liberal”.

Alckmin continua a ser esse idiota que vai se vestir de “jaleco de estatais” para tentar atrair o voto dos petistas, como se esses pudessem votar em tucano. O PSDB vai conseguir perder a eleição mais ganha da história.

Irmãos separados no nascimento

“O direito social, em vez de atingível mediante abstenção do poder público, cria para este o dever de intervir em quase todos os domínios, de modo a satisfazer às pretenções de bem-estar coletivo que lhe são formuladas. A expansão das funções do Estado, imposta pela necessidade de assegurar os postulados da justiça social, faz parte, desse modo, da filosofia política de todos os países, cujas instituições, em razão disso, se transformam inevitavelmente, ou pela violência ou pelo trabalho pacífico de revolução silenciosa.”

Garrastazu Médici, em mensagem ao Congresso no dia 31/03/1970.

A filosofia política do PT e dos militares do golpe são mais próximas do que um e outro gostariam de admitir.

Um país dividido

Muito se tem falado sobre o silêncio das ruas. Por que os mesmos que bateram panelas e invadiram as ruas para a Dilma e o PT estão recolhidos ao calor de seus lares quando se trata de protestar contra a corrupção do atual governo?Todo mundo está dando palpite, então vou dar o meu também.

Na verdade, acho que a pergunta está errada. O que se deve perguntar é porque raios a classe média saiu às ruas e bateu panelas em 2015/16.

Desde que me conheço por gente, as únicas manifestações de rua da classe média haviam sido as diretas-já em 1984, a campanha pelo impeachment do Collor em 1992 e as passeatas de 2013, exigindo “padrão-FIFA” do Estado brasileiro. Mas nada se compara ao que aconteceu em 2015/16, em duração e tamanho.

Então, a regra é que a classe média fica em casa. Portanto, os últimos meses foram a regra, não a exceção. E por que a exceção de 2015/16?

Em primeiro lugar, o protesto contra a corrupção está longe de explicar o que aconteceu. Não faltaram corruptos notórios na história do Brasil, e que não mereceram passeatas multitudinárias. Minha hipótese é a seguinte: as manifestações ocorreram porque a corrupção foi encabeçada pelo PT.

FHC, em artigo de hoje no Estadão, relembra que Brizola dizia que Lula era a “UDN de macacão”. UDN era a sigla da União Democrática Nacional, partido que se destacava por ter um programa liberal, e apontar a corrupção do sistema político, principalmente sob Getúlio Vargas. A esquerda, sempre que quer desmoralizar um adversário que aponta seus defeitos, chama a crítica de “moralismo udenista”.

Pois bem. O PT cresceu criticando as estruturas carcomidas do estado brasileiro pela corrupção. Por isso, a observação de Brizola. E mais: quem não era PT e não apoiava a pauta “progressista”, era intrinsecamente corrupto, segundo o PT. Se você não é esquerda, você é ganancioso. Se você não vota no PT, você faz parte da elite insensível. Se você não é “progressista”, você não gosta de pobre.

O PT sempre se colocou como “O BEM”. Até hoje. Mesmo depois de tudo, o PT não sai do seu pedestal, apontando o dedo para todos que não rezam pela sua cartilha.

Minha hipótese, então, é a seguinte: a classe média saiu às ruas para derrubar um governo que se colocou acima do bem e do mal. Temer (assim como Maluf, Quércia, Ademar de Barros, e tantos e tantos outros) pode ser corrupto até o fundo da alma, mas não se coloca como a encarnação do BEM, contra o qual só pode haver o MAL.

Para sair às ruas, é preciso ter raiva. “Angry men” saem as ruas. Minha hipótese é que ninguém fica realmente bravo com a corrupção. Fica chocado, fica sem esperança, fica desconsolado. Mas bravo mesmo, fica quando alguém te acusa de ser do mal só porque não concorda com as políticas populistas de um governo. Um governo corrupto não divide um país. O PT dividiu o país. Então, o outro lado saiu às ruas. Esta é a minha hipótese.

Conceitos de democracia

PT e PSOL soltaram notas em apoio a Maduro. Nos dois casos, a palavra “democracia” é usada, afirmando-se, de um modo ou de outro, que o regime de Maduro é democrático.

Parece uma insanidade, mas não é. Trata-se apenas de um outro conceito de democracia.

Estamos acostumados, desde as Revoluções Francesa e Americana (e mesmo antes, com o sistema inglês), a considerar como democracia um regime de representação parlamentar: as ideias são discutidas e votadas em um parlamento eleito pelo povo. Estas ideias são executadas por um corpo burocrático estável, e supervisionadas por uma justiça independente. Além disso, há imprensa livre para criticar e apontar os defeitos do governo. Isto é o que conhecemos por “democracia”. Por isso, a primeira coisa que qualquer regime autoritário faz é cassar o parlamento, aparelhar a justiça e fechar os jornais.

Para os partidos da chamada “esquerda revolucionária”, democracia não é isso. Estes são valores burgueses, o parlamento é controlado pelo capital, o povo não tem vez. A verdadeira democracia (o “poder do povo”) só tem lugar quando o povo toma o poder. E o que significa “o povo tomar o poder”? Simples: o povo toma o poder quando um partido de esquerda revolucionária chega ao poder!

Uma vez chegando ao poder, o partido de esquerda revolucionária começa a desmantelar as “instituições burguesas”. Instituições como Congresso, Justiça, Imprensa, ou são aparelhados, ou são simplesmente substituídos. Outras instâncias de decisão são estabelecidas à margem das eleições: conselhos comunitários, congressos disso e daquilo, movimentos sociais. Todas expressões da “vontade do povo”, mas que, na prática, são dominadas pela estrutura do partido de esquerda revolucionária.

O povo, assim representado, finalmente chega ao poder. Sem intermediários. Porque o Partido é o Povo, e o Povo é o Partido. Qualquer oposição ao Partido é considerada oposição ao Povo. Portanto, um atentado à democracia.

Por isso, não acuse o PT de ser incoerente ao se dizer democrático e, ao mesmo tempo, defender o regime de Maduro. Eles têm outro conceito do que seja democracia.

Humor não intencional

A melhor reportagem de humor não intencional do ano! Deixou Joselito Muller no chinelo!

D E B A T E

P R O F U N D O

N O P T

S O B R E

C O R R U P Ç Ã O

A ideia era separar aqueles que roubaram para o partido daqueles que roubaram para si mesmos.

Agora que Leo Pinheiro disse que Lula roubou pra si mesmo, estão sem saber o que fazer.

E a reportagem ainda termina com o Tarso Genro condenando os “vazamentos seletivos”.

IMPAGÁVEL!