Ouve-se um farfalhar nervoso de asas no ninho tucano. Tuíte na página oficial do partido, com estrondosas 166 curtidas, afirma que Lula é “hipócrita” ao buscar líderes tucanos. Aécio xinga o candidato petista de “arrogante”.
Mas a manchete alarmista do Estadão (“… abala busca por apoios entre rivais históricos”) é desmentida na própria reportagem.
Aloysio Nunes apertou o “confirma” no 13 ainda no 1o turno, apesar do “reparo” à fala de Lula. E resta alguma dúvida de que o PSDB histórico estará ao lado de Lula no 2o turno, independentemente do que o petista fale?
Que o PSDB acabou não há dúvida. O partido quis ser uma oposição europeia no ambiente político brasileiro. Para que isso funcionasse, seria necessário que seu adversário também fosse europeu, de preferência alemão. Mas o PT é latino-americano, com toda a falta de institucionalidade que nos caracteriza. Precisou chegar um sujeito como Bolsonaro, que entende que a regra do jogo é dedo no olho e chute da medalhinha pra cima, para concorrer com o PT de igual para igual. Como cereja do bolo cuidadosamente preparado durante anos a fio, o partido, a começar por seus “líderes históricos”, sabotou o seu próprio candidato escolhido pelos filiados nas prévias. Realmente, não tinha risco de dar certo.
A prova máxima do fim do PSDB está em um tuíte do próprio perfil oficial do PSDB, 24 horas depois do tuíte anterior. Ao retuitar notícia do UOL, o perfil oficial do PSDB (convém repetir) reproduz a foto que acompanha o tuíte do UOL: Lula de mãos dadas para o alto com Alckmin, em gesto de união e vitória. É o troféu de Lula exibido na sala de estar do partido. O PSDB acabou.
Depois de uma campanha verdadeiramente sangrenta, o que incluiu a depredação da sede do STF por uma turba enfurecida com o resultado das eleições, hoje Luís Inácio Lula da Silva receberá a faixa presidencial pela terceira vez.
A faixa será transmitida pela presidenta do STF, ministra Rosa Weber, dado que o ex-presidente da República, Jair Bolsonaro, recusou-se a reconhecer os resultados e a transmitir o cargo. Nada como uma mulher para anunciar os novos tempos!
Essa posse lembra outra, há quase 40 anos. Em 15/03/1985, Tancredo Neves, pelas mãos de seu vice José Sarney, tomava posse como o primeiro presidente após o regime ditatorial, anunciando o alvorecer do renascimento democrático no país. Da mesma forma, Lula assume como o primeiro presidente após um hiato democrático que achávamos que estava no passado e, esperamos, não se repita mais no Brasil.
Lula representa a democracia neste momento, assim como Tancredo representou em 1985. Tudo bem que o PT de Lula não tenha votado em Tancredo. A orientação do partido foi de não comparecimento à sessão que elegeria o futuro presidente. Três deputados foram contra a orientação do partido, e se desligaram antes de serem expulsos. Mas esse é um detalhe irrelevante, o PT sempre foi um partido muito disposto ao diálogo democrático.
Tancredo faleceu, Sarney assumiu, e a primeira questão política a ser enfrentada foi a elaboração de uma nova Constituição para o novo tempo. Constituinte reunida, muita discussão na Casa da Democracia, em 05/10/1988 um esfuziante Ulysses Guimarães anunciava a Constituição Cidadã. Todos os democratas estavam muito contentes. O fato de o PT ter sido o ÚNICO partido que votou contra o texto final da Constituição é irrelevante, o PT sempre foi um partido muito disposto ao diálogo democrático.
Constituição nova na rua, vem as eleições de 1989. Lula perde por um pouquinho, continua na oposição, luta pelo impeachment, tem sucesso ao depor um presidente democraticamente eleito, com todos os deputados do PT exercendo o direito democrático concedido pela Constituição. Aliás, o PT não deixou de exercer esse mesmo direito contra FHC, pedindo seu impeachment algumas dezenas de vezes. Tudo bem que esse mesmo PT, 14 anos depois, chamaria de golpistas os deputados que ousaram exercer esse mesmo direito democrático. Mas isso é irrelevante, o PT sempre reconheceu em seus adversários o seu mesmo pendor democrático.
Após 3 tentativas, o PT finalmente chega ao cargo máximo da República em 2002. Seu relacionamento com o Congresso foi exemplar, exercendo republicanamente a parceria com os parlamentares para governar o país. O Mensalão, e depois o Petrolão, usados como instrumentos para compra de votos, são meros detalhes irrelevantes, que não são capazes de manchar a reputação do PT como exemplo de diálogo democrático.
Enfim, hoje é um dia de festa. É a festa da reafirmação da democracia. O povo soube afastar o risco autoritário. Vamos festejar a democracia brasileira!
Alguém já disse que a girafa é um cavalo redesenhado por um comitê multidisciplinar.
Tive essa impressão quando vi o logo da propaganda da chapa Lula-Alckmin.
O novo marqueteiro de Lula já havia afirmado que pretendia “desavermelhar” a campanha do PT. Acho até que ele talvez tivesse uma boa ideia, mas parece que o resultado final passou por um comitê.
Tem vermelho, tem verde e amarelo, tem bandeira do Brasil, tem a palavra Brasil, tem juntos com uma letra de cada cor, tem o “A” sobre o “O” como se tivesse sido feito de última hora. Faltaram somente a estrela do PT e a pomba do PSB, mas acho que deve ter esgotado o tempo da sala da reunião do comitê e não deu tempo de colocar.
Ao invés de resultar em uma peça única e harmoniosa, a coisa parece mais uma colagem caótica de muitas ideias conflitantes. Uma agressão visual.
Mas, pensando bem, essa peça representa fidedignamente a aliança Lula-Alckmin e o contorcionismo que os marqueteiros vão precisar fazer para edulcorar o velho lulopetismo. É isso aí mesmo, não está errado. A candidatura Lula e a aliança Lula-Alckmin são uma girafa com pretensão de ser um cavalo.
Gilberto Kassab é uma das raposas mais felpudas do cenário político nacional. Recebeu três nãos públicos em sua busca por um candidato ao palácio do Planalto. Há algumas coisas esquisitas nessa história.
Primeiro, Kassab estar caçando um candidato. O PSD nunca lançou candidato à presidência, sempre foi um partido de Congresso. Uma candidatura à presidência custa caro e retira recursos das candidaturas a deputado e senador. Ok, dá visibilidade ao partido. Mas Kassab realmente quer tornar seu partido “visível”? Para quem sempre operou nos bastidores, parece, no mínimo, esquisito.
Depois, receber três negativas públicas depõe contra a sua fama de político hábil. Parecem mais lances de desespero do que jogadas planejadas, de alguém que está cumprindo uma tarefa e não está tendo sucesso. É neste ponto que entra a minha desconfiança.
Minha hipótese é de que Lula, de quem Kassab sempre foi próximo, lhe “encomendou” uma candidatura presidencial. A ideia seria congestionar ainda mais a chamada “terceira via”, diminuindo ainda mais a chance de Bolsonaro ficar de fora do 2o turno. Lula prefere enfrentar Bolsonaro e vice-versa.
Em qualquer pesquisa que se faça, o PT aparece como o partido que, de longe, tem a maior preferência do eleitorado brasileiro. Também aparece como o partido de maior rejeição. Arriscaria dizer que o PT é o único verdadeiro partido brasileiro, sendo que a política brasileira, desde a redemocratização, gira em torno do partido: ou se é petista, ou se é anti-petista. Aqueles que não são nem uma coisa nem outra tampouco têm partido de preferência.
Lula fundou o PT e mantém o partido sob mão de ferro. Esse domínio sobre o único partido brasileiro foi mantido inclusive durante suas férias na carceragem da PF de Curitiba. Políticos do PT e de vários outros partidos (quer dizer, filiados a alguma sopa de letrinhas) não arriscavam nenhum passo sem beijar o anel do capo.
Aliás, o petismo é muitas vezes chamado de “lulopetismo”, em referência ao seu fundador, tal a simbiose entre o criador e a criatura. Muitos colocam Lula na mesma altura de Getúlio Vargas, ainda que lhe falte a obra do ditador, como a CLT e a Petrobras, que sobreviveram (e ainda sobrevivem) décadas após a sua morte. Talvez o bolsa-família seja o legado de Lula que sobreviverá ainda por décadas, mas não há como comparar.
De qualquer forma, é inegável que Lula exerce, para a esquerda brasileira e, porque não dizer, latino-americana, esse papel de Messias, o ungido para levar a redenção às massas. E do ungido não se pode esperar nada a não ser a mensagem da salvação. Não há pecado, e o que aparenta serem erros são apenas interpretações equivocadas de seus atos, que são sempre puros.
No entanto, ao contrário do que ocorre na Argentina, onde o peronismo sobrevive firme e forte até hoje, o getulismo praticamente morreu junto com Getúlio. Os presidentes eleitos após a sua morte (Dutra, Juscelino e Jânio) nada tinham a ver com o seu legado. Jango e Brizola tentaram manter o getulismo vivo, sem sucesso.
Arrisco dizer que o mesmo ocorrerá quando Lula se mudar para outro plano (deixo a critério de cada um especular se mais acima ou mais abaixo do atual). O lulopetismo morrerá com Lula, e o PT será apenas uma sombra do que é hoje. O brasileiro não é como o argentino, gostamos dos vivos, não dos mortos. A Recoleta, cemitério de Buenos Aires onde descansam personalidades da história argentina, é um ponto turístico da cidade. É lá que se dá o culto a Evita, símbolo maior do peronismo. Aqui, o túmulo de Getúlio Vargas está esquecido em algum canto.
Este post me foi inspirado por um excelente artigo de meu companheiro do blog Papo de Boteco, Marcio Herve, “Lula emburreceu a esquerda brasileira. E isso é ruim prá todo mundo”. Sua tese é que a esquerda brasileira, antes repleta de inteligência, tornou-se uma massa bovina que segue Lula acriticamente. Sua capivara não foi suficiente para essa esquerda questionar os pressupostos do lulopetismo, com raras exceções (consigo pensar em Eduardo Jorge, por exemplo). A derrota nas eleições de 2018 fez surgir uma pequena onda de auto-crítica por parte de alguns simpatizantes, ainda que dirigida mais à desconexão do partido com as pautas realmente populares do que aos “malfeitos” dos seus dirigentes (lembro do discurso de Mano Brown às vésperas das eleições em um evento do partido, por exemplo). Mas esse movimento foi como onda que quebra na areia e desaparece. Lula decretou que não há do que se arrepender, e o rio voltou ao seu leito.
Agora, engana-se o meu amigo Marcio Herve se pensa que a passagem de Lula dessa para a melhor servirá para recuperar a inteligência da esquerda de que ele tanto sente falta. Isso pode ser verdade até o surgimento de um novo Messias, convencido de seu carisma divino. Sempre aparece um, e estamos sempre prontos a entregar nossos destinos nas mãos daquele que sabe o caminho. E isso vale também para a direita, igualmente pronta a acreditar no primeiro que promete o paraíso aos “homens de bem”. É necessária uma boa dose de ceticismo para não se deixar seduzir. Ceticismo este que pode ser confundido, não sem uma dose de razão, com a falta de idealismo dos que estão sempre criticando sem apontar soluções. Bem, este é o preço da liberdade de pensamento, que nos permite criticar o que achamos errado e elogiar o que achamos correto, sem ficarmos presos aos dogmas de uma seita.
A palavra “polarização” não é exatamente nova na política. Mas o seu uso intensificou-se de 2018 para cá. É o que podemos observar em uma breve pesquisa no acervo do Estadão (gráficos abaixo), colocando a palavra “polarização” como chave para a busca de notícias. Houve uma explosão do uso do termo desde 2018 e, em pouco mais de dois anos na década de 20, a palavra já apareceu mais do que em toda a década de 90 e anos 2000 somados.
Essa pequena estatística demonstra que a polarização é um fenômeno que foi trazido pelo surgimento de Bolsonaro no cenário político nacional como polo oposto ao PT. De 1994 a 2014, PT e PSDB não protagonizaram uma polarização, mas uma oposição. Qual a diferença?
Na oposição, os dois oponentes têm pautas diferentes, mas reconhecem o direito do oposto existir. Na polarização, por outro lado, esse direito não é concedido. A retórica é de destruição do oponente, não de discordância.
Acredito que a Lava-Jato tenha sido o turning point que levou o país à polarização. Já não bastava fazer oposição ao PT da forma como o PSDB vinha fazendo há 25 anos. Era necessário destruir, eliminar o PT da vida política nacional. Afinal, a organização criminosa que surgiu das denúncias da Lava-Jato podia ser tudo, menos um oponente legítimo. Bolsonaro soube captar esse sentimento majoritário da sociedade brasileira.
Isso já poderia ter acontecido em 2006. O mensalão foi o primeiro grande esquema de corrupção nacional protagonizado pelo PT. Alckmin era o então candidato do PSDB. Lembro de um debate entre os dois candidatos no 2o turno, em que Alckmin tentou usar o mensalão para encostar Lula na parede. Lula, com toda a verve que Deus lhe deu, minimizou o ataque, dizendo que o seu adversário estava ”um pouco nervoso”. Lula estava confortável. O fato de ter chegado até ali já era uma vitória e tanto, graças, em boa parte à pusilanimidade do PSDB, que optou por deixar Lula “sangrar” até as eleições ao invés de patrocinar um pedido de impeachment que tinha boas chances de prosperar. Lembrando que o PT não teve pejo de pedir o impeachment de FHC em seus dois mandatos. O PT polariza, o PSDB faz oposição. Em 2018, o PT encontrou um adversário que também polariza.
Chegamos em 2022, com o mesmo Alckmin cerrando fileiras para destruir um adversário comum.
Sob o manto da “defesa da democracia”, Alckmin se junta ao partido que fez o que pôde para destruir os pilares mesmo das instituições democráticas. Sim, é inegável que PSDB e PT têm afinidades ideológicas. Mário Covas subiu no palanque de Lula em 1989 contra Fernando Collor. Mas isso foi antes do mensalão e do petrolão, o que deixa para Covas o benefício da dúvida. Alckmin é cria de Covas, e repete o gesto de seu mentor 33 anos depois, como se nada tivesse ocorrido em todos esses anos. A história se repete como farsa.
Bolsonaro é, hoje, o personagem que polariza com o PT. Está na frente nas pesquisas em relação a todos os candidatos da chamada “terceira via” justamente por causa disso. No entanto, a sua eventual derrota nas eleições não tirará das páginas dos jornais a palavra “polarização”. Este é um sentimento que veio para ficar em boa parte da sociedade brasileira. Enquanto o PT existir, haverá polarização, porque aprendeu-se que fazer oposição não basta para um partido com essa natureza.
Vi Ricardo Semler uma vez. Foi em uma palestra na sede do PSDB a que um amigo meu, filiado ao partido, levou-me no final da década de 80. Semler acabara de lançar o livro que o alçaria ao seu breve estrelato, Virando a Própria Mesa, em que conta como havia feito uma revolução na empresa que havia herdado (ou iria herdar, não sei ao certo), a Semco. Foi um precursor da parte S do ESG: muito atento ao bem-estar dos funcionários e coisas do tipo. A única coisa que lembro da palestra foi ele ter contado que sua empregada doméstica recebia um salário que lhe permitia vir para o trabalho em sua casa de carro. Achei aquilo o máximo e a informação arrancou suspiros de admiração da plateia. Claro, estava terminando a faculdade, e não tinha ideia de como era sustentar uma casa de classe média com o próprio salário. Semler não tinha esse problema, aparentemente.
Esse longo preâmbulo serve para introduzir um artigo de Ricardo Semler publicado hoje na Folha. Em resumo, Semler defende que os empresários devem parar de procurar uma terceira via que não existe, e cerrar fileiras de uma vez em torno de Lula, o único que pode nos salvar das garras do troglodita que ocupa o Palácio do Planalto desde 2019.
Em primeiro lugar, é louvável assumir uma posição sem ambiguidades. Muitos por aí se dizem atrás de uma opção de terceira via, mas nenhum dos nomes que estão aí lhes agradam, de forma que vão votar em Lula ou em Bolsonaro porque “faltam opções”. Opções não faltam, o que falta é a transparência que sobra a Semler sobre a sua opção preferencial. Não fosse assim, os dois candidatos não estariam sobrando nas pesquisas sobre todos os outros rivais.
Tendo dito isso, não deixa de ser engraçado o contorcionismo mental que o empresário faz para justificar a sua opção. Não podendo dizer que não houve grossa corrupção nos governos do PT (“em medida menor”), Semler quer dar uma “segunda chance” para o partido. E se sai com uma comparação do arco da velha: assim como a Alemanha se rearmar não significa que os nazistas vão voltar, dar o poder novamente ao PT não significa que a corrupção vai voltar.
Dizem que o amor cega. Deve ser este o caso. O empresário simplesmente “esquece” que a Alemanha criminalizou o nazismo, condenou todos os oficiais nazistas que não fugiram ou se mataram, e passou, talvez, pela maior ajoealhada no milho da história da humanidade. Até hoje, os alemães sentem vergonha do que aconteceu. O PT, por outro lado, não reconheceu uma vírgula do que ocorreu. Segundo o partido, os bilhões roubados da Petrobrás sumiram como que por um passe de mágica, não houve um ladrão. Como Semler quer comparar os dois casos?
Depois lança mão do mais puro e perfumado whataboutismo. Afinal, por que a resistência dos empresários a Lula, que sequer tem ilhas secretas e contas na Suíça como Putin, quando apoiaram sem pudor nenhum os Sarneys, Malufs e Quércias da vida. Como se esses fossem candidatos hoje. Semler parou naquela palestra do final dos 80, em que Lula era o baluarte incorruptível contra a sujeira da política brasileira. O que veio depois foi apenas um acidente de percurso, que pode ser “perdoado” como fizemos com a Alemanha arrependida do nazismo. Francamente.
O que Semler ignora olimpicamente em seu artigo é que os empresários estão pouco se lixando para a corrupção de Lula, assim como estavam se lixando para a corrupção de Sarney, Maluf e Quércia. O que realmente importa é uma política econômica que faça sentido, e não um amontoado de iniciativas que beneficiam apenas os amigos do rei, associadas a ideias já testadas e reprovadas ao longo da triste história econômica brasileira. Do que os empresários se pelam de medo é da continuidade do governo Dilma, apeada do poder, entre outras coisas, por ter uma visão jurássica de economia, e que nos causou a maior recessão desde a década de 30.
Semler intui este problema, ao propor que os empresários “negociem” com Lula que este junte ao seu time economistas como Armínio Fraga, Pedro Malan e Pérsio Arida. Seria uma forma de garantir que Lula fosse, na verdade, um FHC na economia. Só tem um problema: Lula foi FHC somente nos primeiros três anos de seu governo. No resto, incluindo o governo Dilma, Lula foi Lula. E deu no que deu. Lula aprendeu com seus erros? Que erros, ele vai perguntar, a mesma resposta que daria para os casos de corrupção. Lula e o PT nunca erram.
Não, Lula não vai topar que Armínio, Malan e Pérsio façam parte de sua equipe, pois não comunga de seus pontos de vista. E tampouco Armínio, Malan e Pérsio topariam fazer parte de um governo Lula. Não estamos mais em 2002, em que economistas como Marcos Lisboa, Alexandre Schwartsman e Joaquim Levy toparam fazer parte do governo. Passaram-se 20 anos, e o filme que passou neste período não foi nada bonito. Talvez Geraldo Alckmin seja o único que topa emprestar o seu nome para que Lula pose de social democrata para Semler ver.
Enquanto Bolsonaro contamina a eleição com o seu Gabinete do Ódio, que espalha fake news através do Telegram com a ajuda dos russos, o PT contra-ataca, montando o seu Gabinete do Amor, para distribuir true news também através do Telegram. Quem disse que o Telegram não pode igualmente servir ao bem?
Se o objetivo de Bolsonaro é destruir a democracia, o objetivo do PT claramente é defender os valores do Estado Democrático de Direito. Por isso, certamente não veremos os juízes do TSE emitindo opiniões preocupadas com o rumo da democracia brasileira diante dessa tática digital do PT.
É o segundo domingo seguido que reproduzo aqui o editorial do Estadão. Não é mera coincidência.
Domingo é o dia mais nobre para o editorial de qualquer jornal. É aquele dia em que as pessoas têm mais tempo para gastar lendo “opinião”. Portanto, não é mera coincidência que o Estadão tenha escolhido dois domingos seguidos para desancar Lula, guardando o topo da página do editorial para tão nobre tarefa.
Se, no domingo passado, o editorial homenageou a digamos, capivara de Lula, hoje o assunto é a sua pauta econômica. Reproduzo, aqui, trecho lapidar: “Sem nenhum exagero, o governo de Dilma foi a gestão dos sonhos dos petistas, com a aplicação – sem freios, sem limites e sem diálogo – de todas as teorias, ultrapassa das e equivocadas, que o PT sempre defendeu e, pasmem, ainda defende”.
Claro que há quem acredite que Lula seja pragmático, e não vai dar ouvidos aos economistas do PT. A respeito dessa expectativa, nada mais útil do que lembrar a natureza do escorpião.