A pesquisa Genial/Quaest de popularidade do governo Lula

Mais uma pesquisa de popularidade do governo Lula, desta vez da Quaest, patrocinada pela corretora Genial. A avaliação positiva soma 36%, contra 29% de avaliação negativa. A comparação relevante é a pesquisa da própria Quaest de fevereiro, quando a avaliação positiva estava em 40%, contra 20% de avaliação negativa. Houve, portanto, uma queda da popularidade líquida de 20 para 7 pontos percentuais em dois meses. Esta pesquisa está em linha com a última da Datafolha, de março, que mostrou uma popularidade líquida de 9 pontos percentuais.

Estava assistindo a um debate sobre as potenciais causas dessa popularidade baixa, e um dos fatores seria a polarização que tomou conta do país. O problema dessa explicação é que não parece que a polarização tenha aumentado de maneira significativa nos últimos 2 meses. Portanto, não poderia explicar esse movimento de queda. Mais provável que tenha a ver com as lambanças do próprio governo, que vendeu muita expectativa e, como sói acontecer, está batendo na realidade. O caso da taxação dos sites chineses foi emblemático nesse sentido.

Para onde vai a popularidade do governo? Se eu fosse apostar, diria que deve cair mais um pouco no curto prazo, pois a economia vai desacelerar e o desemprego vai subir. Se fizer tudo certo, o governo vai colher inflação mais baixa e recuperação econômica lá na frente, ajudando a recuperar popularidade. Mas essa é uma aposta incerta.

Todo mundo quer o paraíso

Nada menos do que 76% dos brasileiros concordam com Lula em sua cruzada para baixar as taxas de juros, segundo pesquisa da Quaest.

Não sei qual a pergunta exata feita, mas imagino que tenha sido algo do tipo: “você concorda com o presidente Lula em sua política para baixar os juros?”. Quem seria contra, a não ser alguns brasileiros desalmados e rentistas, que lucram com a miséria do brasileiro?

Sugiro à Quaest que, em sua próxima pesquisa, refaça a pergunta da seguinte forma: ”você concorda com o presidente Lula em sua política para baixar os juros, mesmo com o risco de aumento da inflação?” Desconfio que o resultado será bem diferente.

Todo mundo quer o céu. Faça a pergunta “você quer ser feliz?”, e receberá 100% de sim. O problema da pergunta feita pela Quaest é oferecer o céu sem custo algum. Quem não quer? Os 14% que não concordaram sabem que não existe almoço de graça.

Se tem algo que essa pesquisa nos revela é a ignorância sobre economia da maioria dos brasileiros, o que nos torna presas fáceis de demagogos como Lula.

Fazendo a coisa certa

Um dos vieses mais conhecidos na tomada de decisão é o viés de confirmação: o ser humano tende a procurar informações que confirmem a sua tese, e não o oposto, ou seja, construir a tese com base nas informações recebidas.

Confesso que caí com gosto no viés de confirmação ao ler matéria de hoje sobre mais uma pesquisa eleitoral, desta vez patrocinada pela Genial Investimentos em parceria com a Quaest Consultoria e Pesquisa.

Além dos dados repetidos de outras pesquisas (Lula na frente, Bolsonaro em segundo, Ciro em um distante terceiro lugar, traço para os outros), esta trouxe uma informação nova e interessante: o motivo pelo qual os eleitores de Bolsonaro votam no presidente. Apenas 27% votam em Bolsonaro pela qualidade de seu governo. Os outros 73% votam principalmente porque é o único candidato anti-PT, anti-esquerda, anti-comunismo.

Ao analisar esses dados, o diretor da Quaest chega à óbvia conclusão de que, para roubar votos de Bolsonaro não adianta atacar Bolsonaro. É preciso mostrar que se é tão anti-esquerda, anti-PT e anti-comunismo como Bolsonaro. É preciso atacar o PT.

Bem, vocês já leram isso aqui. Venho dizendo exatamente isso desde a campanha de 2018. A terceira via não vinga porque o povo quer polarização. E, para ocupar o lugar de Bolsonaro, é preciso polarizar com Lula.

É claro que essa mensagem precisa soar autêntica, e não uma mera estratégia eleitoral. De todos os candidatos que estão por aí, talvez João Doria seja o que mais transmite essa mensagem anti-PT. Não é à toa que Bolsonaro escolheu o governador de São Paulo como seu adversário preferencial. Doria caiu na armadilha, polarizando quase que exclusivamente com Bolsonaro, esquecendo-se do PT.

Estes 73% de eleitores de Bolsonaro (24% do total de eleitores) que não ligam para a sua administração (ou antes, justificam a sua administração em nome de uma causa maior) são suficientes para colocá-lo no 2o turno. Apoderar-se desses votos já é tarefa suficientemente difícil adotando a estratégia correta. Fazendo a coisa errada, torna-se missão impossível.