A reforma tributária e a defesa da “soberania”

Mailson da Nóbrega escreveu excelente artigo no último sábado, defendendo a reforma tributária e atacando, principalmente, a pretensão dos governadores de manterem a sua autonomia para estabelecerem alíquotas, base tributária e hipóteses de incidência de impostos. O último parágrafo, reproduzido abaixo, resume o argumento: os governadores preferem a sua “soberania” à prosperidade do país.

As duas últimas manifestações de governador e prefeito que comentei aqui colocam em dúvida justamente essa hipótese, a de que a reforma permitirá aumentar o crescimento potencial do pais. O prefeito de São Paulo, Ricardo Nunes,,afirmou que “se IVA funcionasse, a Argentina não estava na situação em que está”. Já Ronaldo Caiado, governador de Goiás, “mandou fazer estudos nos países que têm IVA”, mas não compartilhou suas conclusões.

O fato é que há evidências robustas do ganho de produtividade da economia com um sistema tributário neutro, ou seja, que não seja parte do processo decisório do empresário. Há alguns meses, recebemos um consultor tributário para ouvi-lo sobre a reforma. Ele havia trabalhado em uma grande empresa industrial, e nos contou que havia mais gente trabalhando no planejamento tributário do que no recolhimento de impostos propriamente dito. E isso sem contar os funcionários dedicados aos contenciosos tributários. E o problema não é nem o número de homens-hora gastos na atividade de planejamento tributário. O ponto é que decisões de investimento levam em consideração os tributos, e não a produtividade do capital.

Aqui enfrentamos um típico problema de economia política: os benefícios da reforma são etéreos e dispersos, enquanto os benefícios do status quo são concretos e concentrados. Elites muito bem representadas defendem o status quo, sempre protegendo-se atrás do escudo da “defesa dos interesses dos mais pobres”. Resta saber porque, com tantos defensores de seus interesses, ainda temos tantos pobres no país.

Uma entrevista emblemática

Essa entrevista deve ser emoldurada e pendurada na parede de todos aqueles que choram pelo baixo potencial de crescimento do PIB nacional. Está tudo aí, um retrato de corpo inteiro de como pensam as elites tupiniquins. Em resumo: podem fazer o que quiserem, mas não mexam no meu queijo. No caso, no poder que eu, como governador, tenho de dar subsídio para quem eu bem entender. Eu, governador, sou o responsável por tirar o meu estado da pobreza, e ninguém vai tirar isso de mim. Outro dia, comentei entrevista com o prefeito de São Paulo, com exatamente o mesmo teor.

Amigos, é isso. Para reindustrializar o país, subsídios. Para tirar o estado da pobreza, subsídios. Todos mamando nas cada vez mais magras tetas do Estado, até tirarem a última gota de leite, e se perguntarem porque acabou.

O liberal brasileiro

Caiado perdeu a paciência e vai propor a encampação da Enel, empresa que assumiu a distribuição de energia elétrica em Goiás a partir de fevereiro de 2017. Eu não ouvia a palavra “encampação” desde que Brizola decidiu estatizar empresas no Rio Grande do Sul no início da década de 60.

A Enel alega, em comunicado, que intempéries têm prejudicado o serviço da empresa no Estado. A forma mais racional de analisar o problema é observar os índices de eficiência de serviço da Aneel. A agência reguladora calcula dois indicadores: o DEC e o FEC. O DEC mede a extensão do período sem fornecimento sempre que cai a luz, enquanto o FEC mede a frequência em que ocorrem essas interrupções.

Pois bem. Anexei o DEC e o FEC de 2016 (antes, portanto, da privatização) e de 2019, mês a mês. Podemos observar que os índices, principalmente os de frequência de interrupção, são invariavelmente melhores depois da privatização.

Cada região tem suas peculiaridades, e não sabemos o estado de deterioração em que a Enel encontrou o ativo que adquiriu em 2017. Talvez até esteja fazendo milagres. O fato é que os habitantes de Goiás, incluindo o seu governador, esperavam mais.

Uma outra concessionária fará melhor? Pode ser. Mas dificilmente entregará os índices de eficiência que sejam do agrado da população. E o próximo governante será levado a quebrar mais um contrato.

Caiado é considerado um político liberal, mas não suportou a pressão para “fazer alguma coisa”. E vai quebrar um contrato pouco mais de dois anos depois de celebrá-lo. Depois nos perguntamos porque o investidor estrangeiro não vem.

O próximo presidente da República

Nenhum nome da lista do Fachin tem condições de chegar à presidência da república em 2018.

Tomando essa premissa como verdadeira, o próximo presidente está entre os seguintes nomes (em ordem alfabética):

Ciro Gomes

Henrique Meirelles

Jair Bolsonaro

João Doria

Joaquim Barbosa

Marina Silva

Ronaldo Caiado

Já vai se acostumando com a ideia.