Correndo atrás do rabo

Chegou-me às mãos um estudo do Santander sobre o potencial impacto da melhoria da educação na produtividade do país. A principal conclusão é a seguinte:

“Se o Brasil conseguisse sair das últimas posições (onde se localiza atualmente, junto com Peru e Indonésia) no ranking do Programa Internacional de Avaliação de Estudantes em um período de 10 anos e conseguisse alcançar o mesmo patamar de Chile e Bulgária (que estão em uma situação melhor, porém entre os 25% piores), poderia aumentar a produtividade do trabalho em 50%. Isso significaria, no período de 10 anos, uma expansão da produtividade a um ritmo de 4% por ano, o que poderia elevar o crescimento potencial dos atuais 2%-2,5% para um nível próximo de 5%.”

Repetindo: atingir o nível da Bulgária no PISA nos faria dobrar o crescimento potencial do PIB.

Sim, combate à corrupção é importante.

Sim, equilíbrio fiscal é importante.

Sim, combate à criminalidade é importante.

Mas enquanto não fizermos um esforço sério, não ideológico, para incluir uma fatia importante da população brasileira nesta cidadania chamada “alfabetização funcional”, continuaremos correndo atrás do rabo.

O direito da empresa privada

Meus dois dedos sobre a polêmica do Santander.

O banco decidiu patrocinar uma mostra de arte (com o seu, o meu, o nosso dinheiro da Lei Rouanet, mas vou relevar este fato). Ao perceber que a reação de parte da sociedade, incluindo clientes atuais e potenciais, não foi das melhores, resolveu despatrocinar a mostra.

Não vou aqui entrar no mérito da exposição em si, se faz apologia disso ou daquilo, se aquilo é arte ou não, se crianças deveriam ou não visitar etc etc etc. O meu ponto é mais prosaico: uma empresa tem ou não o direito de fazer o que bem entender com o seu próprio dinheiro (no caso, o nosso, mas prometi não entrar nesse mérito)?

Como toda grande empresa, o Santander preza muito a sua imagem diante do público. Ao perceber que se encontrava no olho da revolta popular nas redes sociais, resolveu pular fora. Simples assim.

Pode-se, isso sim, questionar a reação das pessoas, que acabaram pressionando o Santander a tomar essa atitude. Ora, a pressão da opinião pública é um direito sagrado nas democracias. Quem fosse a favor da continuidade da exposição, que fizesse pressão contrária, e o Santander, avaliando as duas pressões, tomaria a decisão que melhor lhe conviesse. Como, afinal, o fez.

É a segunda vez que o Santander cede à pressão. Na primeira, demitiu uma economista que “ousou” dizer que a bolsa iria subir se a Dilma perdesse a eleição. Naquela ocasião, a pressão foi do Lula e do PT. Eu, particularmente, acho mais democrática a pressão da opinião pública do que do governo de plantão.