Raio-x da votação na cidade de São Paulo

A cidade de São Paulo deu vitória a Lula sobre Bolsonaro no 1o turno. Foram 47,54% de votos válidos para Lula contra 37,99% para Bolsonaro.

Fiz um levantamento para ver em que bairros Lula e Bolsonaro conseguiram maior vantagem um sobre o outro. A seguir, a lista das zonas eleitorais onde a diferença entre os dois foi maior do que 10 pontos percentuais:

Zonas eleitorais onde Lula ganhou por mais de 10 pontos de diferença:

  • Bela Vista: 56,46% x 29,60%
  • Água Branca: 46,39% x 35,33%
  • Itaquera: 49,10% x 38,03%
  • Pinheiros: 46,75% x 32,72%
  • Capela do Socorro: 48,11% x 37,16%
  • Jabaquara: 47,88% x 35,95%
  • Vila Pirajussara: 53,95% x 32,94%
  • Jd. Prudência: 50,68% x 35,04%
  • Itaim Paulista: 52,54% x 36,39%
  • Guaianazes: 55,83% x 33,53%
  • Cidade Dutra: 61,77% x 27,37%
  • Jardim Ângela: 62,16% x 26,94%
  • Jardim Atlântico: 57,27% x 30,47%
  • Rio Pequeno: 50,14% x 34,66%
  • São Mateus: 54,25% x 34,74%
  • Freguesia do Ó: 52,99% x 34,99%
  • Parelheiros: 60,40% x 28,52%
  • Jardim Adelfiore: 55,04% x 33,76%
  • Vila Curuçá: 52,81% x 36,54%
  • Vila Jacuí: 49,31% x 38,90%
  • Jaraguá: 50,21% x 36,59%
  • Jardim Helena: 52,52% x 33,97%
  • Vila Emir: 53,07% x 33,37%

Zonas eleitorais onde Bolsonaro ganhou por mais de 10 pontos de diferença:

  • Mooca: 48,84% x 34,69%
  • Santo Amaro: 44,85% x 33,60%
  • Santana: 48,73% x 33,47%
  • Vila Azevedo: 48,98% x 34,14%
  • Itaim Bibi: 46,27% x 31,41%
  • Vila Formosa: 49,32% x 34,97%

A Superliga e o STF

Essa história da Superliga me faz lembrar o Clube dos 13.

Em 1987, os 13 principais clubes do futebol brasileiro resolveram criar um campeonato próprio, a Copa União. A CBF, à época, organizou, como sempre, o seu próprio campeonato. Chamou a Copa União de “módulo verde” e o seu campeonato de “módulo amarelo”. Verde e amarelo, sacou?

Segundo as regras estabelecidas pela CBF, o campeão brasileiro deveria sair do enfrentamento entre os campeões dos dois módulos. O Flamengo, campeão da Copa União, recusou-se a entrar em campo para enfrentar o Sport, campeão do torneio da CBF. A CBF declarou o Sport como campeão brasileiro de 1987. A coisa foi parar (como tudo no Brasil) no STF, que em 2018 declarou definitivamente o Sport como o campeão brasileiro daquele ano.

Essa discussão toda pode parecer bizantina, mas teve efeito prático importante em outra polêmica fundamental: quem deveria levar definitivamente para casa a taça das bolinhas. Essa taça estava reservada para o primeiro pentacampeão brasileiro desde 1971. Caso o título de 1987 valesse, a taça deveria ter sido entregue ao Flamengo, que teria vencido seu quinto título brasileiro em 1992. No entanto, com o título de 1987 sub-júdice, o São Paulo ganhou o seu quinto título em 2007, reivindicando a taça. Apesar de o STF já ter pacificado a questão sobre quem foi o campeão brasileiro de 1987, esta disputa da taça das bolinhas ainda está sem decisão final. O STF acabará tendo que decidir sobre esta importante questão também.

Fico imaginando como a UEFA e os clubes europeu vão se virar sem ter um STF para decidir essas questões.

Homicídios e prisões

A média brasileira é de 29 assassinatos por 100 mil habitantes. Isto significa que, se o Brasil tivesse a média de São Paulo, haveria 13 mil homicídios por ano, contra 60 mil atualmente. Seriam poupadas 47 mil vidas anualmente.

São Paulo tem aproximadamente um terço da população carcerária brasileira, sendo que representa apenas 21% da população total.

Fica o registro.

A conta não fecha

Quase metade da folha de pessoal na cidade de São Paulo vai para pagar inativos. Ou seja, as despesas com pessoal têm metade da eficiência que poderiam ter.

Não vou aqui entrar no mérito da justiça ou não desses gastos. Estão na Lei, ponto.

Meu ponto é outro: esses gastos não são sustentáveis no tempo. Fizemos uma reforma da Previdência com anos de atraso, e que vai somente diminuir o ritmo da deterioração. Isso se Estados e Municípios entrarem. Senão, nem isso.

Quando metade da folha de pagamentos vai para inativos, é que já viramos uma Grécia. Portanto, o ajuste deveria ser tão draconiano quanto. Lá, houve cortes de até 30% no valor das aposentadorias. Caso contrário, vai acontecer no Brasil inteiro o que já está acontecendo em alguns Estados: devo, não nego, pago quando puder.

No Brasil, o Estado de Bem-Estar Social funciona bem somente para os servidores públicos, às custas do Mau-Estar Social do restante do País. O que está acontecendo agora é que o restante do País disse um basta.

PS.: você, servidor público, não se sinta ofendido por essa análise. Não tenho absolutamente nada contra você em particular. Meu ponto é só econômico: o País não consegue mais sustenta-lo. Está falido. Antes de matar o mensageiro, reflita sobre a mensagem, e comece a fazer uma poupança para tempos de vacas mais magras ainda, que virão.

9 de julho

Há alguns anos, às vésperas de um 9 de julho, meu ex-chefe, carioca, perguntou-me que feriado era aquele. Expliquei da melhor maneira que pude: defesa de uma nova constituição, luta contra a ditadura de Vargas, defesa dos ideais democráticos. No que ele me responde: “ah, agora começo a entender São Paulo”.

Alguém já disse que São Paulo é o mais norte-americano dos estados brasileiros. Trabalho com pessoas vindas do Rio, Bahia, Rio Grande do Sul. Todos são unânimes em dizer que em São Paulo “as coisas funcionam”, que é “a terra onde a competência é valorizada”. Certa vez, almoçando com um carioca em um restaurante por quilo, ele ficou impressionado com a destreza da moça do caixa, que atendia 3 clientes ao mesmo tempo. “Por isso que São Paulo é diferente, isso no Rio não existe”.

Obviamente, toda generalização é burra. Certamente há pessoas competentes e trabalhadores no Brasil inteiro, assim como há gente preguiçosa e desleixada em São Paulo. Mas estou falando aqui da percepção de oriundos de outros estados. Assim como quem migra para os EUA tem a sensação de que lá “as coisas funcionam”, quem migra para São Paulo tem a mesma sensação.

Lembro, quando era criança em idade escolar, de minha mãe ouvindo de manhã bem cedinho, enquanto preparava nosso café da manhã, o noticiário da Jovem Pan. Até hoje, mais de 40 anos depois, lembro da música de abertura: 🎶São Paulo que amanhece trabalhando. Paulista que não sabe adormecer. Porque durante a noite, paulista vai pensando nas coisas que de dia vai fazer.🎶 E terminava com o refrão “vambora, vambora, tá na hora, vambora, vambora.” Aquilo energizava. E representa a essência de São Paulo.

Hoje temos muito pouca consciência cívica, aquilo que nos constitui como uma Nação. Se as pessoas não sabem o que foi o 7 de setembro ou o 15 de novembro, é exigir demais que saibam o que é o 9 de julho. Os cínicos dirão que tudo não passa de luta pelo poder. É verdade. Todas essas datas representam lutas pelo poder. Mas, se fosse somente isso, ficariam circunscritas aos palácios e o povo ficaria em casa. As pessoas se movem por um ideal.

Em 9 de julho, os paulistas pegaram em armas para defender um ideal, aquilo que faz de São Paulo ser o que é. É sempre bom recordar.