Thomas Friedman novamente. Em um longo artigo, Friedman descreve, de maneira bastante competente (como sempre), todas as perplexidades que envolvem a atual situação de Israel. No entanto, fica claro como até um analista experiente como ele não consegue articular alternativas minimamente críveis para o fim dessa crise. Não o culpo, porque não existem.
Nesse artigo, Friedman defende o anúncio do fim da política de assentamentos na Cisjordânia como ponto de partida para um processo de paz. E não lá na frente, mas agora, agorinha mesmo. Para entender o tamanho dessa fantasia, basta ler o parágrafo seguinte. Como contrapartida a esse anúncio, a Autoridade Palestina deveria escolher uma “liderança competente para construir instituições decentes e livres de corrupção, que conquistem o respeito das pessoas e legitimidade”. Uau! Nada menos do que um Mandela!
Pena que um Nelson Mandela é figurinha rara no álbum dos governantes globais. E este é o problema dessa proposta de Friedman: o anúncio do fim dos assentamentos é a parte fácil do quidproquo, ainda que não seja propriamente fácil. A parte difícil, incerta, improvável, é essa da “nova liderança palestina”.
Não custa lembrar, pela enésima vez, que já houve algo nessa linha: em 2005, Israel não só anunciou o fim da expansão dos assentamentos em Gaza, como retirou seus colonos à força. E quem fez isso foi um linha dura como Ariel Sharon, tão falcão quanto Netanyahu. E qual foi o resultado? O Hamas ganhou as eleições para comandar o território e, dois anos depois, deu um golpe e assumiu com poderes ditatoriais. Onde está o Mandela?
A política de assentamentos na Cisjordânia nasceu dessa, digamos, experiência. Netanyahu e a linha dura de Israel ganharam força ao se mostrarem premonitórios sobre o que aconteceria com Gaza sem a presença de Israel. Os assentamentos na Cisjordânia são, a um só tempo, exigência dos religiosos e dos militares. Difícil lhes tirar a razão, considerando o que aconteceu em Gaza.
Israel poderia dar uma segunda chance para a paz, anunciando o fim dos assentamentos? Creio que sim. Mas o timing aqui é importante. Friedman fala de um anúncio “agora”, como pré-condição para o distencionamento. O problema dessa proposta é o sinal que envia: depois da carnificina perpetrada pelo Hamas, um anúncio desses soaria como uma legitimação dos métodos do grupo terrorista. -Ah, quer dizer então que funciona, vamos continuar nessa linha e ver até onde Israel vai recuar. Lembre-se, não há um Mandela do outro lado, esse é o raciocínio desse povo nessa parte do mundo.
Não, Israel não tem opções fáceis pela frente. Ainda mais atuando contra um inimigo que vê a morte como algo glorioso, um martírio. O fim dos assentamentos pode até ocorrer, mas certamente não agora, mas como parte de um plano abrangente. O erro da retirada unilateral de Gaza, podem estar certos, não ocorrerá novamente.