O Threads “flopou”?

O que aconteceu com o Threads, a nova rede social que iria desbancar o Twitter? (Eu sei que é X, mas ninguém chama de X, né?)

Eu recortei e guardei a análise abaixo, do colunista Pedro Doria, publicado há exatos dois meses, praticamente decretando a morte do Twitter. Afinal, Elon Musk “cometeu muitos erros”, e as pessoas “estavam há meses procurando uma alternativa”.

O começo foi arrasador: o Threads conseguiu a marca de 10 milhões de usuários em meras 7 horas. O recorde anterior era do ChatGPT, que atingiu essa marca em 40 dias. Facebook e Instagram haviam conquistado 10 milhões de usuários em 852 e 355 dias, respectivamente. Um verdadeiro furacão. Não é à toa que Pedro Doria e todos os desafetos de Musk estavam como pinto no lixo.

Mas alguma coisa aconteceu. Quer dizer, alguma coisa não aconteceu. No gráfico abaixo, podemos observar o crescimento da base de usuários do Threads: depois de atingir 100 milhões de usuários em meros 4 dias, a coisa simplesmente parou. Hoje, a nova rede social de Zuckerberg tem 130 milhões de usuários (número de 05/09), contra 450 milhões do Twitter.

Mas não é no número de usuários que se mede o tamanho da flopada do Threads. Eu sou um usuário, mas entrei na rede somente quando a criei e nunca mais voltei. No dia 07/07, dia em que o artigo abaixo foi publicado, o número de usuários ativos bateu quase 50 milhões. Atualmente, com 130 milhões de usuários cadastrados, o número de usuários ativos é de 10 milhões. Para se ter uma ideia, esse número é 20 vezes menor que o número de usuários ativos do Twitter. O tempo médio gasto pelos usuários do Threads na rede é de 3 minutos, contra 30 minutos do usuário do Twitter. Combinando os dois números, a publicidade no Twitter tem 300 vezes mais exposição do que a publicidade no Threads, e é isso o que importa. (Vou colocar nos comentários a fonte dessas informações).

A conclusão que eu chego é a seguinte: o usuário está pouco se lixando com as polêmicas envolvendo Elon Musk, e só quer uma rede onde possa brigar. O Threads surgiu para fazer a mesma coisa que o Twitter. Ora, se vai fazer a mesma coisa, por que mudar? O efeito inércia trabalha a favor do incumbente. Se o Threads não mostrar alguma vantagem relevante em relação ao Twitter, não vai decolar. Essa história de prometer ser uma rede “limpinha e civilizada” não é um diferencial e, arrisco dizer, é contraproducente. As pessoas querem ler brigas e insultos, e não discursos politicamente corretos. Para isso, já temos a mídia mainstream.

Não culpe o coveiro

Vejo por aí muito chororô pelo fim do nome Twitter e seu símbolo, o passarinho azul. O Twitter virou uma espécie de patrimônio cultural da humanidade, tendo o seu nome até virado verbo em várias línguas. Só faltava ser reconhecido como tal pela Unesco. O órgão da ONU comeu bola, e Elon Musk destruiu o patrimônio antes.

As pessoas reagem como se a existência do Twitter fosse uma espécie de imperativo moral, devendo ser preservado a qualquer custo, desde que esse custo não saia de seus bolsos. Vale lembrar que, se o Twitter fosse um empreendimento de sucesso, não teria sido vendido para Elon Musk. E vale lembrar também que Musk tentou saltar fora do barco quando viu em detalhe os números da empresa, mas não conseguiu. Então, todo mundo acha lindo ter uma plataforma para expressar suas ideias, mas pagar por isso que é bom, nada. Os patrocinadores, por outro lado, em geral, não gostam de fazer publicidade para robôs.

Já li também muitas críticas sobre a estratégia empresarial de Elon Musk, que estaria metendo os pés pelas mãos com o Twitter. Críticas de pessoas que nunca tocaram um carrinho de pipoca, vale dizer. Não que Musk seja infalível, mas seu track record, convenhamos, é respeitável. Quem sabe o dono da Tesla, do PayPal e da SpaceX saiba o que está fazendo?

Enfim, o Twitter morreu. Não culpe o coveiro.

A internet limpinha

Esse post do Glenn Greenwald me fez lembrar certas manifestações do PCO que coincidiram com algumas pautas conservadoras, levando até à criação de perfis “não aguento mais concordar com o PCO”. Greenwald é o PCO do jornalismo de esquerda.

Não tinha tido ainda oportunidade de escrever sobre o imbróglio “Elon Musk vs Jornalistas do Washington Post”, mas este post de Greenwald é uma boa deixa.

Para quem está chegando agora, Elon Musk, o novo dono do Twitter, cancelou a conta de alguns jornalistas do Washington Post. Pouco importa a sua alegação, a questão é se Musk tem o direito de cancelar quem quer que seja de sua rede.

O espetáculo de hipocrisia é tão patente que até um jornalista insuspeito para a esquerda conclui o óbvio: censura no fiofó dos outros é refresco.

O Twitter, assim como todos as outras redes sociais, não é uma espécie de dádiva divina à humanidade, tirada do nada para o deleite dos homens. Não. O Twitter é um business, que precisa ser economicamente viável para sobreviver, e só existe porque um empreendedor tirou a ideia do papel. No caso, o Twitter não estava cumprindo a sua função básica de ser viável economicamente, razão pela qual os acionistas decidiram vender todas as suas ações para Elon Musk.

Um efeito colateral da compra do Twitter por Musk é que ficou mais claro do que nunca que a rede social tem um dono. Quem não está contente com seus critérios pode simplesmente abandonar a rede, migrar para outra ou mesmo tentar montar um Twitter do B em que impere os seus próprios critérios. Foi o que tentou fazer, por exemplo, Donald Trump, quando foi expulso do Twitter, sem muito sucesso.

Angela Merkel, quando ainda chanceler da Alemanha, em meio ao debate acirrado sobre regulação das redes, aportou uma ideia que merece ser considerada: parece ser perigoso atribuir às redes a tarefa de regular o conteúdo do que vai em suas páginas, dado que os seus critérios podem não coincidir com os critérios do bem comum. Nesse sentido, Merkel apontava o dedo para legisladores que tiravam o corpo fora da espinhosa tarefa de censurar as redes (este é o nome da coisa), exigindo que as próprias redes o fizessem.

Com a suspensão das contas dos jornalistas, Elon Musk esfrega na cara da opinião pública as consequências não intencionais de se deixar a moderação de conteúdo nas mãos das empresas. Todos querem um internet limpinha e bem cheirosa. O problema está sempre em definir o que é “limpinho e bem cheiroso”.

Money talks

Musk desistiu do Twitter.

Quando o negócio foi anunciado, a direita oprimida do mundo se uniu em regojizo. Finalmente alguém iria libertar a rede social de suas amarras gramscianas, franqueando seus tuítes a todos os que lutam pela liberdade. Uma charge resume o júbilo: Musk abre a gaiola e convida um temeroso passarinho azul a voar livre.

Alguns, inclusive, juravam que o simples anúncio do negócio já tinha feito o milagre da libertação. Teria havido um aumento do número de perfis de direita nas timelines. Pensei com meus botões: qual a chance de o Twitter mudar qualquer orientação (se é que existe alguma orientação) sendo que só existe uma proposta comercial que ainda seria discutida por meses? Para mudar alguma coisa, é só óbvio que Elon Musk precisaria, antes, sentar-se no conselho de administração da empresa. Mas sabe como é, a vontade de ver milagres é poderosa.

Agora, ficou claro que, se Musk eventualmente tinha alguma ideologia por trás de sua oferta, o motivo principal era financeiro mesmo. O bilionário retirou a oferta porque não se sentiu seguro com relação ao que estava comprando. Ele até pode ter uma ideologia, mas não queima dinheiro para manter a chama dessa ideologia acesa. Aos que esperavam o Dom Sebastião das redes sociais, podem puxar o banquinho.

Pode ser que esta seja mais uma jogada de Musk para baixar o preço da mercadoria, e ainda tenhamos o negócio feito. Mas o episódio mostra que, antes de tudo, trata-se de business, e isso vale para todas as redes sociais. Procurar padrões ideológicos por trás do comportamento das redes é perda de tempo. Usar a chave do dinheiro para entender as redes é o caminho mais lógico.

O Facebook não é o Twitter

O Facebook não é o Twitter.

No Twitter, você pode se esconder atrás de um pseudônimo e falar o que quiser sem se expor pessoalmente.

Já no Facebook, você tem nome e sobrenome, tem família, tem amigos e tem uma história. Suas opiniões são suas, não de um pseudônimo.

Acabei de bloquear um sujeito aqui. Comentou em um dos meus posts de maneira agressiva. Fui olhar o perfil: nome esquisito, não tem foto, não tem descrição do perfil.

Quem me acompanha sabe que não fujo do contraditório e aceito que opiniões contrárias à minha permaneçam na minha timeline. A não ser, claro, que sejam grosserias gratuitas.

Todos são bem-vindos aqui. Desde que tenham nome e sobrenome. Quer se esconder? Vai para o Twitter.

Popularidade nas redes

10 milhões no Facebook e 6 milhões no Twitter é bastante gente. Mas é natural: afinal, trata-se de um presidente da república, e não de um presidente qualquer, mas de um com alta popularidade e que construiu sua campanha eleitoral (e vem governando) através das redes sociais.

Mas esses números são colocados em contexto quando comparados aos de Dilma Rousseff, uma ex-presidente que saiu escorraçada do Palácio do Planalto, com popularidade no nível das Fossas Marianas, fora do poder há mais de 3 anos, que obteve um vexaminoso 4o lugar para a eleição do Senado em MG, e sem relevância alguma no cenário político atual.

Com esse curriulum, Dilma tem 3 milhões de seguidores no Facebook e 6 milhões de seguidores no Twitter.

Ou seja, se o presidente quer mostrar seus números nas redes sociais como uma demonstração de sua popularidade, precisará pensar em outro argumento.

O português nosso de cada dia

O problema do 02 é que ele escreve mal. Não sei se algum dia prestou o ENEM, mas sua redação não teria uma nota das melhores. E não por motivos ideológicos.

O caso do tuíte-bomba é exemplar. A diferença de interpretação do texto é esta: Carlos faz uma constatação, que ele acha que deveria levar à conclusão de que devemos ter paciência, enquanto a interpretação geral é de que ele incitava a um golpe contra as instituições democráticas.

Tanto seu tuíte deu margem a esse tipo de interpretação que uma fã bolsonarista (veja acima), insuspeita portanto, acha isso “muito grave”, e afirma que “por vias democráticas é o único jeito” para alcançar o sucesso. Ao que Carlos responde “óbvio!”. A esta altura, ele já deveria ter percebido a m… que fez.

O que deu origem a essa interpretação foi o uso da expressão “por vias democráticas”. Se ele tivesse começado, por exemplo, com um “Em uma democracia”, a repercussão seria mínima, se é que haveria alguma. O “por vias democráticas” passa a ideia de que há outras vias. “Em uma democracia”, por outro lado, dá como certo de que este é o regime, não há outro. E o pior é que o restante do tuíte só reforça a ideia de que “outras vias” deveriam ser buscadas. Afinal, é tudo muito lento, e somos dominados pelos mesmos de sempre.

Carlos se notabilizou pelos seus tuítes sem sentido, da mesma forma que Dilma pelos seus discursos destrambelhados. A fala e a escrita de qualquer pessoa bebem da sua organização mental. Ouvir Dilma falar ou ler os tuítes de Carlos informam muito sobre os seus respectivos mundos mentais. Alguns ainda tentam encontrar nos tuítes do 02 algum sentido oculto, como se fosse uma mensagem cifrada para os Illuminati. Bobagem. São simplesmente mal escritos.

No fim, Carlos, ao invés de vir a público humildemente pedir desculpas, como faria qualquer pessoa civilizada, põe a culpa na imprensa. Como se as pessoas, incluindo a sua fã bolsonarista, não soubessem interpretar um texto e precisassem, para isso, do auxílio de jornalistas. Se o primeiro tuíte pode ser creditado à sua inabilidade para escrever, o segundo não deixa margem a dúvidas sobre o seu caráter.