Boicote oficial

Acho que é a primeira vez na vida que vejo uma campanha oficial de governo DESESTIMULANDO o uso de vacina. Não, acho não, tenho certeza.

Dizem que existe uma lei que permite ao governo obrigar os cidadãos a tomarem vacina. Desconheço. Mas, mesmo que tivesse, acho que nunca foi utilizada. O que ocorre normalmente são as chamadas Campanhas de Vacinação.

Nessas campanhas, o governo estimula a população a tomar vacinas, de modo a evitar a sobrecarga do sistema público de saúde com doenças evitáveis. Sem contar, é claro, com a desgraça pessoal que é sofrer de poliomielite, meningite, tuberculose etc.

Sim, é verdade, ninguém pode obrigar ninguém a tomar vacina. Nem por isso o governo deveria usar o seu poder de comunicação para vender a ideia de que se trata de uma opção como outra qualquer. Não é. Trata-se de saúde pública. A sua doença vai me afetar, pois será um a mais ocupando um leito hospitalar e alguém a menos para produzir para o país. O governo não precisa obrigar, mas tem o dever de estimular. Mensagens como essa têm o efeito contrário.

Até entendo que essa mensagem vem em resposta a uma pressão para tornar a vacina obrigatória. Mas, com o objetivo de rechaçar uma indevida intromissão nas liberdades individuais, o governo joga o seu peso institucional na direção inversa, quase uma mensagem de boicote. E isso é grave quando parte da autoridade constituída.

A diferença? Vacina.

Número de pessoas que morreram de doenças contagiosas no Brasil em todo o ano de 2018 (fonte: Datasus):

  • Tuberculose: 4.081
  • Meningite: 961
  • Sarampo: 8
  • Influenza: 1.215

Número de pessoas que morreram de Covid-19 somente no mês de abril/2020: 5.700.

A diferença? Vacina.

Uma luz no fim do túnel

A seguir, uma reportagem do NYTimes de ontem, sobre uma possível vacina para o Covid-19. Em resumo: um trial da Oxford University foi muito bem com macacos, e começará a ser testado em seres humanos em maio. Se funcionar, poderemos ter uma vacina já em setembro, muito antes de todas as previsões.

Obviamente pode não funcionar. Mas acho que estamos precisando de alguma boa notícia no momento.

A running start for a vaccine at Oxford

Here’s promising news in the worldwide race to develop a vaccine to ward off the coronavirus. The Jenner Institute at Oxford University has one that seems to work in lab animals and is ready to test its effectiveness in humans, if regulators approve.

The institute had a big head start, our correspondent David D. Kirkpatrick reports. Its scientists had an approach that they already knew was safe: They had proved it in trials last year for a vaccine to fight MERS, a respiratory disease caused by a closely related virus.

That has enabled the institute to skip ahead and schedule tests of its new Covid-19 vaccine on more than 6,000 people by the end of May, hoping to show not only that it is safe, but also that it works.

Scientists at the National Institutes of Health’s Rocky Mountain Laboratory in Montana got very good results when they tried out the Oxford vaccine last month on six rhesus macaque monkeys. The animals were then exposed to heavy quantities of the coronavirus. After more than four weeks, all six were still healthy.

“The rhesus macaque is pretty much the closest thing we have to humans,” said Vincent Munster, the researcher who conducted the test.

Immunity in monkeys doesn’t guarantee that a vaccine will protect people, but it’s an encouraging sign. If the May trials go well and regulators grant emergency approval, the Oxford scientists say they could have a few million doses of their vaccine available by September — months ahead of other vaccine projects.

“It is a very, very fast clinical program,” said Emilio Emini of the Bill and Melinda Gates Foundation, which is helping to finance a number of competing efforts.

All in the genes: The Jenner Institute isn’t following the classic approach of using a weakened version of the disease pathogen. Instead, its approach starts with another familiar virus, neutralizes it and then genetically modifies it so that it will prompt the body to produce the right antibodies for Covid-19.

Researchers originally cooked up the technology in a quest to develop a vaccine for malaria, which is caused by a parasite. No luck there yet. But when the idea was borrowed to go after MERS, it worked well.

A esperança nunca morre

O problema não é a quarentena em si. O problema é a incerteza.

Se alguém pudesse dizer com certeza “olha, vamos ter que ficar 3 meses em quarentena, mas depois desse prazo uma vacina milagrosa reduzirá a zero a chance de novos contágios”, estou certo de que a mudança de humor seria generalizada. As pessoas e os mercados (que nada mais são do que a expressão financeira das pessoas) comemorariam, tendo muito mais ânimo para aguentar o tranco.

Pois acredite nisso. Há uma rede nunca vista de cientistas trabalhando para encontrar a tal “vacina milagrosa”. É difícil que seja daqui a 3 meses, mas é questão de “quando”, não de “se”. Enquanto isso, é importante procurar “achatar” a curva de contaminação, para que o sistema de saúde dê conta, como estão fazendo todos os países do mundo. O importante é ter fé de que isso terá um fim.

Como assim?

Como assim, apenas 2%????

Imagine você ser informado que a cada 50 voos, um vai cair. Você entraria em um avião?

Ou esse número está errado, ou é melhor evitar lugares sujeitos à transmissão da febre amarela, mesmo vacinado.