Bolsonaro não resiste a uma casca de banana. Quando vê uma, corre em sua direção para escorregar. Foi o que aconteceu ontem. Cedeu às provocações de um crítico, saiu do carro onde estava e tentou tomar o celular de sua mão. Se o presidente continuasse em seu caminho, o evento estaria restrito ao público do, até ontem obscuro mas agora globalmente famoso, YouTuber Wilker Leão. Agora, temos a cena de um político truculento avançando para tomar o celular de um cidadão. Parabéns, presidente.
Mas essa não é a parte mais suculenta dessa história. Wilker Leão não é petista. Pelo contrário. É um YouTuber de direita, apoiador de Bolsonaro. Na verdade, apoiador da imagem que Bolsonaro construiu para si mesmo, mas que ele mesmo não segue. O destruidor do sistema, aquele que iria colocar a política brasileira em seu devido lugar, tornou-se a “tchutchuca do Centrão”. Wilker Leão é daqueles seguidores que não entendem o xadrez 4D jogado pelo presidente, uma estratégia que permitirá destruir o sistema alçando seus principais artífices aos mais altos postos do poder.
Mas o mais interessante veio na declaração que o YouTuber tricolor deu ao Estadão: esta seria a única forma de debater com o presidente, usando a sua própria forma de comunicação. Nada menos que brilhante. Bolsonaro se notabilizou pela sua espontaneidade, pela sua forma simples de falar, que beira muitas vezes à grosseria e que, muitas vezes, fere a sensibilidade dos espíritos mais sensíveis. O YouTuber, que bebe na fonte do presidente, usou do mesmo linguajar. Bolsonaro perdeu a esportiva, quando, na verdade, deveria ter parabenizado aluno tão aplicado.
O evento vai tirar votos do presidente? Pouco provável. Wilker Leão e seus seguidores mais radicais continuarão a votar na “tchuchuca do Centrão” contra o PT. Mas o episódio é útil para entender a natureza da fauna que orbita Bolsonaro.