O peso do setor financeiro

Em seu primeiro dia de negociação na Nasdaq, a XP foi cotada a US$33/ação, o que resulta em um valor de mercado de aproximadamente US$18 bi. Isso faz da XP a 12a maior empresa brasileira de capital aberto, empatada com a Magazine Luiza. O ranking das 20 maiores empresas de capital brasileiro aberto é o seguinte (valores em dólares):

  • 1. Petrobras: 99 bi
  • 2. Itaú: 79 bi
  • 3. Ambev: 70 bi
  • 4. Bradesco: 64 bi
  • 5. Vale: 63 bi
  • 6. Banco do Brasil: 32 bi
  • 7. Itaúsa: 28 bi
  • 8. B3: 23 bi
  • 9. Vivo: 22 bi
  • 10. BTG Pactual: 19 bi
  • 11. Magazine Luiza: 18 bi
  • 12. XP: 18 bi
  • 13. BB Seguridade: 17 bi
  • 14. JBS: 17 bi
  • 15. Weg: 16 bi
  • 16. Suzano: 12 bi
  • 17. Eletrobrás: 12 bi
  • 18. Lojas Renner: 10 bi
  • 19. Sabesp: 10 bi
  • 20. Hapvida: 10 bi

Note que, dos 12 primeiros lugares, 7 são do mercado financeiro, sendo 4 bancos . Isso porque a Caixa não tem capital aberto, senão certamente figuraria entre as maiores 12 empresas.

Dentre as 12 maiores empresas americanas, 4 são do mercado financeiro, sendo 2 bancos. E 5 são de tecnologia.

A XP surge como um disruptor do modelo centrado nos bancos. Atrás dela outras startups certamente surgirão. Mas o peso do setor financeiro no Brasil continuará o mesmo durante ainda muito tempo.

Jornalismo de fancaria

“Para a plateia de investidores que pagaram a partir de 1.500 reais pelo ingresso, os aplausos a Moro se justificam pelo bom momento do mercado acionário. Investidores têm preferido ignorar a onda de denúncias contra o ministro da Justiça e o constrangimento político causado por elas e focar a reforma da Previdência.”

Esta é a essência da reportagem da Exame sobre a participação do ministro da Justiça no evento da XP.

Segundo a Exame, ninguém ali estaria aplaudindo porque acha que Moro fez um bom trabalho, colocando um bando de bandidos na cadeia. Não. O pessoal está mesmo interessado é nos lucros da bolsa e, por isso, “prefere ignorar” a “onda de denúncias”.

“Preferir ignorar” significa ter consciência de que há algo muito errado mas, mesmo assim, deixar para lá, pois os lucros da bolsa são mais importantes. Com essa frase, a Exame sugere que os investidores são coniventes com um crime, pois “preferem” ignorá-lo, mesmo supostamente sabendo que existe.

“Onda de denúncias” é aquela frase que dá a sensação de que são muitas pessoas denunciando muitas coisas, como foi o caso, por exemplo, do Petrolão. Quando, na verdade, tem-se um jornalista comprometido com uma causa, que está usando material de origem duvidosa para denunciar uma coisa só: a suposta parcialidade de Moro. Não há onda nenhuma, há canalhice a conta-gotas.

Exame vai bem desse jeito. A julgar por essa reportagem e pelo uso de fontes duvidosas pela Veja, os novos donos da Abril vão ter trabalho para reconstruir o jornalismo por aquelas bandas.

É de graça se assim lhe parece

Raquel Balarin escreve uma excelente coluna hoje no Valor, da qual destaco o trecho abaixo.

Ontem, o Valor publicou reportagem mostrando o conflito de interesse que existe no modelo de negócios da XP, onde o assessor de investimentos recebe rebate dos produtos que vende. O mesmíssimo conflito que existe nos bancos, modelo que a XP diz que veio para superar.

Balarin mostra que esse modelo tem sua origem no fato de que o investidor não quer pagar pela assessoria. Acredita que a XP lhe oferece serviços gratuitamente. A jornalista estende o conceito para outras áreas de finanças e para a vida em geral: as pessoas não querem pagar pelos serviços que consomem.

As empresas têm duas formas de cobrar pelos seus serviços: a primeira é escondendo o custo, como faz a XP. A segunda é cobrando mais de quem paga, para compensar aqueles que não pagam. Neste segundo grupo, se todos adotassem a prática do “gato”, no limite o serviço deixaria de ser prestado. O “gato” só existe porque existem trouxas que pagam a conta.

Levar vantagem é um esporte nacional. O problema é que é preciso alguém que se disponha a ser o trouxa. No final do dia, o Brasil é um país de trouxas que se acham espertos.