O livro “A revolta de Atlas”, de Ayn Rand, termina com um trem parado, por falta de combustível, no meio do nada. Esta cena simboliza o estado da civilização na falta absoluta da iniciativa privada.
Lembrei dessa cena final ao ler a reportagem de Veja sobre o estado lastimável da Uerj, que ainda não tem data para iniciar suas aulas. Luiz Fux e Luis Roberto Barroso, dois ministros do STF, se formaram e lecionam lá. Obviamente, os dois acham a situação lamentável. Não pude deixar de pensar que o país que estes dois senhores estão ajudando a construir, a mentalidade corporativa que impera na elite brasileira, teve o seu papel nesse estado de coisas.
O reitor da universidade aponta como uma possível saída o auxílio de ex-alunos através de doações. “As grandes universidades americanas fazem isso com grande sucesso”. Sempre que ouço isso, não consigo deixar de pensar no preço da anuidade de uma Harvard. As doações de ex-alunos financiam os cursos deficitários e os alunos mais pobres. Os outros pagam, e pagam muito bem. Imagine você, ex-aluno da Uerj (vale para USP, Unicamp e todas as outras universidades públicas), sendo chamado a financiar a mensalidade de alunos criados com danoninho e filé mignon. É simplesmente desonesto pensar em uma solução desse tipo enquanto a universidade pública for gratuita para todos. O Insper é uma universidade paga (e bem paga). No entanto, recebe doações de ex-alunos e do empresariado em geral. Há um conselho que decide a distribuição de bolsas e financiamentos para alunos com bom potencial, mas que não têm condições de pagar. Este é o modelo que funciona.
O reitor teve outra “ideia”, e já está conversando com deputados a respeito: isenção fiscal para empresas que doarem para a universidade. Genial: mais subsídios para alunos que podem pagar, e para uma repartição pública com inchaço de funcionários. O Brasil, definitivamente, merece estar parado no meio do nada.