O falso paraíso na terra

Ao que tudo indica, teremos dois candidatos da nostalgia. Bolsonaro e o candidato do PT apelam para um tempo idílico, em que o Brasil era o próprio paraíso na Terra.

Para os bolsonaristas de primeira hora, a candidatura do ex-capitão remete aos bons tempos do Brasil Grande, quando Nixon afirmou que “para onde se inclinar o Brasil, se inclinará a América Latina”. Era um tempo em que se podia andar pelas ruas sem medo, onde a ordem e o progresso andavam de mãos dadas. O Brasil crescia a olhos vistos, e o status de país desenvolvido estava logo ali na esquina.

Para os lulistas de carteirinha, a candidatura do poste de Lula também remete aos tempos de um Brasil Grande, quando Obama chamou o capo de “O Cara”. Era um tempo em que pobre podia andar de avião e o filho do pobre podia sonhar com um diploma. O Brasil crescia a olhos vistos, e o status de país desenvolvido estava logo ali na esquina.

Ambas as visões são, obviamente, falsas.

Em ambos os casos, uma receita de sucesso desandou, porque seus operadores não souberam decifrar a verdadeira natureza do que estava acontecendo.

As reformas de Bulhões e Roberto Campos deram margem ao período do chamado “milagre econômico brasileiro”. Ocorre que, após o 1o choque do petróleo, Geisel quis esticar o milagre, com base no endividamento externo. Conseguiu em um primeiro momento, para depois sucumbir sob o peso da dívida e da inflação, o que resultou na chamada “década perdida”.

Depois de uma série de congelamentos de preços e um confisco geral, o governo FHC finalmente começou a colocar ordem na casa. Fincou os alicerces institucionais que permitiram a perenidade do Real. Fez o papel que Bulhões e Campos tiveram no final da década de 60.

O governo Lula, ao não desmontar o arcabouço herdado de FHC e contar com o boom das commodities, colheu os frutos das reformas operadas no período anterior. Lula foi o Medici da Nova República, o presidente mais popular de sua era.

Mas, com a crise financeira global, a festa chegou ao fim. Lula, e depois principalmente Dilma, fizeram o papel de Geisel na década de 70: tentaram estender a festa a todo custo, por meio do crédito e do endividamento interno. Estamos em meio ao estouro dessa bolha.

A visão idílica vendida por ambas as candidaturas simplesmente não tem como ser cumprida antes de passarmos por um ajuste de contas brutal. E, como estamos vendo com a Argentina, os credores não estão muito pacientes.

O próximo governo, qualquer que seja, está fadado a ter, quando muito, os índices de aprovação de FHC, que foram bem mais ou menos. Isso, se fizer tudo certo. Se insistir em políticas populistas, será escorraçado do Planalto antes que possa dizer “recebi uma herança maldita”.

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