Alguns são mais povo do que os outros

O Ibama está com falta de pessoal para licenciar obras no valor de R$144 bilhões.

Ontem compartilhei reportagem mostrando que a folha de pagamentos federal totaliza 1,275 milhão de funcionários, sendo que metade está aposentada com salário integral. O mesmo deve acontecer no Ibama.

A Constituição garante muitos direitos ao povo. Ao povo que passa em concurso público.

Consenso inexistente

Eugênio Bucci nunca me decepciona. Dessa vez não foi diferente.

No final de um artigo em que desanca Bolsonaro por suas falas no momento do impeachment e contra a deputada Maria do Rosário, o professor da ECA-USP falseia a história para que caiba em sua narrativa.

Ao defender a ditadura militar, Bolsonaro estaria atingindo o alicerce mesmo da frágil democracia brasileira, a saber, o consenso de que houve tortura e ditadura praticadas pelo Estado brasileiro.

É uma bela narrativa. Pena que seja falsa.

O consenso que permitiu a volta do regime democrático foi uma anistia ampla, geral e irrestrita para ambos os lados da contenda. A anistia foi o que permitiu serenidade de ânimos para que pudéssemos seguir em frente. Foi diferente, por exemplo, na Alemanha, onde a condenação ao nazismo permitiu o ressurgimento do país aos olhos do mundo e de si mesmo.

Seria como se outro dissesse que a democracia brasileira repousa sobre o consenso de que a esquerda brasileira queria implantar uma ditadura comunista no Brasil, e que qualquer dissenso sobre isso seria uma grave ameaça às nossas instituições.

Quero deixar claro que, assim como Bucci, acho as falas de Bolsonaro inaceitáveis. Isso é uma coisa. Outra coisa é dizer que houve consenso sobre aquele período tenebroso da história. Tanto não houve, que Bolsonaro tem 30% de intenções de voto, mesmo falando tudo o que ele fala. Ou, talvez, por tudo o que ele fala.

Houve uma anistia ampla, geral e irrestrita, que é a forma brasileira de resolver conflitos. Mas esse assunto insiste em não morrer, e por culpa única e exclusivamente das esquerdas, que insistem em Comissões da Verdade e punições, em clara afronta ao consenso primordial, qual seja, a anistia.

Bolsonaro é apenas a reação encarnada à tentativa de empurrar goela abaixo da sociedade um consenso que não houve.

Pergunta de matemática

Pergunta de matemática: qual o tamanho do conjunto intersecção entre os participantes dos protestos pelo impeachment em 2015/2016 e os participantes do protesto #elenão programados para o próximo dia 29?

Outra pergunta: qual deveria ser o tamanho dessa intersecção para considerarmos este protesto um legítimo movimento da cidadania brasileira e não apenas um ato eleitoral pró-PT, dado que o poste de Lula é claramente o seu beneficiário?

Ou o Brasil acaba com a saúva, ou a saúva acaba com o Brasil

A folha salarial do funcionalismo público federal totaliza R$300 bi/ano. São R$120/mês por habitante do Brasil, ou quase R$500/mês por família. Não estão computados nesse valor os gastos com os funcionários da educação básica (até o ensino médio) e da segurança, que são de responsabilidade de Estados e Municípios.

São 1,275 milhão de servidores só no Executivo, sendo 634 mil ativos e 641 mil aposentados e pensionistas. Ou seja, para cada dois salários, apenas um trabalha. Dos 634 mil na ativa, 108 mil já estão aptos a se aposentarem.

O gasto médio por servidor público (aposentado ou na ativa) é de R$19.600/mês. Para cada um.

Os servidores são representados por mais de 200 sindicatos.

Há carreiras como datilógrafo, inspetor de café e operador de vídeo-tape.

Ou o Brasil acaba com a saúva, ou a saúva acaba com o Brasil.

Impressões sobre o debate no SBT

No #debateSBT vi alguns movimentos interessantes, que indicam a tática para esta reta final no 1o turno, e podem dizer um pouco sobre apoios no 2o turno:

– Álvaro Dias foi o mais vocal contra o PT, chamando o partido de “organização criminosa”. Nem citou Bolsonaro. Surfando na onda anti-petista no sul, pode declarar apoio ao candidato do PSL.

– Ciro também foi agressivo com o PT. Pelo visto, ainda não desistiu de ser visto como uma 3a via, uma alternativa da esquerda para bater Bolsonaro. As pesquisas de 2o turno lhe dão razão.

– Alckmin bate no PT e em Bolsonaro, mas quase en passant. Gasta o grosso do seu tempo com platitudes, do tipo “precisamos investir em infra-estrutura”. Soltou um “resolutividade” no meio de uma resposta, o que deve ter lhe roubado 0,5% das intenções de voto.

– Haddad vai bem. É inteligente, rápido e articulado nas respostas, e tem um script que executa bem, a mistificação dos bons tempos do Lula. Tem um patrimônio para mostrar, e mostra com habilidade. Mas tenho a impressão de que, se pegar o ex-capitão inspirado em um debate no 2o turno, vai ser comido com farinha, pois será tirado de sua zona de conforto, coisa que só Álvaro Dias tentou uma vez, e com relativo sucesso.

– Marina: oi?

– Meirelles: muito ruim. Mas muito ruim mesmo.

– Cabo Daciolo: respondendo a uma pergunta de Guilherme Boulos, proclamou seu amor às mulheres brasileiras e “profetizou” sua vitória em 1o turno, em nome de Deushhhhh. (um debate em que Boulos faz pergunta a Daciolo, ambos com traço nas pesquisas, e deixa Amoedo, tecnicamente empatado com Marina, de fora, tem alguma coisa muito errada).

– Bolsonaro: o grande vitorioso da noite, porque não apanhou muito. Seu nome só foi pronunciado por Boulos e por Carlos Nascimento, que lembrava, no início de cada bloco, que ele não estava presente porque havia sofrido um ataque (propaganda subliminar positiva). O tema das mulheres foi tocado algumas vezes, principalmente pela Marina, o que indiretamente o prejudica. A essa altura, Bolsonaro está tocando a bola no meio de campo esperando o fim do 1o tempo. Quanto menos aparecer, melhor.

Ainda não existe lei para obrigar uma empresa a existir

A justiça do trabalho reverteu as demissões da Abril. Há duas alternativas:

1) A empresa consegue reverter a decisão em instância superior ou

2) A empresa fecha, colocando na rua os trabalhadores demitidos e mais aqueles que haviam ficado.

Ainda não há lei no Brasil que obrigue uma empresa a existir somente para preservar empregos. Ainda.