Os militares e as abelhas

No desenho animado “Bee Movie”, um grande momento na vida das abelhas acontece quando elas ficam conhecendo a atividade a que se dedicarão pelo resto de suas vidas. O filme é engraçadinho, com o protagonista se rebelando contra seu destino de abelha-operária e metendo-se a ser abelha coletora de pólen.

Os seres humanos não somos abelhas. Não nascemos com uma ocupação predestinada. Temos o livre-arbítrio para escolhermos o que queremos ser, dentro de nossas circunstâncias históricas e pessoais. Não significa que possamos ser qualquer coisa, mas dentro de um campo de escolhas, temos várias possibilidades.

Lembrei-me deste filme a respeito da reforma da previdência dos militares. A classe defende que é “diferente”, que não possui uma série de “privilégios” de outras categorias e que, portanto, teria direito a privilégios em suas aposentadorias.

Ora, não somos abelhas. Ninguém obriga ninguém a ser militar. A pessoa decide ser militar por sua livre e espontânea vontade. Com tudo o que significa a carreira militar, incluindo “não ter FGTS” e “ficar 100% do tempo disponível”.

Não vou aqui entrar no mérito de que o FGTS é um seguro para quem pode ser demitido e ficar 100% do tempo disponível não é uma exclusividade dos militares (médicos, advogados e executivos de empresas que o digam). Meu ponto é outro.

Se os militares argumentassem com uma eventual dificuldade de atrair novos soldados para a carreira militar, aí sim estaríamos tratando de um problema econômico. Neste caso, a carreira militar estaria precisando ficar mais atraente para equilibrar demanda e oferta. Mas não parece ser este o caso. Há, pelo que tudo indica, excesso de contingente. A carreira militar precisaria ser MENOS atraente e não MAIS. O Estado brasileiro poderia gastar menos com seus militares e mais, por exemplo, com equipamentos militares.

Ao tratar a reestruturação da carreira e a sua reforma mais branda de suas aposentadorias como uma questão de “justiça”, os militares entram em um terreno pantanoso. O que é “justiça” neste caso? Quantas outras categorias poderiam (e efetivamente deverão) alegar “injustiças” para requerer a manutenção ou aumento de seus privilégios? Cada categoria tem as suas peculiaridades, e saberão explora-las no trâmite da reforma. A única abelha que não consegue defender seus “privilégios” é a operária. Por sinal, é a abelha que produz o mel para toda a colmeia.

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