Porque a Abril está falida

Quem é Dilma?

Que relevância tem a sua opinião sobre Bolsonaro?

O que a Exame, uma revista supostamente de negócios, está fazendo repercutindo essa fala?

Este tuíte explica muito do porque a Abril está falida.

Quem perde?

Verdade 1: sem o teto de gastos, a dívida pública tem trajetória explosiva, e será uma questão de tempo para que fique inadministrável.

Verdade 2: com o teto de gastos, sem uma reforma da Previdência, o espaço para outros gastos que não as pensões, assistência social e gastos com pessoal diminuirá ao ponto de desaparecer por volta de 2022.

Verdade 3: sem uma reforma da Previdência, o teto de gastos cai, pois será insustentável politicamente gastar zero em outras rubricas que não Previdência e pessoal.

O corolário das três verdades acima é que o espaço fiscal criado pela reforma da Previdência será usado para gastos em outras rubricas e geração de superávit primário. Nesta ordem.

O que o projeto de reforma da Previdência dos militares fez ontem foi “carimbar” o ganho fiscal dessa parte da reforma com gastos com os próprios militares. Seria como se cada corporação fizesse a conta de sua contribuição para a reforma e exigisse uma contrapartida do mesmo tamanho. Assim, o espaço fiscal ganho já estaria comprometido com a própria corporação. E não tenha dúvida de que isso acontecerá.

Quem perde? Não precisa pensar muito: quem não tem lobby em Brasília. Depois Bolsonaro vai culpar os institutos de pesquisa pela queda nos seus índices de popularidade.

Perto da calamidade

A venda de 100% de companhias aéreas para estrangeiros foi aprovada na Câmara. E não foi uma aprovação qualquer: o texto foi aprovado por maioria constitucional. Com essa maioria, a reforma da Previdência teria sido aprovada.

Essa aprovação por acachapante maioria traz algumas lições:

1. A Câmara vota quando o governo se empenha.

2. A Câmara vota quando a situação chega perto da calamidade. Esse projeto recebeu seu impulso final depois que a Avianca pediu concordata, mostrando a fragilidade das companhias aéreas locais.

3. A Câmara vota pautas liberais (no caso, liberalismo selvagem) quando o governo se empenha e quando a situação chega perto da calamidade.

Esta é uma lição para a reforma da Previdência. A coisa chegou perto da calamidade. Falta o governo se empenhar.

Esse pessoal liberal

“… esse pessoal liberal”.

Ricúpero não consegue esconder o seu esgar de nojo ao se referir a “esse pessoal liberal”. O seu asco é tamanho, que mesmo reconhecendo a importância da entrada do Brasil na OCDE, afirma que será muito difícil, pois isso significaria o Congresso aceitar regras mínimas de governança. Ou seja, somos uma República de Bananas irremediável, onde boas regras de governança nunca serão aprovadas.

Não espanta, portanto, que Ricúpero prefira ficar agarrado a regras protecionistas para países pobres. Afinal, se nunca seremos capazes de entrar no tal “clube dos ricos”, melhor permanecer em nosso mundinho.

Coloquei abaixo a análise do Valor de ontem, onde se minimiza a importância das salvaguardas da OMC. Mas, mesmo que fosse algo importante para alguns setores. A entrada na OCDE significa mudanças de regras estruturais da economia, que têm efeito muito mais duradouros sobre crescimento e produtividade.

Ricúpero prefere continuar protegendo setores com forte lobby em Brasília, no melhor tradição do “crony capitalism”. Não é à toa que sente asco dos “liberais”.

O trigo de dona Maria

Os plantadores de trigo estão preocupados. Afinal, o trigo americano vai entrar no Brasil mais barato.

Na reportagem, não li nenhuma declaração da D. Maria ou do Seu João, que compram pão todos os dias para as suas famílias, e poderão contar com um produto mais barato. Afinal, o que interessa é proteger o produtor, que se lasque o consumidor final.

Intenção é crime?

No filme Minority Report (quem não assistiu, assista, é muito bom!), a polícia conta com 3 jovens que têm o poder de ver a intenção das pessoas. Esses jovens comunicam à polícia um assassinato a ser realizado, e a polícia prende o assassino antes que o crime ocorra.

Claro que a grande questão ética é saber se é legítimo prender um criminoso antes que ocorra o crime de fato. Mas o índice de criminalidade caiu muito, então essa questão ética é deixada de lado em nome do pragmatismo.

Lembrei-me desse filme ao ler essa reportagem sobre um suposto “mentor” do crime de Suzano. Apesar de aparentemente não ter participado do crime, parece claro que teria participado se tivesse tido a oportunidade. Trata-se, tudo indica, de um psicopata. A questão que se coloca: é legítimo prendê-lo antes de qualquer crime? É razoável deixá-lo solto sabendo-se, como os jovens de Minority Report, de suas intenções? Intenção de cometer um crime é já um crime?