Por que as jogadoras ganham menos?

A vitória de 13 x 0 da seleção americana contra a Tailândia (!) no mundial feminino acendeu um debate naquele país: as mulheres deveriam receber mais que os homens por serem mais competentes?

O que nos leva a concluir que, se a seleção brasileira feminina for eliminada ainda na fase de grupos (possibilidade real, pois precisa vencer a Itália e torcer para a seleção australiana não golear a Jamaica), as mulheres passariam a merecer salário menor do que os homens…

Discussões idiotas como essas à parte, o ponto levantado pelas mulheres é a falta de patrocínio à altura do que recebem os homens. Marta recusou ofertas de patrocínio por considerá-las inadequadas. Um protesto contra as empresas.

Bem, as empresas de material esportivo, e todas as outras que patrocinam o esporte, o fazem para fixar suas marcas e ganhar ou fidelizar consumidores. Portanto, dirigem suas verbas de patrocínio para onde o consumidor está.

Não tenho as contas, mas provavelmente as verbas publicitárias são proporcionais à audiência dos torneios. Então, os culpados pelo baixo incentivo ao futebol feminino não são as empresas, mas os consumidores, que insistem em não assistir os jogos da seleção feminina.

O trecho abaixo foi retirado da página de esportes do Estadão, que dedicou duas páginas para a Copa América e meia página para a Copa do Mundo feminina. Os editores sabem o que vende jornal.

Alugueis congelados

A assembleia democrata de Nova York reformou uma lei de inquilinato para torná-la ainda mais inclinada a proteger os inquilinos (ver matéria aqui). Muito justo.

No entanto, como acontece com toda lei bem intencionada, há consequências não intencionais. No caso, protege os atuais inquilinos, mas deixa na chuva os inquilinos do futuro. É o mesmo que ocorre com as leis trabalhistas: protegem quem têm carteira assinada, mas fazem este grupo ser cada vez menor, pois os empresários têm cada vez menos condições de contratar dentro das leis.

A consequência de uma lei que protege os inquilinos é até fácil de antecipar: o número de unidades para locação deve diminuir, e os preços iniciais vão aumentar, pois os proprietários vão querer se proteger. É uma mera aplicação da lei da oferta e da demanda, que não pode ser revogada. Por outro lado, os preços dos imóveis podem até cair em um primeiro momento, pois o incentivo para investimento em imóveis para aluguel desaparece, retirando do mercado potenciais compradores. Em um segundo momento, no entanto, o investimento em imóveis cairá também, afetando a economia como um todo.

Por fim, todos os inquilinos agora estão reféns dos imóveis onde moram. Mudar não faz parte das opções, pois enfrentarão um mercado inóspito de aluguel. Esta lei congela o mercado de locação.

Idade da Pedra

Bancários em greve.

Dentro da agência, clientes fazem operações nos caixas eletrônicos.

Em casa, clientes fazem operações nos seus computadores.

Na rua, clientes fazem operações nos seus celulares.

O sindicato dos bancários ainda vive no século XX. Por isso são contra a reforma da Previdência.

Cota de sacrifício

“Banqueiros também precisam de cota de sacrifício”.

Na verdade, quem vai dar a sua cota de sacrifício serão os tomadores de crédito, pois o imposto adicional será repassado ao spread bancário.

Falácia

Gilmar Mendes faz uso de uma falácia para defender o uso de provas com vício de origem. Dá como exemplo o uso de tais provas no caso de uma pessoa condenada injustamente, em que a prova da inocência tenha sido obtida por meios ilícitos.

Ora, o exemplo se refere à presunção de inocência. O ônus da prova é de quem acusa. Portanto, não há “prova de inocência”. Ninguém precisa provar que é inocente. Ao se deparar com indícios que enfraquecem a prova da culpabilidade do réu, o juiz pode inocenta-lo, mesmo que não tenha certeza da sua inocência. Portanto, indícios obtidos, mesmo que de maneira irregular, podem abalar a convicção da culpabilidade.

O inverso não. As provas de culpa devem ser robustas e não podem ter vício de origem.

Não sou operador do direito, muito menos juiz, mas entendo um pouco de raciocínio lógico. Gilmar Mendes embaralha os conceitos. Com que objetivo?

Negociação

Negociação.

Quantas vez tive que ler aqui que “negociação” era sinônimo de roubalheira. Que o Congresso teria que aprender na marra a seguir as vontades do Executivo por que esta era a “vontade do povo”.

O governo liberou verbas para o Minha Casa Minha Vida, universidades federais e a transposição do Rio São Francisco. Em troca, ganhou aval para não cumprir a regra de ouro. Isto foi uma NEGOCIAÇÃO.

Não vamos nos iludir, no entanto. Tratava-se de uma matéria que afetava diretamente programas para os mais pobres, como Bolsa Família e BPC, e os congressistas sabem onde o seu calo aperta. Então, mesmo em um assunto tão delicado para si próprios, conseguiram arrancar concessões do governo. Além disso, três vetos de Bolsonaro foram derrubados ontem, numa demonstração de que a negociação serviu especificamente para o PLN4.

A negociação ad hoc para cada projeto, sem contar com uma base estável no Congresso, custa mais caro e é mais “emocionante”, pois o Congresso chantageia o Executivo até os 48 minutos do 2o tempo. Melhor seria ter uma base, mas esse não é o modus operandi desse governo.

A história que não fecha

O Intercept nega que as conversas tenham sido obtidas por meio de hackers.

Ocorre que a fonte é “anônima”. Portanto, a ser verdade, o Intercept não tem como afirmar quem de fato está por trás.

Além disso, para afirmar que as conversas foram obtidas antes do hackeamento, seria preciso saber QUANDO ocorreu o hackeamento. O que o Intercept não tem como saber, a não ser que tivesse ligação com os hackeadores.

Ou seja, o Intercept tenta se livrar da acusação de interceptação de fruto de crime. Mas a história não fecha.

Fábula da Previdência

Coluna de Pedro Fernando Nery, descrevendo com maestria as agruras de quem financia o déficit da Previdência.
Abaixo, favela em formação na Av Rebouças, São Paulo, formada por pessoas que não têm nem ideia de que estejam financiando o déficit da Previdência.

Moro na corda bamba

Provas obtidas por meios ilícitos não podem ser consideradas em um processo. Sendo assim, as supostas trocas de mensagens entre Moro e Dallagnol não serviriam, por exemplo, para anular a condenação de Lula. A qual, aliás, foi confirmada por duas instâncias superiores.

Mas o estrago político pode ser grande, a depender da disposição do Congresso, do Supremo e da opinião pública de acreditar nesses vazamentos e nos próximos que certamente estão por vir.

O cargo de Moro dependerá da disposição de Bolsonaro de segurar a bucha.