Frota própria

Não foi por falta de aviso.

A situação dos caminhoneiros não melhorou após a adoção da tabela de fretes. Na verdade piorou, pois aumentou a oferta de frete, com a aquisição de caminhões para frotas próprias. Deve ter mais caminhoneiro autônomo sem frete do que havia um ano atrás.

Foi um jogo perde-perde: perderam os caminhoneiros, pois houve aumento da oferta de frete, e perderam as empresas, pois tiveram que lançar mão de uma solução menos ótima (por ser menos flexível) para o seu problema de transporte.

Como todo tabelamento de preços, essa tabela de frete nasceu morta, pois os agentes econômicos se adaptam. Não há corporativismo que mude leis básicas da economia.

Papelão

“Bate recorde”. Isso aqui é a manchete principal do Estadão hoje.

Aí você vai ver o detalhe, FHC e Lula editaram tantos decretos quanto Bolsonaro no início de seus respectivos governos, com diferença mínima em relação a Bolsonaro. Na letra fria da matemática sim, Bolsonaro “bateu o recorde”. Mas na estatística, a diferença não permite chegar a nenhuma conclusão, a ponto de servir de manchete principal.

Defendo com unhas e dentes o papel da imprensa na cobrança aos governos de plantão. Imprensa a favor de governo só o Pravda e o Granma. Mas se um troço desses merece a manchete principal, está faltando assunto. Isso não é papel da imprensa, é papelão.

Corporativismo

Depois da reunião com o representante dos procuradores, estão na fila para reunião com o relator da reforma da Previdência os representantes dos pedreiros, empregadas domésticas, atendentes de telemarketing, caixas de supermercados, motoristas e cobradores de ônibus, cabeleireiros, porteiros, zeladores, frentistas, faxineiros, taxistas, atendentes de loja, costureiras, cozinheiros, garçons, chapeiros, prostitutas, atores de filme pornô, jogadores de futebol, caixas de banco, vendedores ambulantes e pedintes.

Receio que, com toda essa fila para atender, o relatório da Previdência atrase.

Brincando de banqueiro

Dizem que o melhor negócio do mundo é um banco bem administrado, e o segundo melhor negócio do mundo é um banco mal administrado.

Pois bem. O BC acaba de criar a oportunidade da sua vida: torne-se um banqueiro! Se você não tem o capital, não tem problema: encontre um amigo que tenha e que também queira se tornar um banqueiro, peça dinheiro emprestado para ele, e comece a ganhar dinheiro. Muito dinheiro!

Isso me faz lembrar um amigo, que certa vez veio me falar, entusiasmado, que o Citibank havia aberto uma conta corrente para ele. A vida toda ele fora cliente do Bradesco, mas nunca havia sido tão bem tratado como no Citi. Até o limite do cheque especial havia sido o triplo do que tinha no Bradesco! Pensei cá com meus botões: isso não vai acabar bem.

Anos depois, soube que esse meu amigo havia quebrado, deixando um papagaio gigante no Citibank. Recentemente, a operação de varejo do Citi fechou as portas no Brasil. Meu amigo, e pessoas como ele, devem ter tido algum papel nessa decisão.

A senhora da reportagem vai emprestar dinheiro a 3,5% ao mês, porque no banco (Bradesco?) o mesmo empréstimo não sai por menos de 7% ao mês. Quer dizer, o Bradesco, com décadas de experiência no negócio, não cobra menos de 7%, enquanto D. Elaine acha que pode ser banqueira e cobrar metade do preço. Boa sorte.

Viciados em Estado

Vicio em Estado existe em todo lugar do mundo.

Agora, estão exigindo do governo do Nepal que regulamente quem pode e quem não pode subir o Everest. Suponha que isso acontecesse. O governo do Nepal, como resultado, chamaria para si a responsabilidade pela vida dos alpinistas. Afinal, se deu seu aval, é porque havia segurança para a escalada. Imagine a montanha de processos.

Claro que a Associação de Montanhismo do Nepal poderia chamar a si esta responsabilidade, com o aval do governo. Seria a Associação a garantir a segurança da subida. Mas quem quer esse abacaxi? Melhor nas costas do Estado.

O governo do Nepal, um país paupérrimo, ganha 11 mil dólares por permissão de escalada. Fora o dinheiro ganho pelas agências locais de turismo e pelos guias, os sherpas. Aí, para proteger a vida dos “heróis” que querem tirar selfies no topo do mundo, vai dar um tiro no próprio pé. Pode ficar esperando sentado.