Planos falsos coletivos

“Planos falsos coletivos crescem”.

Óbvio. São inicialmente mais baratos do que os planos individuais, oferecendo as mesmas coberturas. Mas tem um pequeno detalhe: seus reajustes não são tabelados pela ANS. Desse modo, quando cresce a sinistralidade de um determinado grupo de pessoas, a mensalidade cresce proporcionalmente, para cobrir os custos do grupo. Não é sacanagem, é matemática.

O sonho de todo mundo é ter um plano de saúde que cubra de unha encravada à cura do câncer por um valor que se possa pagar. E esse valor, que fique claro, deve poder ser pago pelo mais humilde dos trabalhadores. É o sonho da Constituição Cidadã: todos têm direito à saúde de qualidade. O diabo mora na matemática.

Medicina é caro. Os procedimentos mais complexos são caros, os médicos cobram caro, os hospitais que valem o nome de hospitais são caros. Não há milagre que os faça caber no orçamento de qualquer um. O que se tem, sim, é a ilusão criada pela legislação, e implementada pelos juízes, de que é possível mudar a matemática. Não é.

O que é possível, sim, é adaptar os planos aos bolsos dos interessados. Menos cobertura, mais barato. Mais cobertura, mais caro. A ANS quebra essa lógica ao tabelar os reajustes e exigir cada vez mais coberturas. Não à toa, sumiram os planos individuais do mercado e surgiram os falsos coletivos.

Há alguns anos, surgiram também os planos verticalizados, que possuem seus próprios hospitais. Aqui em São Paulo temos a Prevent Senior, que tem sido um sucesso de vendas, oferecendo planos com boa cobertura a preços acessíveis. Não sei como conseguem nem sei se é um modelo sustentável no tempo. O que sei sim é que funcionou a lei de mercado: em um mercado onde os planos tradicionais não conseguiram sobreviver sob as regras da ANS, surgiu um modelo que aparentemente lida melhor com o problema. Embutido nesse modelo está um serviço pior do que o dos antigos planos de saúde, pois o cliente não pode escolher o hospital de sua preferência. Mas esse downgrade é tão sútil, que passa batido por quem usa o serviço. Grande sacada.

O médico responsável pelo levantamento dos planos “falsos coletivos” reclama que a limitação de cobertura é mais um engodo que visa enganar o consumidor. Quando, na verdade, é a única forma de adequar o serviço ao bolso. Para ele, ou é tudo, ou é nada, não há meio termo. Não vou aqui entrar no mérito de quanto custa uma consulta do doutor. Certamente, não está preocupado em deixar seus serviços acessíveis para a população. Universalização de acesso à saúde nos olhos dos outros é refresco.

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