Tive uma ideia!

Tive uma ideia.

Por que não duplicar os salários dos funcionários públicos? Pelo raciocínio do economista da UnB, seria um impulso e tanto para a atividade econômica.

Para não aumentar a dívida (que já está em quase 80% do PIB, e continua crescendo) nem aumentar a carga tributária (que já está em 35% do PIB e continua crescendo), o governo poderia simplesmente imprimir dinheiro.

Faria isso escondido, na calada da noite, de modo que ninguém perceberia algo como 5% do PIB de aumento da base monetária. Assim, se evitariam os efeitos inflacionários da medida.

Pensando bem, acho que dá pra triplicar os salários do funcionalismo.

A gênese dos esqueletos

As prestações do financiamento imobiliário com indexação ao IPCA são de 30% a 50% mais baixas que as mesmas prestações dos financiamentos pela TR. Como o nível total da taxa de juros cobrada tem que ser o mesmo em ambas as modalidades, é óbvio que o grosso dos juros no financiamento pelo IPCA está sendo postergado. Explicando de outro modo: se não há mágica, a economia feita nas prestações iniciais será cobrada posteriormente.

O problema é que quem está entrando nesse financiamento não sabe disso. O pessoal faz a conta do “cabe no bolso hoje” e entra de cabeça. Não por outro motivo, os bancões estão bastante reticentes em abrir linhas nessa nova modalidade. O Bradesco, citado na matéria, vai focar na “alta renda”, que teria mais bala para aguentar um aumento das parcelas no futuro.

O nascimento de esqueletos é sempre um fenômeno fascinante.

A conta não fecha

Quase metade da folha de pessoal na cidade de São Paulo vai para pagar inativos. Ou seja, as despesas com pessoal têm metade da eficiência que poderiam ter.

Não vou aqui entrar no mérito da justiça ou não desses gastos. Estão na Lei, ponto.

Meu ponto é outro: esses gastos não são sustentáveis no tempo. Fizemos uma reforma da Previdência com anos de atraso, e que vai somente diminuir o ritmo da deterioração. Isso se Estados e Municípios entrarem. Senão, nem isso.

Quando metade da folha de pagamentos vai para inativos, é que já viramos uma Grécia. Portanto, o ajuste deveria ser tão draconiano quanto. Lá, houve cortes de até 30% no valor das aposentadorias. Caso contrário, vai acontecer no Brasil inteiro o que já está acontecendo em alguns Estados: devo, não nego, pago quando puder.

No Brasil, o Estado de Bem-Estar Social funciona bem somente para os servidores públicos, às custas do Mau-Estar Social do restante do País. O que está acontecendo agora é que o restante do País disse um basta.

PS.: você, servidor público, não se sinta ofendido por essa análise. Não tenho absolutamente nada contra você em particular. Meu ponto é só econômico: o País não consegue mais sustenta-lo. Está falido. Antes de matar o mensageiro, reflita sobre a mensagem, e comece a fazer uma poupança para tempos de vacas mais magras ainda, que virão.

Prioridades

Sim, as duas notícias estão no mesmo jornal.

O “estudo conceitual” do museu do STF, onde estão as togas de antigos ministros, vai custar módicos R$240 mil, que serão pagos a um escritório de arquitetura de grife.

Não sei quanto é um salário de estagiário no STF, mas na iniciativa privada, esse dinheiro daria para sustentar 10 estagiários durante um ano. Mas o museu deve ser mais importante.

A estatística que me interessa

Quer ver como dois fatos estatísticos incontroversos podem levar a uma conclusão sem pé nem cabeça?

Fato 1: Os Estados da Amazônia tiveram crescimento de registro de armas de fogo de 54,6% de 2017 para 2018, enquanto no restante do País esse crescimento foi de “somente” 39%.

Fato 2: os Estados da Amazônia apresentaram crescimento de 1% nos assassinatos no mesmo período, enquanto no restante do País houve redução de 15% nesses mesmos crimes.

PORTANTO: como houve crescimento maior das armas na Amazônia, o crescimento dos crimes se deu por causa do aumento das armas de fogo. C.Q.D.

Nem vou aqui entrar no mérito de uma regressão estatística com dois pontos. Isso seria muito elaborado. A coisa é pior.

Não ocorre ao diretor do Fórum do Segurança Pública e nem ao jornalista que houve DIMINUIÇÃO de crimes no restante do País com concomitante AUMENTO de registro de armas. Se conclusão houvesse seria a inversa, pois ocorreu uma diminuição significativa de mortes. Na Amazônia, o aumento de 1% é estatisticamente irrelevante.

É claro que, confrontados com esse raciocínio óbvio, o diretor do Fórum e o jornalista rapidamente argumentariam (corretamente) com a insuficiência de dados estatísticos para concluir alguma coisa.

Mais e mais se confirma a definição de Estatística: é a ciência que serve para provar a MINHA tese.

PS: crescimento de 39% nos registros de arma de fogo no País em apenas um ano? Tá certo esse número? Parece meio exagerado, mas não chequei.

Tiro no pé

O cara gasta uma baba de dinheiro pra fazer aparecer o anúncio na minha TL, e escolhe a foto de uma pizza de BRÓCOLIS COM FRANGO! Muito bom esse departamento de marketing.

Privilégios – o nome do mal

Reproduzo abaixo comentário da amiga Liss de Silvio ao meu post sobre as “prerrogativas” da nossa nobreza. Um complemento perfeito, dado que as prerrogativas do funcionalismo público são a outra face da mesma moeda.

“Identificação total com seu artigo, como suele ocurrir.

Os privilégios dos que orbitam o Estado foram não apenas mantidos ao longo dos séculos (salvo uma ou outra aberração contraproducente) , como foram estendidos para cooptação da poderosa categoria dos barnabés.

Em que outro país listado entre os dez maiores PIBs, as filhas dos barnabés de alta nobreza ainda recebem pensão por morte do papis?

Só eu conheço umas quatro, sendo que uma delas, sexagenária, recebe duas.
Os cartórios, até há menos de 20 anos, eram hereditários, como as capitanias. Aliás, a pp existência dessas jabuticabas é inexplicável aos olhos da modernidade.

Os incontáveis penduricalhos que fermentam os holerites da barnabezada, os foros privilegiados, os direitos adquiridos, as centenas de dias de férias/ócio legalmente garantias para os aquinhoados da Ilha da Fantasia, as aposentadorias sequer imaginadas no mundo desenvolvido, as licenças – ah! As licenças!- com que são brindados e que a patuleia paga mas desconhece. Os convênios médicos ilimitados.

Bem, criou-se uma casta para a qual foram destinados todos os direitos e privilégios e nenhum dever (na prática). Ninguém mais mudará isso.”

Em defesa do controle dos gastos públicos

Dentro de pouco tempo, começará uma pressão crescente, que se tornará insuportável, para que o governo “faça alguma coisa” para acelerar o crescimento econômico. Com um desemprego que cairá muuuuito lentamente, o “do something” ganhará força, o que pode levar o governo a tomar medidas irresponsáveis.

Seria muito bom que o presidente lesse este artigo do economista Affonso Celso Pastore, e resistisse às soluções fáceis, que têm como resultado aprofundar o buraco em que nos metemos.

Trabalho sem patrão

Quando é pra elogiar, a gente elogia.

Uma reportagem de uma página inteira do Estadão sobre a rotina dos “bikeboys”, os entregadores de encomendas com bicicletas. E nenhuma, nenhumazinha referência à “precarização do trabalho” ou aos “direitos dos trabalhadores”.

Ou melhor, a palavra precarização aparece uma vez, na boca de um economista do DIEESE, mas para reconhecer que os aplicativos não são os responsáveis pela precarização das condições de trabalho, que essa conta deve ser creditada ao alto desemprego do país. Óbvio, né?

Fora isso, nenhum “especialista” discorrendo sobre como os coitados são explorados pelo sistema. No final, o depoimento de um bikeboy, dizendo que faz isso porque quer, que não tem patrão. Esse é o espírito.

Parabéns aos Estadão e ao repórter Renato Jakitas pela excelente matéria.