Riquezas minerais: um fetiche do subdesenvolvimento

A Suíça não produz um grão sequer de café. A Nestlé importa café de países como o Brasil, e exporta o mesmo café em forma de cápsulas, por muitas vezes o valor do quilo de café.

O Japão não produz um quilo sequer de minério de ferro. A Toyota importa placas de aço produzidas pela China (que por sua vez importou minério de ferro do Brasil), e exporta carros por muitas vezes o valor do quilo de minério.

A Venezuela está sentada sobre as maiores reservas de petróleo do mundo. Não é preciso dizer mais nada.

O fetiche de Bolsonaro por nossas “riquezas minerais” é de chorar. Mas ele não está sozinho. Há muita gente que repete o mantra “como pode um País tão rico como o Brasil ser tão pobre”. E, por riqueza, entende-se as riquezas minerais, o clima bom, o solo fértil.

A verdadeira riqueza de um país é a sua capacidade de gerar valor. Um quilo de minério de ferro só tem valor na medida em que é usado para criar algo que tem valor. E o valor será tanto maior quanto mais tecnologia se aplicar à matéria prima.

Países ricos conseguem mobilizar capital físico e humano para gerar valor. Pouco importa se possuem matérias-primas de baixo valor agregado. Os países que conseguiram se desenvolver compram essas matérias-primas e usam o seu capital acumulado para gerar valor.

Isso tudo é óbvio. Dolorosamente óbvio. Mas ainda estamos na fase de “defender nossas riquezas”. Para que? Para vender a preço de banana para países que criam valor. Ou a preço de minério de ferro.

É uma questão de quem matou

Uma menina de 9 anos foi assassinada anteontem. Estava em uma festa com a mãe em uma escola da periferia de São Paulo. Desapareceu, e seu corpo foi encontrado em um parque próximo da escola.

Raíssa era o nome da menina. Ela era autista.

Raíssa não mereceu horas e páginas de cobertura jornalística.

Raíssa não foi alvo de debates intermináveis na Globo News.

Raíssa não foi tema de análises de “especialistas”.

Raíssa não mereceu um enterro épico, salpicado de balões amarelos.

Raíssa não serviu de palco para embates políticos.

Raíssa, essa sim, será apenas mais uma estatística.

Às vezes, o que importa é quem morreu. No caso, o importante é quem matou.

Econocoah

Quando alguém perde o emprego, imediatamente procura reduzir suas despesas, mesmo que o problema tenha sido de “queda de receita”. No entanto, há economistas que preconizam justamente o inverso. São os “econocoachs”. Sacada genial de Pedro Fernando Nery.