Budismo brasileiro

Hoje tem uma entrevista com a Monja Coen.

Muito prazer.

Fiquei sabendo que Monja Coen é um dos expoentes do budismo no Brasil.

Em sua entrevista, Monja Coen cita três pensadores: Leandro Karnal, Mário Sérgio Cortella e Neymar. Este último nem precisou falar, o elevado pensamento está tatuado em seu pescoço: “tudo passa”.

Monja Coen visitou Lula na cadeia. O trecho vai abaixo. Concluí que na PF de Curitiba está nascendo mais um líder budista no Brasil.

Chico Anisio tinha um personagem chamado Bento Carneiro, o vampiro brasileiro. Era um vampiro avacalhado, mas que desejava ser levado a sério. Os quadros com o personagem sempre terminavam com Bento cuspindo de lado e dizendo “vampiro brasileiro, hmm”, em referência à falta de seriedade de tudo o que é brasileiro.

Nem o budismo escapou da avacalhação brasileira.

Manifestantes

Foto extraída do jornal O Estado de São Paulo

“Manifestantes”

Conhecemos bem esses manifestantes encapuçados.

Os “especialistas” dizem que a revolta é contra um sistema neoliberal que nega acesso ao povo aos bens básicos de saúde, educação e aposentadoria, entregues que estão às forças do mercado. Também conhecemos bem esses “especialistas”.

Em 1988, ano de nossa Constituição Cidadã, a renda per capita brasileira era de 11,4 mil dólares, contra 8,1 mil dólares do Chile (números em paridade do poder de compra). Trinta anos depois, o Brasil tem renda per capita de 14,3 mil dólares, contra 22,8 mil dólares do Chile.

Desigualdade? Segundo dados do Banco Mundial, o índice de Gini do Brasil é de 0,533 contra 0,466 do Chile (quanto menor o índice, menos desigual é o país). O índice dos EUA é de 0,415.

Sim, os chilenos que estão nas ruas querem que o Estado cuide melhor deles. Deveriam olhar para os exemplos de Venezuela, Argentina e Brasil, onde o Estado cuidou muito bem das pessoas nos últimos 30 anos.

Cintra vai reestruturar o PSL

Retirado do jornal O Estado de São Paulo

Cintra foi escorraçado do governo por tocar o samba de uma CPMF só. Até agora não temos notícia de outra proposta de reforma tributária do governo.

Eis que, não mais que de repente, ressurge das cinzas o paladino do Imposto Único. Ficamos sabendo que Luciano Bivar, ele mesmo, é entusiasta da ideia. Cintra vai subsidiar o partido do governo com suas ideias.

Partido do governo?

Quer dizer que o partido do governo vai defender uma ideia de “reforma tributária” já supostamente morta e enterrada pelo próprio governo?

Os gatos continuam brigando dentro do saco.

O país do jeitinho

Extraído do jornal O Estado de São Paulo

Uma grande “janela partidária” está sendo negociada para anistiar os políticos que querem trocar de partido sem perder os seus mandatos. A partir daí, a lei seria seguida rigidamente. Faltou só aquela piscadinha marota para o interlocutor.

O Brasil é o país da anistia, da lei que não pega, do jeitinho.

Outro dia, foi aprovada lei que anistiou os donos de imóveis que haviam construído de maneira irregular em São Paulo. Deve ser a 595a lei nesse sentido. Quem segue a lei para construção é trouxa.

E Refis então? Basta esperar, virá uma lei para livrar a cara de quem não pagou imposto. Mas será a última, certo? Piscadinha marota.

Os Estados quebrados também têm suas contas “renegociadas”. Mas sabe como é, o STF não vai deixar que “necessidades urgentes da população” não sejam atendidas. Então, a renegociação é só pra inglês ver mesmo.

A lei de responsabilidade fiscal vinha para acabar com os problemas financeiros dos Estados. Mas era uma lei muito dura, não pegou.

O teto de gastos é também uma lei muito dura. Imagine estar impedido de dar aumento real de salário para os funcionários públicos? A lei é importante, mas não pode ser tão draconiana assim. E toca arrumar jeito de flexibilizar.

Corrupto na cadeia? Sem dúvida, mas só depois de passar por todas as chicanas do “Estado Democrático de Direito”. Afinal, somos um país que se dá ao respeito.

Não adianta lamentar, faz parte do DNA do país.

Não levamos nada a ferro e fogo. Nossa independência foi decretada pelo príncipe, e passamos por 3 golpes de Estado sem o derramamento de uma gota de sangue sequer. Deve ser recorde mundial. Ah, ok, teve a Revolução Constitucionalista de 32, em que morreram algo como 5 mil cidadãos. Uma sombra, se comparado aos mais de 500 mil mortos da Guerra de Secessão, por exemplo.

Há quem prefira assim. Afinal, resolver tudo na base do jeitinho tem suas vantagens. Melhor uma vara flexível que verga do que uma rígida que quebra. É um ponto de vista. Mas depois não adianta reclamar que o Brasil não é um país sério.

Nó tático

É incomensurável a distância, em termos de poder, entre Jair Bolsonaro e Luciano Bivar. O primeiro é só o presidente da República com uma popularidade não desprezível. O segundo é o obscuro presidente de um partido obscuro. Como então Bolsonaro está passando vexame público na queda de braço com o presidente do seu partido?

Bem, descobrimos todos que presidente de partido manda bagarai. A democracia brasileira (aliás, qualquer democracia liberal) é baseada nos partidos políticos. A vida parlamentar, onde as decisões que importam acontecem, gira em torno dos partidos.

Por isso, em partido com dono, é o dono que indica o presidente. No PT, por exemplo, para ser presidente do partido tem que ter a bênção de Lula. Mesmo de dentro da cadeia. Em partido sem dono, como o PSDB ou o PMDB, o presidente do partido é eleito atendendo às muitas correntes internas.

O PSL é um partido com dono. Chama-se Luciano Bivar. Como todo dono de partido, ele controla verbas e diretórios. Nem a caneta presidencial consegue superar esse poder. Ou melhor, conseguiria, se estivéssemos tratando da “velha política”. Mas como Bolsonaro inaugurou a “nova política”, em que não há barganhas em troca de votos, eventuais promessas de cargos e outras benesses carecem de credibilidade. Afinal, os deputados do PSL foram eleitos sob a bandeira da “nova política”. Como poderiam ceder à “velha”?

Bivar é velha, velhíssima política. E está dando um nó tático em Bolsonaro. No final, o poder do presidente da República deve prevalecer. Afinal, é o presidente da República contra um reles presidente de partido. Mas a batalha deve deixar muitos mortos e feridos no meio do caminho. E o exército de Bolsonaro ficará ainda menor.

A má-vontade construída

EUA e China lideram o ranking de emissores de gases de efeito estufa.

Mas é o Brasil que será o alvo das atenções na semana do clima.

Isso porque os países com as maiores dívidas com o dito combate às alterações climáticas encontraram uma aliado de peso: a retórica inflamada do presidente brasileiro.

Na comunicação, controlamos o que dizemos, mas não o que o outro entende. Ao reafirmar estridentemente a soberania brasileira sobre a Amazônia, Bolsonaro quer dizer que a preservação da região é responsabilidade do País, e vamos cumprir nosso dever dentro dos nossos interesses. Os receptores da mensagem, no entanto, entendem que o Brasil vai destruir tudo mesmo e ninguém tem nada a ver com isso. Reforça esse entendimento a retórica do “vocês também desmataram, por que eu não posso?”.

Óbvio que há uma má-vontade da imprensa global com relação a Bolsonaro. Mas essa má-vontade é cuidadosamente cultivada pelo presidente, que não perde oportunidade de “lacrar” para o seu público interno.

O problema é quando essa má-vontade extrapola o âmbito das redações e redes sociais e vaza para as relações diplomáticas e comerciais. Via de regra, os países são pragmáticos na condução de seus negócios, e não se deixam contaminar por “embates ideológicos”. Não fosse por isso, a China seria um pária internacional. Dentro desse pragmatismo, EUA, Europa e China encontraram o vilão perfeito do clima na figura do presidente incendiário. Falta pragmatismo ao lado brasileiro.