Petrobrás grande

Hoje a Petrobras anunciou a produção média de petróleo no terceiro trimestre: 2,2 milhões de barris/dia, a maior produção da história da empresa.

Lembrei de um gráfico que vi em 2013 no site da Petrobras, que previa a duplicação da produção de petróleo até 2020. Procurei nos meus arquivos e encontrei (tenho por hábito guardar essas “previsões” para depois conferir). Era o tempo da “Petrobrás Grande”, em que o pré-sal era o nosso passaporte para o futuro e a Petrobras carregaria o Brasil nas costas.

Bem, o resto é história.

No gráfico abaixo comparo a previsão com a realidade. Hoje produzimos apenas 10% a mais de petróleo do que em 2013. Muito, mas muito distante da promessa de 4,2 milhões de barris. O pré-sal já representa 60% da produção, o que significa que os outros poços deixaram de produzir. Ficamos patinando por anos em 2 milhões de barris, e só recentemente a produção parece querer mudar de patamar.

A Petrobras foi vítima de rapina e de políticas equivocadas, como o congelamento dos preços dos combustíveis, a exigência de conteúdo nacional de seus fornecedores, a obrigação de participar de todos os leilões com, no mínimo, 30% do investimento e a construção de refinarias superfaturadas. O resultado foi o de alcançar, orgulhosamente, o posto de empresa mais endividada do mundo, sem a mínima capacidade de investimento.

A previsão de produção de 4 milhões de barris/dia foi uma de tantas previsões que naufragaram na incompetência e em visões pré-históricas de como funciona a economia e os negócios. Por isso, fico possesso quando leio “economistas do outro lado” pontificando sobre as “saídas” para a crise. Uma crise criada pelas suas belas teorias aplicadas ao dia-a-dia dos coitados dos brasileiros.

Sempre que você ouvir algum economista defendendo o Estado como “indutor” do crescimento, lembre-se do gráfico abaixo. E não se deixe enganar pelo embusteiro.

Mulheres no espaço

Na copa do escritório, assistindo à Globo News.

As apresentadoras, muito contentes, dão a notícia de que a NASA está realizando o primeiro passeio espacial somente com astronautas mulheres.

Comigo na copa, duas mulheres.

A primeira, mãe e profissional bem sucedida, diz: “mas o que tem a ver isso? Que bobagem. Esse mundo tá muito chato”.

A segunda, a copeira do escritório, responde: “concordo. Não tem nada a ver”.

Eu, de minha parte, respeitei o lugar de fala e fiquei quieto no meu canto.

Alto preço

Extraído do jornal O Estado de São Paulo

Entrevista com FHC sobre o lançamento de seu último livro com anotações do seu tempo na presidência, que cobre o período de 2001-2002.

O jornalista pergunta a respeito do “alto preço” que representaria a eleição de Lula, mencionado por FHC no livro. Mas, ao invés de perguntar qual seria este alto preço, fecha a pergunta: o “alto preço” seria o governo Bolsonaro?

A pergunta poderia ser fechada de várias formas. Por exemplo: o alto preço seria a corrupção desbragada? Ou, o alto preço seria a maior recessão da história do Brasil? Ou ainda, para um jornalista com alguma finesse de raciocínio, o alto preço seria a destruição das instituições tão arduamente construídas em torno do Real?

FHC poderia ter sido grosso, e responder para o jornalista: “olha, meu filho, fui um bom presidente, mas longe de ser um Nostradamus a ponto de adivinhar que Bolsonaro seria eleito 16 anos depois como resposta às cagadas do PT”. O ex-presidente prefere se eximir de responder qual seria este “alto preço”, e pega a deixa do jornalista para falar de Bolsonaro. O fechamento da pergunta no atual presidente livra a cara de FHC de ter que criticar Lula.

Convém frisar: para o jornalista, o “alto preço” que o país pagou não foi a roubalheira ou a depressão econômica. O alto preço foi a reação da população a essas coisas, foi a eleição de Bolsonaro. É do balacobaco.

O vexame foi dos “analistas”

Bem, ontem o Brasil foi eleito para o Conselho de Direitos Humanos da ONU.

Há coisa de dois meses, escrevi um post comentando uma reportagem (logo abaixo) que colocava em dúvida as chances do Brasil nessa eleição. Segundo “círculos da ONU”, a Venezuela estava tranquila e o Brasil poderia ter menos votos do que o país que mantém presos políticos e passa com tanques sobre manifestantes nas ruas. Seria um vexame.

Anteontem, baixou o “pânico”: a Costa Rica havia se candidatado para ser uma alternativa à Venezuela, mas poderia acabar roubando a vaga do Brasil.

Resultados apurados, o Brasil ganhou a indicação de lavada. Poderia ser ainda maior, não fosse a entrada da Costa Rica na última hora. Não que seja motivo de orgulho: afinal, um Conselho de Direitos Humanos que tem a Venezuela como membro (que vai substituir Cuba!) não é que vá defender os direitos humanos, não é mesmo? Mas, pelo menos serviu para mostrar que o jornalismo local precisa escolher outros “círculos da ONU” para se informar sobre o que anda acontecendo pelas bandas de Nova York.

Desigualdade

Parece que é o maior índice de Gini já registrado na série histórica, se a matéria estiver correta.

Serão horas e horas de debate na Globo News hoje, com os comentaristas pontificando sobre as mazelas da desigualdade.

Não é por falta de “iniciativas governamentais” que somos um dos países mais desiguais do mundo. Há, na verdade, toneladas delas. A Constituição Cidadã desenhou o paraíso na Terra.

A reportagem também destaca as desigualdades regionais. A renda do Sudeste é mais que o dobro da renda do Nordeste. Também não é por falta de “incentivos governamentais”. Bancos e agências de desenvolvimento abundam no Nordeste.

A solução, é óbvio, passa pelo aumento da produtividade da população brasileira. A desigualdade aumentou nos últimos anos de recessão porque quem perdeu o emprego foram as classes mais baixas. O desemprego é de 11%, mas isso é só uma média. Nas classes D e E o desemprego é muito maior. Por um motivo simples: são trabalhadores menos produtivos. E, em uma recessão, você precisa fazer mais com menos. É óbvio que, nesse contexto, ocorre concentração de renda.

Não será com incentivos governamentais ou bolsas-auxílio que se resolverá o problema da desigualdade no Brasil. Pode-se até continuar com esses programas como uma forma de mitigar o sofrimento dos mais carentes. Mas erigir essas políticas (assim como o aumento da salário-mínimo na canetada) como O fator que vai resolver a desigualdade é enganar o povo. Tanto é assim, que atingimos o maior índice de desigualdade de renda da história após 30 anos da Constituição Cidadã e quase 15 anos de bolsa-família. Até quando o Brasil continuará neste auto-engano?

A única forma de diminuir a desigualdade de renda é aumentando a produtividade média da população. E isso só vai acontecer quando se investir a sério na formação de capital físico e humano. Qualquer outro “remédio” só servirá para aumentar a desigualdade no longo prazo. Essa é a experiência brasileira.

Hard Drive

Em tempos de Google Drive, Dropbox e iCloud, quem mantém cópias de documentos importantes somente no hard drive de um computador, que pode quebrar de um momento para o outro? É o equivalente digital de guardar dinheiro em casa.

Respeito à jurisprudência

Os editoriais do Estadão são absolutamente insuspeitos na defesa intransigente do Estado Democrático de Direito e no respeito à Constituição. Muitas vezes discordo de seus posicionamentos à respeito da atuação da força-tarefa da Lava-Jato.

O editorial de hoje, sobre a posição do STF a respeito das prisões após condenação em 2a instância, está irretocável. Representa minha última palavra sobre o assunto.

Universidades na China

Trecho de um artigo sobre a procura de cursos de português nas universidades chinesas.

Na China só tem universidades públicas. Mas são pagas.

Esse é um modelo fracassado. Basta ver a imensa vantagem tecnológica do Brasil em relação aos chineses, graças ao nosso sistema de universidades públicas gratuitas, o que garante a nossa “autonomia universitária”.

Quando a China finalmente tornar-se um país comunista, certamente adotará o nosso sistema de universidades públicas gratuitas.