Tamanho do parlamento
O parlamento italiano aprovou uma redução do número de congressistas. Agora são “somente” 600, ou 10 para cada milhão de habitantes.
Sebastian Piñera está propondo a redução do número de congressistas para 160, o que dá 8,9 para cada milhão de habitantes.
Nos EUA, a relação é de apenas 1,6 congressistas para cada milhão de habitantes.
No Brasil, temos 2,8 parlamentares para cada milhão de habitantes. Pelo menos nesse quesito, o Brasil aparentemente tem números razoáveis. Sem entrar no mérito dos gastos de cada Parlamento.
Ataques ao Teto de Gastos
Está se formando o ambiente para a revisão da Lei do Teto de Gastos. Economistas ortodoxos, como Fábio Gianbiaggi e Cláudio Adilson defendem alguma revisão buscando preservar investimentos. Na carona, economistas da escola “gasto é vida” esfregam as mãos.
O Teto de Gastos é o Plano Real da dívida pública. A lógica deveria ser a seguinte: se não dá para fazer investimentos, vamos reduzir os outros gastos para aumentar o espaço para os investimentos. Caso contrário, a dívida pública (de 80% do PIB!) não vai diminuir nunca. Na verdade, vai continuar aumentando.
Os dois economistas autores de um artigo publicado hoje no Valor (O retorno dos bonds vigilantes) defendem a tese de que tanto faz o tamanho da dívida, o que importa é o apetite dos investidores externos. Se o apetite for bom, os investidores virão, independentemente da situação fiscal. E, ao reverso, se o apetite for ruim, eles irão embora, mesmo que tenhamos feito a lição de casa.
Isso é verdade, mas só até certo ponto. Países que não fazem sua lição de casa sofrem mais em uma crise internacional do que aqueles que fizeram. Todos sofrem, é verdade, mas uns mais do que os outros. Como dizem, é na hora que a água baixa que vemos que está nadando pelado. Então, não é indiferente fazer ou não a lição de casa. A Argentina que o diga.
O Teto de Gastos é aquela promessa de afastamento total da bebida por parte do alcoólatra. “Beber só essa dose”, como propõem alguns economistas ortodoxos, é a receita para a recaída. Enquanto não nos convencermos de que enough is enough em termos de gastos públicos, vamos nos arrastar em meias soluções que não solucionam nada, e só criam mais problemas para o futuro.
O conhecido e o desconhecido
Conhecemos somente 5% do universo. Os outros 95% são “matéria escura” misteriosa.
Obviamente, esses 5% não passam de um chute. Se não temos ideia do que não conhecemos, não é possível determinar quanto representa o que já conhecemos em relação ao todo. Serve como figura de linguagem: conhecemos muito pouco do Universo. Assim como conhecemos muito pouco sobre a vida, o cérebro humano e tantas outras coisas.
A humanidade é uma criança que aos poucos vai abrindo os olhos para a realidade do Universo. E, como toda criança, acha que sabe tudo, que conhece tudo.
Se o nosso conhecimento do Universo físico é ainda limitado, muito mais desconhecido é o Universo moral. O certo e o errado, o bem e o mal. A humanidade tateia em busca de respostas para os grandes problemas das decisões morais. Se conhecemos 5% do Universo físico, o nosso conhecimento do Universo moral não deve passar de 1%.
Deus é este ser que “explica” o que nos falta conhecer. Quando conhecermos 100% do Universo físico e moral, seremos o próprio Deus. Aliás, esta foi a promessa da serpente a Eva, ao oferecer o fruto proibido: “sereis como deuses”. Ainda hoje estamos em busca do cumprimento da promessa. Algum dia chegaremos lá? Ou trata-se do golpe de um estelionatário, que prometeu o que não pode entregar? Este é mais um mistério.
Partidos
FHC e Lula, só para citar os últimos dois presidentes que, a exemplo de Bolsonaro, tiveram luz própria, sempre foram homens de partido. PSDB e PT foram fundados por ambos, e não se consegue imaginar suas histórias políticas desvinculadas de seus respectivos partidos.
Bolsonaro, por sua vez, sempre foi um lobo solitário. Típico representante da geleia real que é o sistema partidário brasileiro, o presidente passou por 8 partidos diferentes antes de chegar ao seu 9o, o PSL.
Vale lembrar a dificuldade do então candidato de encontrar uma sigla que abrigasse a sua candidatura. Ao contrário do que poderia se imaginar, o capitão não foi disputado a tapas por partidos nanicos, o que se poderia esperar quando se tratava de um dos favoritos na disputa eleitoral. Por que?
A resposta é relativamente simples: cada um desses partidos têm um dono, e havia plena consciência de que Bolsonaro e sua entourage estavam procurando um hospedeiro que pudessem controlar. Qualquer crescimento advindo de uma vitória nas eleições seria uma vitória de Bolsonaro, não do partido. Ser hoje o maior partido no parlamento não faz do PSL um partido grande, mas antes um partido inchado, que se esvaziará num estalar de dedos do presidente.
Os dirigentes originais do PSL estão sofrendo aquilo que os dirigentes dos outros partidos nanicos que recusaram a candidatura Bolsonaro anteviram: na impossibilidade de controlar o hospedeiro, saem batendo a porta. E o partido, depois de um grande desgaste, volta ao seu tamanho original.
Só existe um partido do governo, o PB, Partido de Bolsonaro. O resto é só sopa de letrinhas.
Surpresa positiva
O Senado vai aprovar o adiamento do prazo para pagamento de precatórios por parte de Estados e Municípios, de 2024 para 2028.
Mas há uma “surpresa positiva” para o País: as pessoas físicas serão preservadas, e receberão o dinheiro devido pelo Estado até 2024.
S U R P R E S A P O S I T I V A.
Surpresa positiva teríamos se o Senado pegasse fogo com todos os senadores lá dentro.
Calma gente, eu não desejo isso não, foi só uma hipérbole semântica.
Competição desleal
Já disse aqui em outra ocasião: só vou levar a sério essa história de transgênero disputar competições na categoria auto-declarada quando uma ex-mulher competir em liga masculina. Enquanto isso, vou continuar achando que se trata de um modo fácil de levar vantagem.
O FGTS e a política
A Caixa cobra 1% ao ano para gerir R$ 500 bilhões. Está propondo reduzir para 0,8%. Muito bonzinhos.
Faça uma concorrência qualquer, tosca mesmo, e vão chover propostas de administração com taxas de um décimo (ou menos) do que é cobrado hoje. Este é o tamanho da tunga que os cotistas do FGTS (nós) levamos ao conviver com o monopólio da Caixa.
O presidente da Caixa quer nos convencer que, quebrando o monopólio, os preços vão aumentar, não diminuir. Seria um case a ser estudo nos cursos de microeconomia, onde o aumento da competição aumenta os preços.
Como qualquer bom político que quer manter o seu naco de poder, Guimarães usa o Norte/Nordeste como escudo para manter um privilégio inaceitável. A ausência de agências dos grandes bancos nas cidades da região poderia ser facilmente contornável com uma parceria do tipo “banco postal”, ou mesmo com a própria Caixa. Ainda sobraria muita taxa de administração.
A defesa que Pedro Guimarães faz do monopólio da Caixa no FGTS e o tipo de argumento que usa não deixa margem a dúvidas: o presidente da Caixa está preparando a sua entrada na política. E os cotistas do FGTS? Que continuem pagando pela ineficiência.
Gasto com servidores
Esse gráfico diz tudo e não esconde nada.
O mesmíssimo gráfico poderia ser feito comparando-se os gastos com Previdência em relação ao PIB e o número de idosos em relação à população total. Veríamos o mesmo tipo de distorção.
A fonte dessas distorções, no entanto, é diferente: enquanto na Previdência o gasto é alto porque as pessoas se aposentam cedo demais, no caso do funcionalismo público o gasto é alto porque os salários são muito altos em relação à massa salarial do país.
No Brasil, 76% dos servidores ganham acima de R$ 6 mil/mês, comparado com apenas 9% da população brasileira como um todo. Servidores ganham bem, não podem ser demitidos e até outro dia se aposentavam com o salário integral. Não é preciso ser expert em finanças públicas para sacar que a conta não fecha.
O Estado brasileiro foi sequestrado pelas corporações. Enquanto não libertarmos o refém, vamos continuar cortando o cafezinho e a luz das repartições públicas para tentar conter os gastos do Estado.