Decisões

O problema de qualquer processo decisório é que não sabemos com certeza o resultado de nossas decisões. Isso é o óbvio, mas às vezes não custa lembrar, principalmente nesses tempos de decisões que valem a vida de milhões de pessoas.

Temos, como humanidade, uma escolha pela frente: deixar morrer milhões de pessoas sem atendimento hospitalar, ou deixar que a atividade econômica colapse, provocando o caos social?

Em primeiro lugar, a própria formulação do problema já é em si um encaminhamento da solução. É diferente dizer que irão morrer milhares ou milhões de pessoas. Assim como é diferente dizer que entraremos em uma recessão econômica ou em uma depressão que nos jogará de volta à idade da pedra. Os que defendem um ou o outro lado formularão o problema de forma a não deixar dúvida sobre a solução a ser adotada. Afinal, quem, em sã consciência, deixará morrer milhões de pessoas? Ou quem quer viver em uma sociedade que se desmancha, sem lei e sem ordem?

O problema é que tanto um cenário quanto o outro são incertos. Talvez não morram milhões de pessoas. Com algum cuidado, talvez morram milhares com os devidos cuidados médicos, o que estará dentro do que se espera de uma pandemia. Talvez não entremos em uma era de convulsões sociais. Com a dose certa de incentivos e uma rede de solidariedade, talvez enfrentemos apenas mais uma recessão, aliás muito mais leve do que a que tivemos nos anos Dilma.

Cuidado, portanto. Não deixe que a formulação do problema influencie a sua decisão. A formulação traz em si uma hipótese a ser provada. Aceitar a formulação como uma verdade absoluta pode levar a decisões falhas.

E o que fazer, então? Hoje, eu sinceramente não sei. Mas intuo que a solução se auto-imporá dentro de pouco tempo, quando as verdadeiras consequências, e não suposições, começarem a aparecer. Se as condições de quarentena forem abrandadas e o número de mortes subir de maneira exponencial, será necessário entender como a sociedade reagirá a isto. Por outro lado, se as condições de quarentena se estenderem no tempo e sinais de comoção social começarem a surgir, também será necessário entender como a sociedade reagirá a isto. No final do dia, será a opinião pública a tomar a decisão, os governantes serão apenas os executores.

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