Olá amigos! Estive um pouco ausente nos últimos dias, pois outras prioridades avançaram sobre o meu tempo. Não sei se vou conseguir postar com a mesma frequência daqui pra frente, mas sempre que sobrar um tempo, vamos abordar assuntos interessantes.
Aproveito para renovar os gráficos de casos/óbitos, comparando o Brasil com EUA e Europa. Estes gráficos sempre traziam a média móvel de 3 dias, mas acrescentei também a média móvel de 7 dias. Com o tempo, foi ficando cada vez mais claro que existe uma sazonalidade semanal na publicação dos dados, provavelmente porque o pessoal trabalha a meia-bomba no fim de semana. Esse é um fenômeno global, não é só no Brasil. Então, quando se calcula a média móvel de 7 dias, se obtém quase uma reta quando existe uma tendência clara.
Podemos observar no gráfico dos casos diários que o Brasil já ultrapassou a Europa no mesmo ponto do ciclo em número de novos casos diários/capita, e deve alcançar os EUA em alguns dias. Ainda estamos a 80% do pico da Europa e a 50% do pico dos EUA. No caso dos óbitos diários, ainda não atingimos o mesmo número de óbitos/capita da Europa/EUA no mesmo ponto do ciclo. Estamos a cerca de 50% do pico dessas duas regiões.
Mas o que eu quero chamar a atenção é para a peculiaridade da curva brasileira em relação às curvas no hemisfério norte. Aqui, o crescimento está sendo bem mais lento, mas o pico será atingido bem mais tarde. Enquanto o pico dos óbitos diários na Europa/EUA foi atingido por volta do 50o dia após o 150o caso, no Brasil já estamos no 64o dia, e nada do pico ser atingido. Aliás, essa é uma característica da América Latina como um todo, que merecerá estudos posteriores. Por enquanto, vamos apenas analisar o fato em si.
Na verdade, não dá para dizer que o Brasil não atingiu o pico. Pode ser que estejamos exatamente no pico. Só saberemos isto daqui a uma ou duas semanas. De qualquer forma, isso nos coloca diante de um problema complicado: como não podemos tomar EUA e Europa como benchmarks, não temos como fazer projeção alguma. Tudo pode acontecer. Pode ser que estejamos já no pico, ou pode ser que o pico esteja daqui a um mês, dois meses ou quatro meses. Ninguém realmente sabe, ninguém tem um modelo que possa fazer essa predição. O único que tínhamos, que era o comportamento da Europa ou dos EUA, já ficou duas semanas para trás.
Aqui entra o quadro apresentado pelo ministro da Casa Civil, Braga Neto, ontem (também em anexo). Este quadro procura mostrar que o Brasil não é a Europa: aqui tivemos muito menos óbitos do que lá. Bem, ainda bem que tiveram o cuidado de colocar a palavra “fotografia” no título do quadro. Isso é, realmente, só uma fotografia. O “filme” está nos gráficos anteriores: estamos com óbitos diários em ascensão, enquanto Europa e EUA estão em declínio.
Fiz um exercício simples, comparando Brasil e Espanha, um dos piores casos da Europa. Considerei que o número de óbitos no Brasil continue crescendo a 4,7% ao dia, enquanto o número de óbitos na Espanha continue decrescendo a 3,4% ao dia. Estas são as taxas médias dos últimos 7 dias em ambos os países. Se isto for verdade, ultrapassaremos o número de óbitos da Espanha daqui a 45 dias (segundo barra vertical. A primeira indica o dia apresentado na tabela do governo). Um mês e meio. Final de junho. Seriam 600 mortes/milhão, o que daria um total de 127 mil óbitos. Isso, em 3 meses e meio da pandemia no Brasil.
Claro, isso é só uma simulação, assumindo algumas premissas que podem não se realizar. Pode muito bem ser que estejamos no pico, ou próximo a ele. Não sei exatamente porque estaríamos, mas tudo bem, podemos estar. Mas também podemos não estar. Enquanto não tivermos certeza de onde estamos, talvez fosse melhor segurar as tabelas comemorativas.