Politização e realidade alternativa

Politizou? Politizou.

Mas vamos imaginar uma realidade alternativa.

Nessa realidade alternativa, o governo federal atua de maneira diligente em busca da vacina. Além de patrocinar o convênio da Fiocruz com a AstraZeneca e comprar uma parcela tímida do consórcio COVAX, encampa a iniciativa de São Paulo, assumindo a coordenação desde o início. E, principalmente, adota uma postura pró-vacina, não detonando a iniciativa. Quem acompanha as redes bolsonaristas, sabe de quanto ceticismo foram vítimas as vacinas de maneira geral e a Coronavac de maneira particular. As falas do presidente não deixam dúvidas com relação a isso.

O governo federal preferiu atuar como concorrente dos estados, não como parceiro. Na verdade, como um sabotador da vacina. A realidade alternativa até deu uma colher de chá em outubro, quando o Ministério da Saúde se comprometeu a adquirir os lotes de Coronavac produzidos pelo Butantan. Mas Bolsonaro preferiu continuar antagonizando, e desautorizou o seu ministro da saúde. A partir daí, a realidade seguiu o seu curso.

Quando viu que a vaca da vacinação nacional estava indo para o brejo, o Ministério da Saúde tentou uma última cartada, mandando um avião para a Índia em busca da vacina da AstraZeneca. Um papelão. Não satisfeito, deu uma ordem para que São Paulo entregasse toda a produção imediatamente, como se Doria fosse um ginasiano assustado com o berro do professor.

Tendo frustrada a derradeira tentativa de evitar que o governador de São Paulo saísse na foto, o ministro da saúde conseguiu protagonizar o maior papelão de seu já deveras longo mandato, ao chamar uma coletiva não para comemorar a aprovação das vacinas, mas para passar recibo de perdedor, em uma competição que só interessa a Bolsonaro e Doria.

Doria politizou a vacina, sem dúvida. Mas é dele a única vacina brasileira aprovada e disponível até o momento. Na realidade alternativa, o espaço para politização da vacina por parte de Doria seria bem menor, pois o protagonismo seria do governo federal. Mas Bolsonaro preferiu jogar um jogo que não tinha como ganhar, pois nunca trabalhou com seriedade para isso.

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